Quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024 - 14h32
Quando jovens, muito comumente
pensamos e sentimos que somos imortais; e não pensamos na velhice, na morte;
que é bom e ruim.
No meu atual ciclo de vida, entrei
na década dos 50 anos de idade, pego-me pensando sobre o envelhecer, que como
tudo possui aspectos legais e não tão legais, positivos e negativos; por isso
decidi falar um pouco sobre isso este mês.
O etarismo, também conhecido como
discriminação etária, refere-se à prática de julgar ou discriminar indivíduos
com base em sua idade, afeta os jovens e os mais velhos, aqui focarei mais
nestes últimos.
As causas desse fenômeno são
multifacetadas e podem incluir estereótipos culturais enraizados, preconceitos
sociais, a busca pela juventude idealizada, crenças como idosos não podem
trabalhar, idosos são frágeis e não conseguem resolver suas necessidades
básicas, os mais velhos nada tem a contribuir etc.
O preconceito afeta a saúde mental da pessoa porque
ela tende a ficar em isolamento, não se sente confortável no ambiente onde ela
é basicamente rejeitada por ter mais de 60 (sessenta)anos de idade, isso pode
inclusive levar à depressão, vez que a pessoa pensa em fazer algo, porém
interioriza isso e muitas vezes pode não sentir coragem de externar o que
realmente pensa e sente; especialmente aqueles que tem parcos recursos.
Enquanto jovens adultos podem
receber salários mais baixos, por serem considerados menos experientes, as
pessoas mais velhas podem ter problemas para conseguir promoções ou encontrar
trabalho. Isso tudo afeta diretamente a dignidade dessas pessoas; pois a levam
para uma má qualidade de vida.
Lembremos de algumas leis que
protegem o idoso a exemplo do Artigo 96 da Constituição Federal, que aliás
muita gente desconhece e dispõe que “Discriminar pessoa idosa, impedindo ou
dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao
direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao
exercício de cidadania, por motivo de idade: Pena – reclusão de 06 (seis) meses
a 1 (um) ano e multa. Existe também o Estatuto do idoso que o protege e há um
projeto de lei nr 3.549/203 – Câmara dos Deputados que preceitua que o etarismo
é a discriminação praticada contra indivíduos ou grupos de pessoas com base em
estereótipos associados à idade.
Uma das formas de combater esse
preconceito etário é conscientizar a população sobre os problemas que ele pode
criar, aliás desnecessariamente, pois com relação aos mais velhos, eles possuem
enorme experiência de vida, privilégio que nem todos teremos, essas pessoas
podem ter uma “bagagem “que muito pode agregar em qualquer cenário pessoal e/ou
mercadológico.
Lembremos do filme “Um senhor
estagiário”, um dos aspectos principais é a união de gerações, a ideia de que a
experiência e a juventude podem coexistir e se complementar. Ben, com sua
experiência e calma, se contrapõe à agitada e moderna realidade da startup de
Jules.
O fato é que pelo menos no meu
entorno vejo as pessoas viverem por muitos e muitos anos, com uma saúde mental
e lucidez invejáveis, para terem uma ideia agora dia 03/02/24 fui convidada
diretamente pela aniversariante, minha tia Reny, para o seu aniversário de 95
anos de plena elegância , lucidez e sabedoria, dia 17/02/24 fui convidada para
os 90 anos da Tia Maura, mãe de um amigo querido, minha sogra com 83 anos é
lúcida, minha tia Neter com 94 anos, minha tia Dirce com 91 anos, cheia de
opinião, bonita, arrumada, voz firme e acompanha as mídias sociais; e tudo isso
pertinho de mim para testemunhar a longevidade dessas mulheres.
O nosso país além de ter que olhar
para a melhora de muitos aspectos a exemplo da educação, acabar com a corrupção,
da melhora da malha logística do país, precisa também criar ferramentas, meios
de melhorar também a qualidade de vida dos idosos, promovendo atividades
culturais, acessibilidade, cursos, grupos, programas voltados para eles, assim
como outros países já o fazem há muito tempo a exemplo da Suiça, Noruega,
Suécia, Alemanha dentre outros.
Interessante abrir um parêntese
para falar sobre como o idoso é visto no Japão, a velhice é sinônimo de
sabedoria, a cultura do idoso oriental têm como tradição cuidar bem e
reverenciar os idosos, fruto de aspectos milenares em que dignidade e respeito
são valores cultuados por eles.
Vamos parar e pensar antes de
expressar frases como “Você não tem mais idade para isso”, “Você não aparenta
ter essa idade”, “Depois de certa idade”, “Você está bem/ bonita para sua
idade”, dentre outras; que só tem como finalidade colocar as pessoas para
baixo.
E para finalizar compartilho que
essa semana em que vi meu padrinho partir com 77 anos e também celebrei os 60
anos de uma amiga querida, pude trocar com minha amiga desde a adolescência
várias coisas importantes sendo uma delas a reflexão relacionada ao fato de que
quanto mais avançamos na caminhada da nossa vida devemos buscar sabedoria para
nos adaptar aos diferentes ciclos e momentos de nossas vidas, simplificar nossa
vida como um todo inclusive avaliando sobre o que precisamos e o que não
precisamos material e espiritualmente em nossas vidas e lutar para manter ao
máximo nossa autonomia e independência.
Abraços e boas reflexões para
todos. Como diz Oswaldo Montenegro “Se puder, envelheça”: .... ficar velho é
sacar nossa própria desimportância”. Algo importante de pontuar em um mundo
onde as pessoas têm uma vaidade, arrogância e falta de sabedoria implacáveis e
destrutivas para consigo e para com os outros.
* por Viviane Gago, advogada e consteladora pelo Instituto de
Psiquiatria da USP (IPQ/USP) com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e
facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Mais informações no site
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