Domingo, 10 de abril de 2022 - 11h39
“Nunca duvide de que um pequeno grupo
de cidadãos reflexivos e comprometidos pode mudar o mundo; na verdade, é a
única coisa que tem conseguido.”
Margareth Mead
Maquiavel definia o Estado como uma
obra de arte – algo com nuances que nem todos são capazes de perceber. No
Brasil, a sociedade ainda não percebeu – ou pior – desconhece a importância que
o tema militar deve suscitar na política.
Mesmo hoje, são raros os cidadãos que
dominam os assuntos militares, e outros bem poucos que lhes atribuem o devido
valor.
Agravou-se o quadro nos últimos
sessenta anos, quando passamos a assistir uma narrativa acadêmica de massiva
desinformação de cunho ideológico, recheada por um revanchismo disfarçado de
defesa dos princípios democráticos, com oportunas adesões de políticos de
ocasião contra qualquer menção de militares na política.
Passados quase quarenta anos do
regime militar, persistem ideias infundadas de associar nossas Forças Armadas
ao autoritarismo e à desobediência constitucional, além de variadas tentativas
de desqualificar as competências de seus integrantes como cidadãos.
Ocorre que no Brasil, diferentemente
dos demais países da América Latina, os fatos históricos - e fatos são teimosos
- comprovam estarem nossas Forças Armadas estreitamente ligadas às liberdades e
à democracia, desde os primórdios da nação.
Talvez pela ausência de grupos
políticos capazes de suportar o estamento institucional, ou na falta de um
núcleo hegemônico na sociedade com o devido poder de influência, até o presente
nossas Forças Armadas têm sido protagonistas de peso na organização política
brasileira.
A circunstância peculiar dos
militares brasileiros ocasionalmente tomarem para si a responsabilidade de
influir nos destinos do País tem origem anterior à Independência.
Em uma época de poucas luzes, a
fundação da Academia Real Militar, em 1810, proporcionou capacitação de nível
superior ao Exército recém-nascido, o que garantiu a ascensão profissional dos
seus quadros por mérito, e não mais apenas pela origem aristocrática.
Assim, os militares brasileiros
desenvolveram condições intelectuais de maior influência política nos gabinetes
do Império, cultivando as sementes das ideias democráticas americanas e
europeias, que a partir daí jamais deixariam de fazer germinar, quando das
crises.
Mais interessado na união nacional do
que em servir a uma ideologia, ou a um caudilho, o Exército uniu-se aos
políticos e forçou o Imperador D. Pedro I a abdicar em abril de 1831, dando
início a uma série de intervenções patrióticas desprovidas de ambições pessoais
de poder, aspecto que distingue os militares brasileiros, até hoje.
O Segundo Império conviveu com
notável supremacia do poder civil e crescente profissionalização dos militares.
Motivados pela recusa histórica do Exército em dividir o nosso território, eles
combateram sucessivas sublevações internas e conflitos externos, para garantir
a manutenção da unidade política do País.
Vitorioso na Guerra do Paraguai e
desprestigiado pelo Imperador, inclusive como força política, o Exército
proclamou a República em 1889, inaugurando um protagonismo nos destinos da
nação que se estenderia por todo o século seguinte.
Nas primeiras décadas da República, o
zelo dos militares para com o cenário político caracterizou-se pelo critério
democrático de jamais promover um ditador, viabilizando inclusive o revezamento
no poder de líderes civis.
Entretanto, percebendo que a política
nos quartéis prejudicava o desempenho profissional e trazia sérios prejuízos
para a hierarquia e a disciplina, o Exército forjou o ideal militar brasileiro
em torno de um apolitismo pragmático, até hoje existente. O espírito de corpo
das nossas
Forças Armadas consolidou-se no
movimento tenentista do primeiro quartil do Século XX, fundamentado na concepção
negativa da política, em particular da política partidária, entendida como
capaz de desagregar a instituição, ser nociva à profissão e corromper o
patriotismo dos oficiais.
A série de manifestos, rebeliões e
intervenções dos militares brasileiros do século passado, que culminaram no
movimento de 1964, comprovam essa tese, porque apresentam aspectos singulares e
recorrentes, não encontrados em quaisquer eventos semelhantes vividos por
outras nações.
Movidos por uma inquietação
reformista capaz de realizações concretas, tendo como objetivos o
aperfeiçoamento das liberdades e da democracia, nosso Exército manteve-se
sempre em um contexto social coerente, e nada fez sem apoio da sociedade, por
métodos exclusivamente castrenses ou visando uma supremacia militar.
Diferentemente dos currículos bem
mais autoritários dos países vizinhos, nossos militares sempre deram prioridade
à modernização do Estado e permanecem intransigentes quanto à ideia de
entronizar-se pela força qualquer militar no poder.
As Forças Armadas continuam atentas
aos clamores da sociedade brasileira, e trabalhando para conciliar o que muitas
vezes se mostrou inconciliável: a democracia plena com o combate às
oligarquias, ao cartorialismo e à corrupção, num país continental e herdeiro
das mazelas do autoritarismo colonial português.
Na verdade, elas aprenderam a
enfrentar a violência contra as instituições - ou o regime - em batalhas tais
como se apresentam, e não com as ingênuas teses acadêmicas propagadas pelos
românticos, ou os mal-intencionados.
Acordos públicos, pressões privadas e
compromissos secretos têm se mostrado artifícios democráticos suficientes nos
encargos de defesa, e na garantia da lei e da ordem.
Ciosos de seus deveres constitucionais,
os militares brasileiros do Século XXI sabem que o poder militar deve sempre
buscar se valer de atitudes republicanas, antes que de quaisquer precipitadas e
irresponsáveis quarteladas.
Entretanto, nossa gente das armas tem
perfeita consciência que não se muda unilateralmente a natureza de uma guerra –
hoje combatida no campo de uma insegurança jurídica provocada por imprudência e
negligência dos próprios poderes da república – e que a missão de salvaguardar
as liberdades democráticas jamais pode ser descuidada.
Sim, permanece vívida chama do
espírito militar brasileiro.
Por Gen Div Marco Aurélio Vieira
Foi Comandante da Brigada de
Operações Especiais e da Brigada de Infantaria Pára-quedista
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