Terça-feira, 22 de agosto de 2023 - 08h34
O governo
federal lançou (11/8) seu plano de investimentos em infraestrutura, chamado de Novo
PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), com investimentos previstos de R$ 1,7
trilhão até 2026. Segue a linha de um desenvolvimentismo predatório, mas com
várias referências a proteção e conservação ambiental, inclusive com o anuncio
de um Plano de Transformação Ecológica.
Devemos
relembrar algumas experiências negativas nos PAC 1 e 2 que deixaram como
legado, violações de direitos, graves impactos socioambientais, violação de
consulta prévia, livre e informada, subsídios gigantescos, em geral, para
favorecer os combustíveis fósseis, a mineração e o agronegócio.
Para o
Ministério de Minas e Energia (MME) serão alocados recursos públicos e privados
da ordem de R$ 600 bilhões, em mais de 165 projetos. Para a geração
nucleoelétrica, foram destinados R$ 1,9 bilhão para a chamada “modernização” da
usina de Angra I, prestes a completar 40 anos em atividade. Já para a
continuidade das obras de Angra III, e sua finalização, não foram destinados
recursos específicos, apenas o comprometimento de realizar estudos técnicos e socioeconômicos,
e assim, segundo o governo federal, verificar a viabilidade de concluir a obra.
A posição do
governo federal em relação a sua política nuclear, a meu ver, não mudou em
relação aos governos Lula 1 e 2 e Dilma. As forças pró-nuclear, poderosas
defensoras da nuclearização do país, com mais instalações de usinas nucleares e
mais mineração de urânio, continuam majoritárias no núcleo decisório do atual
governo; além dos interesses militares que não devemos descartar.
Lamentamos o
fato que não são argumentos técnicos e socioambientais que prevalecem na decisão
pela energia nuclear, e sim aspectos econômicos, lucros propiciados por um
“negócio”, que utiliza uma tecnologia decadente e rejeitada, em um mundo que
clama por sustentabilidade.
O “lobby”
nuclear mundial prevê que o Brasil seja ponta de lança na América Latina de uma
tecnologia, que além de questionada, está sendo renegada e abandonada.
Interesses
econômicos, estão presentes neste movimento de soerguer a tecnologia nuclear para
produção elétrica, mesmo diante do alto custo da energia gerada, de 4 a 6 vezes
mais cara que as fontes renováveis (Sol, Vento, Biomassa e Água). Sem contar
com o risco de acidentes nucleares desastrosos na própria usina (Three Mile
Island, Tchernobyl, Fukushima) com vazamento de material radioativo para o meio
ambiente. Ou mesmo de material radioativo desviado, e mesmo roubado, utilizado
para fins ilícitos, como o terrorismo nuclear.
Outro aspecto
que merece destaque para rejeitar usinas nucleares é que países que operam ou
que operaram tais usinas não encontraram locais seguros e definitivos para
armazenar os rejeitos produzidos após o uso do combustível nuclear. Atualmente
o lixo nuclear (ou lixo atômico) produzido é armazenado em locais provisórios,
pois o armazenamento permanente é uma questão não resolvida. Restando assim uma
herança maldita para as gerações futuras.
Diante da
diversidade de recursos energéticos renováveis disponíveis no país, é uma
insanidade defender a instalação de mais usinas nucleares no território
nacional.
A medida
tomada em não considerar no Novo PAC, a continuidade das obras de Angra III,
mas sim em realizar estudos sobre a viabilidade econômica e socioambiental do
projeto, visa atender às pressões de grupos que não representam os interesses
da população brasileira. O que se esperava era o abandono completo de uma obra
iniciada no século passado, e que tem sérias restrições de segurança em um
projeto técnico defasado e obsoleto.
Deixar
suspenso o destino de Angra III é dar uma sobrevida a um projeto que há muito
já deveria ter sido abandonado. O próprio Ministério de Meio Ambiente e Mudança
Climática é um grande opositor desta tecnologia, ao lado de grande parte da sociedade
brasileira.
Com relação ao que foi
chamado modernização de Angra I, primeira usina nuclear brasileira que entrou
em operação comercial em 1985, a responsável pelo empreendimento, Eletronuclear,
propôs a extensão da vida útil da usina para mais 20 anos. O licenciamento, na
época, acordou um período de operação de 40 anos, que será completado em 2024. Assim,
caso se concretize este “alongamento” da vida útil da usina, como um novo
licenciamento, ela continuará operando até 2044.
Este
procedimento de “alongamento” da vida útil de usinas nucleares é contestado, em
particular pelo fato do desgaste, da fadiga dos materiais empregados nos
equipamentos, assim aumentando a probabilidade de ocorrência de desastres.
Usinas mais antigas, que chegaram a funcionar até sua vida útil, por prudência devem
ser descomissionadas.
A decisão
sobre a nuclearização do país, com o aumento das atividades de mineração do
urânio, e com a implantação de novas usinas nucleoelétricas, gerando mais e
mais rejeitos, aumentando assim a possibilidade de desastres, não deve ficar
restrita a um pequeno grupo de interessados e interesseiros em simplesmente
fazer negócios. Deve, sim, estar embasada nos interesses maiores da população.
É inconcebível
que em um país democrático, cujo atual presidente afirma a importância da
participação popular nas grandes decisões nacionais, nos destinos do país,
somente um pequeno (mas poderoso) grupo de lobistas, os “nucleopatas”, imponham
a nação uma tecnologia cara, suja e perigosa.
Originalmente publicado
em: https://taniamalheiros-jornalista.blogspot.com
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