Sexta-feira, 20 de outubro de 2023 - 15h10
Começo este artigo com um
pensamento intrusivo, ou seja aquele pensamento que surge sem a nossa vontade e
simplesmente se intromete no meio dos outros pensamentos; e também com
sentimento e até emoções muito bem retratados em uma música que ouvia na
adolescência, “Nada sei dessa vida” (grupo musical Kid Abelha), cujo refrão
diz:
“Vivo sem saber
Nunca soube,
nada saberei
Sigo sem
saber...”
Também cai bem a frase de Sócrates,
“Só sei que nada sei”, uma resposta à mensagem do oráculo de Apolo dada a seu
amigo Querofonte em Delfos, que afirmou que ele era o mais sábio entre os
homens gregos.
Acontece tanta coisa no nosso
entorno que nos leva a refletir sobre os paradoxos que nos envolvem.
Lembremos que o paradoxo pressupõe
contradição, incoerência, incongruência e outras coisas, mas o que quero
ressaltar aqui são pontos importantes para refletirmos e quem sabe nos levar na
direção das boas ações para nós e os outros.
Ontem falávamos uma amiga e eu, que
o homem é capaz de tanta coisa linda, maravilhosa em todos os campos da vida e
ao mesmo tempo é capaz de coisas feias, horrorosas e cruéis. E, sabemos,
existem ótimos exemplos a este respeito.
Hoje, com outro amigo, refletíamos
do perigo de deixar as coisas se acomodarem, sem, de fato, a real estrutura das
referidas coisas estarem arrumadas. Pensamos inclusive que é melhor estar
inquieto, pensando sobre as coisas, do que deixar coisa importante acomodar.
Falando do futuro, falamos de
jovens, e abro aqui um parêntese para dizer que já abordei em artigos
anteriores sobre a geração yolo (You Only live once= Só se vive uma vez).
Uma mentalidade do “agir agora e pensar depois, das experiências da vida em vez
de investimentos de vida, do ativismo e das vidas vivenciadas on-line.
Daí faço a ponte para pensarmos
sobre que tipo de geração é esta que atualmente temos?
Uma geração jovem mais isolada, com
sentimentos de solidão, que pressupõe dor, sofrimento e até rejeição. Em
Portugal 940 mil portugueses, entre 15 e os 65 ou mais anos, vivem sozinhos,
sendo que 8% correspondem a jovens entre 15 e os 34 anos.
O tempo dos pais, segundo o
pedopsiquiatra Pedro Strecht, as crianças passam oito horas na escola, e em
média, estão 2h30 em frente à televisão e os pais dedicam-lhes apenas trinta e
sete minutos por dia.
Também há o efeito da pandemia
nestes jovens, que lidaram com o distanciamento social, com o tema morte de
maneira mais evidente, sendo que geralmente nesta fase de vida se pensa em
imortalidade, vida e muito pouco na morte.
Observa-se com clareza que os
transtornos como ansiedade, depressão e outros estão presentes em toda a camada
social em qualquer gênero e idade.
Pesquisa de Harvard mostra que,
embora tenha se dado à atenção à saúde mental adolescente, um elo crucial tem
sido ignorado; o bem-estar dos pais.
A discussões relativas aos
transtornos mentais e suicídios dos adolescentes no tocante as mudanças sociais
e hormonais típicas desta fase, somadas ao distanciamento da pandemia e os
efeitos das redes sociais, foram ampliadas; porém os problemas de falta de
saúde mental dos pais e mães desses jovens não estão tão fortemente no foco de
atenção. Se os cuidadores estão doentes como podem desempenhar esta função tão
importante?
Acredito que todos nós
testemunhamos no durante e pós pandemia, muitos reencontros e; também
divórcios. Ou seja, famílias se mantendo pelo amor que fora testado e outras
famílias desfazendo-se, tudo com os impactos decorrentes para ambos os lados.
Em dezembro de 2022, duas pesquisas
feitas nos EUA pela Universidade de Harvard, uma com os jovens e outra com pais
e cuidadores identificaram que os pais e os adolescentes sofrem com índices
parecidos de problemas de saúde mental.
A pesquisa estimou que um terço dos
adolescentes americanos tenha ao menos um dos pais sofrendo de ansiedade ou
depressão. E 40% desses jovens se diziam preocupados com o estado mental de
seus pais. E os dados também indicam que adolescentes deprimidos têm cinco
vezes mais chance de ter um pai ou mãe deprimido.
O fato é que estes jovens e pais
depressivos e ansiosos podem ferir uns aos outros de muitas formas.
O paradoxo aqui é que muito
geralmente pessoas que colocam filhos no mundo, quiseram isso, empenharam-se
para isso Por outro lado, agora que estão todos aí, na sociedade, convivendo
neste mundo; ao invés das pessoas estarem cercadas de amor, leveza e
aprendizado mútuo impactando tudo e a todos de maneira benéfica, muitos estão
doentes, sem leveza e com famílias desestruturadas e doentes.
Importante estar consciente para
lutar pelos seres que amamos, observar o perigo das acomodações e ilusões de
que tudo está bem/bom e certo; quando em verdade as coisas estão
desorganizadas, desarrumadas e disfuncionais.
Muitos paradoxos ainda merecem ser
mencionados, porém por ora ficaremos com estes para uma boa e oportuna
reflexão.
E para aqueles que se divorciaram
deixo aqui uma breve mensagem que vi outro dia e que não é de minha autoria,
mas que entendo muito adequada:
DIVORCIADOS?
MAMÃE NÃO ME FALE MAL DO
PAPAI.
PAPAI NÃO ME FALE MAL DA
MAMÃE.
NÃO ESTRAGUEM AS IMAGENS
SAGRADAS QUE TENHO.
O ÓDIO ENTRE VOCÊS PARA MIM
É TRISTEZA, DOR E SOLIDÃO.
JUNTOS OU SEPARADOS VOCÊS
SEMPRE SERÃO MEUS PAIS.
Que rumo tomaremos? Salvação ou Destruição?
*por
Viviane Ribeiro Gago, facilitadora em Desenvolvimento Humano, autora dos livros
A Biografia de uma pessoa comum, Olhares para os sistemas, Advocacia
Corporativa, dentre outros; advogada e mestre em Direito das Relações Sociais.
Mais informações em site
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