Domingo, 16 de outubro de 2022 - 11h19
De 6 a 15 de novembro próximo ocorrerá a 27ª
Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, conhecida
como Conferência do Clima (COP) da ONU. Este ano será realizada no Egito, país
que tem semelhanças no clima e vegetação com o Nordeste brasileiro. Ambos
sofrem com a escassez de chuvas. A vegetação desértica predominante no Egito,
tem do lado brasileiro uma correspondência, a de
possuir uma das maiores áreas do mundo suscetíveis à desertificação, com
extensão de 1,3 milhões de km², abrigando uma população de 31 milhões de
pessoas. Hoje, as áreas desertificadas no Brasil já cobrem uma
superfície em torno de 230 mil km2, praticamente o dobro do tamanho
da Inglaterra.
O bioma Caatinga, predominante no semiárido, é o
quarto maior bioma do Brasil, correspondendo a 11% do território nacional, mas
que já perdeu 53 % da cobertura original. Segundo estudos do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, é um dos biomas mais
vulneráveis às mudanças climáticas, cujas consequências dramáticas já estão se
fazendo notar em todo semiárido.
Feitas as comparações, a COP27 tem como objetivo
debater metas e ações para o enfrentamento das mudanças climáticas, reunindo
representantes governamentais e não governamentais de diversos países do mundo.
As grandes corporações com interesses em petróleo, gás, carvão estarão também
presentes, atuando como sempre fizeram em outras reuniões do gênero, na direção
de dificultar, embargar os acordos necessários para a redução do uso dos
combustíveis fósseis (petróleo e derivados, gás natural e carvão mineral) na
matriz energética mundial.
Nestes quase trinta anos de Conferências do Clima
(COP), as políticas adotadas foram insuficientes para reverter as emissões de
gases de efeito estufa na atmosfera terrestre, nem encontrar soluções eficazes
e estratégicas para a atual situação de aquecimento global, que coloca em risco
todo o planeta. Assim, desastres climáticos em todos os continentes se sucedem.
Mesmo com os acordos e promessas, realizados no
âmbito do mercado, para a redução das emissões de gases, constata-se ano a ano
recordes da temperatura média global do planeta. A cada ano a Terra fica mais
quente. Tal situação está relacionada ao aumento da concentração de gases de
efeito estufa (GEE’s) na atmosfera, majoritariamente pelo uso de combustíveis
fósseis. O setor de energia é a fonte de cerca de ¾ das emissões mundiais dos
gases de efeito estufa, e a transição para fontes renováveis de energia é
inevitável.
Desde a Conferência RIO-92, porém, a ação dos “céticos
do clima”, dos lobistas das corporações de petróleo, gás e carvão, conseguiram
barrar os avanços e a velocidade necessária para evitar o agravamento desta
situação alarmante que nos encontramos hoje. Existe uma grande semelhança nesta
ação dos que são contrários à vida, com o que ocorreu com o poderoso lobby da
indústria tabagista no âmbito da Organização Mundial de Saúde. Retardaram e
criaram obstáculos para medidas que poderiam salvar milhares de vidas. Só
depois que não foi mais autorizada a participação destes promotores da morte, é
que decisões antitabagistas foram tomadas com o rigor devido.
Importantes e decisivos resultados são apresentados
pela curva de Keeling, base de dados referencial para toda discussão sobre o efeito estufa e o aquecimento global. Este gráfico
mostra o acúmulo de CO2 na atmosfera, tendo como base medições contínuas desde
1958 até os dias atuais, pelo Observatório Mauna Loa, na ilha do Havaí. E o que se tem verificado ao longo do tempo é o crescimento
linear da concentração de CO2. No ano de 2021 a concentração já estava em torno
de 420 partes por milhão, enquanto nos anos 60 do século passado, era de 317
partes por milhão de CO2.
Assim, cada vez mais, o debate sobre as mudanças
climáticas coloca de um lado as corporações gananciosas em defesa de seus
interesses econômicos, que lutam contra a redução de emissões de gases estufa;
do outro lado os movimentos sociais que lutam pela vida, por um planeta justo,
ético, plural e, protegendo os ecossistemas naturais. A luta é desigual.
Todavia, a consciência coletiva transformada em prática atuante, poderá pender
a balança para os interesses públicos e da natureza, envolvidos nesta questão que
é de toda civilização.
A transição ecológica-energética necessária para
conter as emissões de gases de efeito estufa não significa apenas passar de uma
sociedade baseada nas fontes de energias fósseis para uma com fontes renováveis.
É uma oportunidade para um debate urgente e abrangente sobre o significado de
viver em uma sociedade capitalista, consumista, predatória e militarista, cujo
pilar de sustentação são os combustíveis fósseis.
Existe muita desilusão e descrédito em relação a
governança mundial no enfrentamento das mudanças climáticas. Os fatos mostram
que os objetivos anunciados pelas COP’s, e os resultados alcançados tem a ver
com este histórico de insucessos. Para a COP27 os resultados já previsíveis e com
certeza insuficientes para enfrentar este fenômeno provocado pelas atividades
humanas.
Assim o engajamento nesta luta, que não é só dos
ambientalistas mais de todos os homens e mulheres de boa vontade, são
fundamentais para a sobrevivência da humanidade que está ameaçada, exigindo a
realização de profundas mudanças no atual modelo civilizatório. O que implica
mudar o modelo insustentável de produção e consumo, e o próprio modo de vida
das pessoas.
O envolvimento e mobilização cada vez maior da
sociedade civil organizada é essencial, e mesmo fundamental para responder
sobre: Qual mundo queremos? Qual o tipo de sociedade almejada?
E aqui ressalto o papel das mulheres como
participante ativa nas escolhas e decisões a serem tomadas. O compromisso,
devido à sua própria condição biológica, de gerar e bem cuidar da vida, são as
verdadeiras condições fundamentais para preservar e conservar o meio ambiente.
Em breve mensagem aos participantes da 27º COP,
diria: ousem nas propostas, definam quem pagará a conta, estipulem metas
globais, e de cada país, e que compromissos assumidos sejam cumpridos. Que os
maiores poluidores tenham maiores responsabilidades. E que a participação dos
que defendem os combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) não seja mais
permitido no âmbito das Conferências do Clima. É um contrassenso esta
participação.
Em todo este processo cabe ressaltar o papel vital
da sociedade civil, em denunciar a falta de efetividade no combate às emissões
de gases de efeito estufa, exigindo outra postura dos governantes no rumo de
limitar o uso de combustíveis fósseis, e
substituí-los por fontes de energia renováveis sem deixar de discutir e
minimizar seus impactos socioambientais, aumentar a eficiência energética dos
processos. Modelos sustentáveis para a extração de minérios, criação de gado, monoculturas,
também deve fazer parte da pauta, pois tais atividades muito contribuem para a
deterioração das condições climáticas.
Não se pode
mais iludir, nem tergiversar, pois o que está em jogo é a vida no planeta
Terra.
A importância de crianças e adolescentes estudarem
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