Terça-feira, 11 de agosto de 2020 - 16h26
O racismo é um dos principais problemas sociais enfrentados
nos séculos XX e XXI, causando, diretamente, exclusão, desigualdade social e
violência. Racismo é a denominação da discriminação e do preconceito contra
indivíduos ou grupos por causa de sua etnia, ou cor. É importante ressaltar que
o preconceito é uma forma de juízo formulado sem qualquer conhecimento prévio
do assunto tratado, enquanto que a discriminação é o ato de separar, excluir ou
diferenciar pessoas ou objetos.
Podem ser
indicados, a esse respeito, dois tipos de racismo: a discriminação racial e o
racismo estrutural. A discriminação é uma forma direta de racismo que acontece
quando um indivíduo ou grupo se manifesta de forma violenta, física ou
verbalmente, contra outros indivíduos ou grupos por conta da etnia, raça ou
cor, bem como nega acesso a serviços básicos e a locais pelos mesmos motivos.
Pense-se, por exemplo, quando décadas atrás, nos Estados Unidos havia até
banheiros separados para brancos e negros.
De
maneira menos direta, o racismo estrutural é a manifestação de preconceito por
parte de instituições públicas ou privadas, do Estado e das leis que, de forma
indireta, promovem a exclusão ou o preconceito racial. Partindo do fato que
mais da metade dos brasileiros é afrodescendente, negros ou pardos, deveríamos
encontrar mais da metade de deputados, senadores, ministros, universitários,
empresários que fossem afrodescendentes. Mas isso não acontece porque historicamente
houve uma exclusão dos afrodescendentes e dos indígenas na sociedade
brasileira. Não podemos esquecer que o Brasil foi o último grande país
ocidental a extinguir a escravidão.
O
preconceito racial não é exclusivo do Brasil, visto que, em maior ou menor
escala, todos os países colonizadores e colonizados apresentam, em algum grau,
índices de preconceito racial contra negros ou, no caso de países colonizados,
contra nativos daquele local. No século XIX, surgiram até teorias científicas
para tentar hierarquizar as raças e provar a superioridade da raça branca pura.
Mas no dia a dia, a título de exemplo, os adjetivos "negro" ou
"preto", ou "índio" são utilizados frequentemente como
indicativos de algo "inferior".
Perguntamos:
nós, como cristãos, devemos nos posicionar sempre contra o racismo? Sim, pois
em todas as culturas, por causa da realidade do pecado, sempre se manifesta a
exclusão dos outros. Eis que o apóstolo Paulo já colocava um importante
princípio para todos os cristãos de todos os tempos: "Não existe nem judeu
nem grego, nem existe mais escravo nem livre, não existe mais homem nem mulher:
porque todos vós sois um só em Cristo Jesus" (Gálatas 3, 28). Estas
palavras da fé cristã, quando são vivenciadas, vão tornar-se ‘luz do mundo’
para que a sociedade possa viver em paz e harmonia.
E, mais
especificamente, quanto ao racismo, gostaria de apresentar um texto de Dom
Zanoni Demettino Castro, arcebispo de Feira de Santana (Bahia). Ele é
afrodescendente e a sua reflexão sobre o racismo se encontra no site da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), com o interessante título: ‘Coisa
de Negro’. Eis, a seguir, as suas palavras:
"Sob
o manto de Nossa Senhora Aparecida os Bispos da América Latina e do Caribe, em
sua V Conferência (no ano de 2007), constataram que a história dos
afrodescendentes ‘tem sido atravessada por uma exclusão social, econômica,
política e, sobretudo, racial, onde a identidade étnica é fator de subordinação
social’ (DAP - Documento de Aparecida, 96). Embora vivamos num novo tempo, numa
nova época em que não se admitem etnocentrismos, xenofobismos e preconceitos,
os afrodescendentes ‘são discriminados na inserção do trabalho, na qualidade e
conteúdo da formação escolar, nas relações cotidianas’. As consequências dos 300
anos de escravidão ainda não foram suficientemente reparadas... Esta realidade
deve ser enfrentada. Como cristãos acreditamos que os valores do Reino de Deus
são imprescindíveis no processo de gestação de um novo modelo cultural, quando
os afrodescendentes irão assumir ‘uma atitude mais protagonista’ conscientes do
poder que têm nas mãos e da possibilidade de contribuírem na construção desse
novo modelo cultural, a nova sociedade, justa e solidária (DAP 75), sinal do
reino definitivo, anunciado e realizado por Jesus Cristo".
A imagem
negra de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, nos lembra que todos
nós, de todas as raças e cores, somos um só em Cristo Jesus.
Lino Rampazzo é Doutor em
Teologia e Coordenador do Curso de Teologia da Faculdade Canção Nova (Cachoeira
Paulista-SP).
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Formei-me em 1958 em Direito na FDUSP e desde o início da década de 60,quando cinco dos atuais Ministros ainda não tinham nascido, atuo perante a Su