Quarta-feira, 9 de dezembro de 2020 - 08h50
Nos últimos dias, um filme
triste passou pela minha cabeça. Para quem morava em Rondônia, o enredo não era
novo, mas para o restante do Brasil foi uma surpresa conhecer o drama de
milhares de pacientes atendidos pelo Hospital João Paulo II, em Porto Velho. Há
nove anos, a história dessas pessoas e as dificuldades dos médicos e de outros
profissionais da saúde para lhes garantirem bom atendimento ganhou destaque no
Jornal Nacional.
Na época, o repórter Hélter
Duarte mostrou seu espanto diante das péssimas condições que encontrou em rede
nacional. Corredores lotados, macas improvisadas, pacientes recebendo soro na
veia na sala de espera da unidade. Será que houve mudança neste cenário caótico
desde então?
Ouso dizer que, apesar das
recorrentes denúncias estampadas nas manchetes dos jornais e mesmo dos
questionamentos feitos por instâncias como o Conselho Regional de Medicina de
Rondônia (Cremero), uma crise de gestão ainda faz morada nessa unidade e em
várias outras que atendem os rondonienses.
O último lance dessa história,
que compromete o acesso da população à saúde no Estado, envolveu a suspensão do
recolhimento de lixo hospitalar no Centro de Medicina Tropical de Rondônia
(Cemetron). Por questões de segurança sanitária, esse procedimento deve ocorrer
de forma atenta às regras definidas pelas autoridades competentes.
Observar esses critérios não é
nada excessivo, mas mandatório para proteger a comunidade dos riscos de
contaminação pelo contato inadequado com os dejetos. Infelizmente, a coisa
certa não vinha sendo feita no Cemetron e nem no Hospital de Base, no Cosme e
Damião e no nosso velho conhecido, o João Paulo II.
Se nestes três últimos
estabelecimentos não havia relatos contundentes de falhas na coleta de lixo,
por outro sobram queixas de falta de insumos básicos, como bisturís e
esparadrapos, o que teria levado à suspensão de cirurgias. Como testemunha ocular
dessa crise que parece não ter fim, expresso minha solidariedade aos cidadãos e
às equipes que se mantêm ativas, independentemente de tantos problemas.
Em Rondônia, a saúde pública
está longe de ser vista como uma prioridade, governo após governo. Nesse caso,
acredito que recursos existem, mas não têm sido destinados da forma idônea que
se espera. Basta acompanhar o noticiário, que repetidamente aponta denúncias de
desvios e irregularidades.
Vamos mudar esse enredo? Vamos
contar essa história de um jeito diferente e fugir de desfechos tão
decepcionantes? É possível fazer isso, não tenho dúvidas.
Para tanto, basta que todos façam sua parte: a população deve continuar a cobrar pelos seus direitos constitucionais; os órgãos de fiscalização, como o Tribunal de Contas do Estado e o Ministério Público, precisam exigir soluções para os problemas apontados; e os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), como os secretários de estado, devem assumir o cuidado da assistência aos cidadãos como tratam daquele de suas famílias: com zelo e responsabilidade. Esse seria o melhor final para esse filme antigo!
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