Terça-feira, 12 de dezembro de 2023 - 11h52
Todo início de ano renovam-se os votos,
as prioridades e as promessas para o ANO NOVO. Especificamente esse ano, não
será diferente, apenas sabemos que temos um O Congresso Nacional, com seus 513
deputados federais e os 81 senadores que tomaram posse no dia 1º de fevereiro,
e que necessariamente terão nova missão para 2024. Acreditamos que eles têm uma
missão histórica e desafiadora: debater, com urgência e profundidade, mudanças
legislativas sobre 10 pontos que vêm sendo ignorados pelo Legislativo e pelo
Executivo, apesar de sua importância fundamental. São questões com capacidade
para transformar o Brasil e mudar para melhor a vida da população, por meio da
redução das desigualdades regionais e sociais, da eliminação de privilégios, do
efetivo combate à corrupção, da valorização da gestão transparente e
responsável, da correção de distorções arraigadas, enfim, de medidas inadiáveis
para recolocar o país na rota do desenvolvimento. São elas:
1 – Acabar com a reeleição para cargos
do Poder Executivo. O modelo atual, vigente desde 1997 por alteração
constitucional casuística, já deu mostras de que não funciona. Isso porque o
governante em seu primeiro dia de gestão já passa a pensar e agir visando à
reeleição. Governos que deveriam ser de coalização se transformam rapidamente
em governos de cooptação, com negociações muitas vezes espúrias e loteamento de
cargos técnicos entre políticos. Se o mandato de quatro anos é de fato curto
para o governante implantar seus projetos, o ideal seria fixar um mandato mais
longo – de cinco ou seis anos, no máximo -, sem possibilidade de um novo
mandato imediato.
2 – Retomada da prisão em segunda
instância. A proibição da prisão de condenado em segunda instância judicial por
decisão colegiada precisa ser revista com urgência. Tal como está, apenas
aumenta na sociedade a sensação de impunidade e alimenta a falsa ideia de que o
crime compensa. Não contribui em nada para o combate à corrupção porque até
permite que gestores públicos condenados por tal crime possam recorrer em
liberdade e se candidatarem novamente a cargos eletivos nos quais praticaram os
malfeitos, retomando, se eleitos, o direito ao foro privilegiado, num círculo
vicioso imoral e altamente prejudicial ao país. E se não for possível a prisão
de segunda instância, no mínimo temos que adotar a Imprescritibilidade dos
crimes contra a administração pública.
3 – Redução drástica do foro
privilegiado. O instituto do foro por prerrogativa de função, criado para
proteger o julgamento de autoridades de cargos específicos e evitar decisões
arbitrárias, transformou-se, no Brasil, em um manto de impunidade. O que
deveria ser exceção tornou-se regra: nada menos que cerca de 55.000 ocupantes
de cargos públicos são beneficiados pelo foro privilegiado, abrangência que não
encontra similaridade em nenhum outro país do mundo. É preciso um corte
drástico, restringindo esse benefício apenas aos presidentes dos Três Poderes,
autoridades máximas na República.
4 – Reavaliação da candidatura de
suplentes. A legislação precisa ser alterada para vedar a participação de
parentes do candidato ao cargo eletivo na mesma chapa, como vice-presidente,
vice-governador ou vice-prefeito, ou ainda como suplente de senador. A
permissão atual possibilita verdadeiros feudos familiares e situações esdrúxulas,
como a esposa ou filho do governante, na condição de vice, assumir o cargo
principal depois do titular do cargo ter sido afastado por corrupção.
Inaceitável.
5 – Despolitização dos tribunais de
contas. É necessário que os órgãos de controle externo – Tribunais de Contas da
União, dos Estados e dos Municípios – tenham todos os seus integrantes
escolhidos mediante concurso público e não mais nomeados livremente (após
aprovação do Legislativo), o que possibilita a políticos ocuparem as cadeiras
de conselheiros, como ocorre atualmente, sem necessidade de comprovação de
conhecimento técnico para a função e carregando velhos vícios da má política.
6 - Remodelação dos Fundos Partidário e
Eleitoral. Custeados com recursos do contribuinte, os Fundos Partidário e
Eleitoral, ambos milionários, necessitam sofrer drástica redução a nível
compatível com as limitações orçamentárias do País para setores prioritários à
população, como saúde, educação, habitação e saneamento básico. Essa situação
exige a redemocratização do acesso os gordos cofres desses fundos, hoje geridos
discricionariamente pelos líderes das legendas, além de buscar maior
transparência na utilização dos recursos, incluindo a publicação prévia dos
valores destinados a cada candidato.
7 – Limitação dos gastos tributários da
União. Os excessivos gastos tributários da União sugam o orçamento da nação, já
limitado. Por isso, precisam sofrer redução substancial, com limitação a até
1,5% do PIB (cerca de R$ 160 bilhões/ano). Isso geraria economia de R$ 296 bilhões/ano
aos cofres públicos. Além disso, os benefícios fiscais somente devem ser
concedidos para correção das desigualdades regionais e sociais, conforme já
estabelece a Constituição (CF Arts. 3º, 43, 151, 155 e parágrafos 6º e 7º do
art. 165). Para a completa moralização desses recursos, é preciso também que
tais benefícios sejam concedidos apenas por tempo limitado, com valores
decrescentes ao longo dos anos. Necessário, ainda, garantir transparência a
respeito dos beneficiários e exigir auditagem periódica – por órgão externo –
para verificação da efetividade de cada renúncia. Outra medida imprescindível é
vetar novos gastos tributários feitos com a renúncia de impostos compartilhados
(IR e IPI), a fim de não prejudicar estados e municípios. Ou, na hipótese de
concessão, que seja obrigatória a compensação com a receita da parcela do IR
pertencente à União.
8 – Redução das desigualdades regionais
e sociais. Para tornar o Brasil um país menos injusto regional e socialmente, o
Congresso deveria aprovar alteração legislativa obrigando a União a destinar
40% do valor de redução dos gastos tributários em ações específicas para essa
finalidade. Isso garantiria R$118,40 bilhões por ano para aplicação obrigatória
em infraestrutura nas regiões norte, nordeste e centro-oeste, para investimento
em educação, e para a correção anual das tabelas do Imposto de Renda Pessoa
Física. Também é necessário exigir a drástica redução da tributação sobre
consumo para 15% da carga tributária (no máximo) e também da tributação sobre a
folha e contribuições sociais (emprego), além de aumentar a tributação sobre
renda e capital, de modo a compensar perdas das receitas com tributação sobre o
consumo.
9 – Revisão do Código de Processo
Penal. É urgente a revisão do Código de Processo Penal para agilizar a
tramitação dos processos, evitar a prescrição e, por consequência, assegurar a
punição. Convém reavaliar os prazos para a conclusão dos inquéritos criminais e
para o Ministério Público analisar o resultado das investigações e apresentar a
denúncia ao Poder Judiciário ou, conforme o caso, requerer o arquivamento. A
morosidade da Justiça brasileira é uma crítica antiga e justificada.
10 – Responsabilização maior dos maus
gestores públicos. Por fim, medida necessária é a fixação de pena de inelegibilidade
(por 10 ou 20 anos) para os governantes condenados por geração de déficit
primário, uma vez que é responsabilidade do agente público zelar pela correta
aplicação dos recursos públicos, sem o comprometimento da receita, notadamente
para gestão subsequente.
Debruçar-se sobre essas 10 questões,
fundamentais, é a grande contribuição que o novo Congresso pode dar ao Brasil,
o país das oportunidades perdidas e que precisa urgentemente recuperar o tempo
perdido, reencontrar o rumo do desenvolvimento e, assim, oferecer uma nova
perspectiva de vida digna aos seus 215 milhões de cidadãos, muito lembrados na
hora do voto, porém ignorados ao longo dos anos.
Fiscalizar o Executivo é uma das
funções precípuas da Câmara e do Senado. Fazer isso com seriedade é um grande
passo, mas é possível avançar, discutindo com coragem e maturidade tais pontos,
propondo e aprovando projetos de lei para mudar a realidade atual, corrigindo
omissões, provocando ações efetivas, contribuindo, enfim, para tornar a nação
mais digna para todos os brasileiros.
**Samuel Hanan é engenheiro com
especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e
finanças, empresário, e foi vice-governador do Amazonas (1999-2002). Autor dos
livros “Brasil, um país à deriva” e “Caminhos para um país sem rumo”.
Site: https://samuelhanan.com.br
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