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Tempo, não me faças padecer...


Tempo, não me faças padecer... - Gente de Opinião

Preso num quarto de hospital, um homem olha para o relógio na parede e suplica para que aquela máquina pare de contar o tempo. Do outro lado, sua mulher agoniza a beira da morte diante de uma cirurgia sem garantia de sucesso. O desespero ante ao medo da perda, o faz enlouquecer, sem nada poder fazer para estancar a tragédia anunciada.

A composição artística  "El Reloj”, é do mexicano Roberto Cantoral, que faleceu em 2010, aos 75 anos de idade, tece habilmente o lamento do homem diante da possibilidade de perder a mulher amada com a metáfora do tempo, enfatizando a intensidade do sofrimento e a impotência diante do relógio que continua a marcar as horas. Foi num petit comité, na casa do grande mestre Adilson Siqueira, ao lado de, nada menos, do que o escritor e jornalista Zóla e do grande economista Otacílio de Carvalho, que ouvi pela última vez essa música maravilhosa.

O Relógio torna-se um símbolo do implacável avanço do tempo, acentuando a urgência e a fragilidade da situação. Essa conexão entre  o  sofrimento humano, é agravada pela consciência de que o tempo é implacável, representando a finitude e a efemeridade da vida.

Há! o tempo... Se pudéssemos mudá-lo, pudéssemos alterá-lo, se o parássemos, o que faríamos diferente? Eu, por minha vez, nada. Vivi intensamente os melhores dias da minha vida, busquei no sofrimento forças para superar os obstáculos e da alegria, apenas o sorriso de felicidade. Sim, felicidade. Essa é personalíssima e só a mim pertence. E as perdas? Sim, essas inevitavelmente vêm. Temos apenas que aprender a superá-las como algo que já estava pré-definido e sem o nosso controle.

De outra forma, há quem entenda que o tempo não existe. Eu, dentro da minha mais singela ignorância, sigo esse mesmo caminho e entendo que tudo no Universo está em constante movimento, como se houvesse um looping constante, como o ouroboros, uma serpente engolindo a própria cauda.

Não criemos conceito de tempo. “Temos Nosso Próprio Tempo”, como já dizia Renato Russo. O tempo não passa de uma ilusão vivida por aqueles que não souberam e não sabem aproveitar, o “tempo que tem”. A vida passa.  Essa sim, vai findar e o que deixar de legado? Qual sua história? Há! o tempo, esse continua...

No Budismo, especialmente na tradição Theravada, ensina sobre a impermanência (Anicca), sugerindo que todas as coisas estão em constante mudança. A noção de tempo como uma sucessão de momentos efêmeros, destaca a natureza ilusória do tempo linear. Já em algumas tradições hindus, o tempo é considerado cíclico, e a existência é vista como um circuito infinito de criação, preservação e destruição. A ideia é que o universo existe em sucessões repetidas, questionando a linearidade do tempo. Eu me encaixo perfeitamente nisso...

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer abordou a questão do tempo na sua obra principal "O Mundo como Vontade e Representação". Ele argumentou que o tempo é uma representação subjetiva da mente humana e que a vontade, a força motriz subjacente ao universo, é atemporal.

Bem..., vendo por esse lado, não difere muito do que penso, mas eu,  jamais poderia deixar de trazer o que pensa Platão sobre o tempo, a quem vou morrer lendo. Na sua obra "Timeu", introduziu a ideia do "Tempo do Mundo" como uma entidade divina e imutável. Isso contrasta com o tempo percebido na esfera humana, que é mutável e imperfeito. Essa distinção sugere que nossa percepção do tempo pode ser uma sombra da realidade eterna. Caramba! profundo...

O tempo, inescapável e constante, é o tecido invisível que entrelaça a jornada do homem na tapeçaria da existência. É um mestre sutil que deixa suas marcas nas linhas do rosto, nas memórias enterradas no passado e nas aspirações que se estendem em direção ao futuro.

Desde o alvorecer da humanidade, o homem tem contemplado o enigma do tempo. Ele o mede, o marca e o celebra. No entanto, o tempo permanece insensível às nossas tentativas de domá-lo. Em sua passagem inflexível, o tempo molda o homem, forjando-o na fornalha da experiência.

O homem, inerentemente, busca entender seu relacionamento com o tempo. Na juventude, o tempo é um horizonte vasto, cheio de promessas e oportunidades. Cada segundo é vivido com uma intensidade quase efervescente, impulsionado pelo desejo de explorar, aprender e conquistar. No entanto, à medida que os anos avançam, o tempo torna-se um companheiro mais íntimo, lembrando o homem de sua vulnerabilidade e finitude.

O passado, com suas recordações e lições, é um livro aberto que o homem carrega consigo. São histórias de triunfos e tropeços, de amores encontrados e perdidos.  Há! os amores, esses são inesquecíveis. 

O homem se torna uma encarnação viva de seu próprio passado, carregando as cicatrizes e os louros como testemunhas de uma jornada única.

O presente, efêmero e fugaz, é onde o homem encontra a encruzilhada entre o que foi e o que será. É um campo de possibilidades onde suas escolhas moldam o tecido do tempo. No presente, o homem experimenta a plenitude da existência, e é nesse momento fugidio que ele encontra a verdadeira riqueza da vida.  

O futuro, envolto em mistério, é o horizonte que o homem imagina e cria. São nossos sonhos, metas e aspirações que moldam nosso caminho à medida que avança.  Assim, impulsionado por uma esperança intrínseca, enfrenta o futuro com coragem, ciente de que suas ações no presente ecoarão pelas eras que estão por vir.

O tempo é o homem, dançando em uma coreografia eterna, como o castigo de Sifo, condenado a empurrar uma pedra montanha acima por toda a eternidade, porque enganou a morte.  Não conseguimos fugir dessa ilusão concreta, estaremos intrinsecamente interligados. O homem é o arquiteto de seu tempo, e o tempo é o escultor que molda o homem. Nessa jornada conjunta, o homem busca compreender a essência do tempo, abraçando sua complexidade e abençoando cada momento com significado e propósito. No coração desse relacionamento eterno, encontraremos  a chave para desvendar os mistérios da existência e explorar o infinito Universo que se estende diante de  nós.

Vamos parar por aqui, se não isso, não acaba nunca. Nem vou  entrar na relatividade de Einstein, aí o infinito, seria o melhor lugar para essa discussão. E, fiz todo esse “Cerca Lourenço,” como fala o humorista nordestino “Mução”, apenas para dizer que, mesmo diante de todas as contraposições, contra tudo o que o esoterismo, os pensadores filosóficos, contra os anciãos, contra tudo o que penso, o ano social de 2023, chegou ao fim. Assim, como o relógio marcava o tempo na parede do hospital e a morte da amada daquele homem sofrendo, seria inevitável, seremos obrigados a renovar o calendário. Não temos como parar...

Meu Deus! O ano acabou...

Mas porque parar? Esqueçamos o relógio. Vamos seguir no caminho para o qual fomos designados como criação Divina. Nos emanemos de energia cósmica, da força e do poder Divino para, mais uma vez, entrarmos no looping temporal e começarmos uma nova história. Um novo momento a ser vivido com graça, alegria e muita felicidade. Não sejamos um mero expectador que só observa a vida passar diante dos seus olhos, como um filme em preto e branco.

Que possamos levar conosco as lições deste ano e usá-las para construir um futuro repleto de compaixão, amor e compreensão. Que a luz divinal continue a nos guiar no próximo ano, inspirando-nos a sermos melhores, mais amorosos e compassivos rogando para que tenhamos um mudo justo. Que uma nova geração tenha a paz em seu coração e que procurem entender que a vida só é vivida por aqueles que querem vivê-la.  Lembremos de Kairós, o momento indeterminado no tempo. Transformemos em algo especial com a experiência do momento oportuno para todas as coisas. O tempo de Deus.

Que a paz e a serenidade do Divino estejam sempre conosco, e que possamos compartilhar esse amor com todos que cruzarem nosso caminho.

Tempo, não nos faça padecer...

Um Ano Novo de muita sabedoria, e que o Grande Arquiteto do Universo nos guie sempre.

 

Rubens Nascimento é Jornalista, Bel em Direito e Mestre Maçom-GOB

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