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Um curativo não será a solução quando se trata de uma fratura exposta


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Nos últimos anos, temos assistido a um aumento preocupante nos problemas de saúde mental relacionados ao trabalho no Brasil e em todo o mundo. A pressão constante, as longas horas de trabalho, as metas cada vez mais ambiciosas e a falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional têm cobrado seu preço.  

Não é novidade, apenas relembrando: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o segundo país do mundo com maior prevalência de ansiedade e o quinto em casos de depressão.  

E os efeitos são catastróficos, tanto para os indivíduos quanto para as organizações. Estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos todos os anos por causa desses distúrbios, de acordo com a mesma OMS. 

No entanto, o que é ainda mais alarmante é a maneira como as empresas ainda lidam essas questões. Muitas, diante desse cenário e com boa vontade, têm buscado adotar iniciativas que promovam a saúde mental dos seus colaboradores.  

A princípio, a abordagem escolhida é a reativa, que apenas entra em cena quando um colaborador está visivelmente em crise. Ou quando uma equipe está adoecida, com alto turnover e casos de burnout. No entanto, muitas dessas ações são paliativas, ou seja, visam apenas aliviar os sintomas, sem tratar as causas dos problemas. 
Em geral, as empresas apenas têm "apagado incêndios", oferecendo atendimento psicológico emergencial ou palestras motivacionais, sem investir em um trabalho aprofundado de prevenção e promoção da saúde mental.
Conforme uma pesquisa conduzida pela Kenoby envolvendo mais de 500 profissionais, a saúde mental ganhou destaque nos departamentos de Recursos Humanos. De acordo com o levantamento, 37,7% das empresas examinadas oferecem benefícios destinados a aprimorar o bem-estar e a saúde mental de suas equipes.
Mas ainda é pouco. Não adianta usar um curativo quando existe uma fratura exposta. Iniciativas como essa tratam os sintomas imediatos, mas não resolvem a raiz do problema. É uma solução superficial que, infelizmente, é a norma em muitos locais de trabalho. 

A saúde mental é um assunto complexo e multifatorial, que envolve aspectos individuais, relacionais e organizacionais. É preciso entender o que acontece com cada colaborador, quais são os fatores de risco e de proteção para a sua saúde mental, e como a empresa pode contribuir para criar um ambiente de trabalho saudável e acolhedor. 

E mais importante: não basta apenas tratar quem não está bem.  

Para abordar adequadamente os problemas de saúde mental no trabalho, é necessário um compromisso sério por parte das empresas que começa com a conscientização e a normalização da discussão sobre saúde mental. Os colaboradores devem se sentir à vontade para falar sobre seus desafios sem medo de estigma ou retaliação. 

Além disso, as empresas devem investir na capacitação das lideranças para que possam reconhecer os sinais de problemas de saúde mental e como agir de maneira adequada e empática. Até porque os líderes desempenham um papel fundamental na criação de um ambiente de trabalho saudável e de apoio. 

Por fim, programas de saúde mental a longo prazo devem ser implementados. Isso envolve uma mudança na cultura organizacional, na gestão de pessoas e nos processos. Um trabalho preventivo que reconheça a saúde mental como um direito e uma responsabilidade de todos, que valorize o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, que promova um ambiente de respeito, confiança e colaboração, que estimule o desenvolvimento e o reconhecimento dos talentos e que previna o estresse excessivo. 

A saúde mental nas empresas não é um problema isolado, mas sim um desafio coletivo, que requer o comprometimento de todos os envolvidos. Somente assim será possível construir uma cultura organizacional que valorize o bem-estar e que reconheça a importância da saúde mental para o sucesso dos negócios. 

Essa questão não deve ser tratada como secundária. Os problemas de saúde mental são reais e impactam profundamente os colaboradores e as empresas. É hora de abandonar a abordagem paliativa e adotar uma abordagem abrangente e proativa para garantir que todos os colaboradores tenham o apoio necessário para prosperar em seus ambientes de trabalho. 

E neste processo todos saem ganhando: empregador e empregado. Um ambiente saudável gera mais engajamento e mais produtividade. Um ambiente leve, de confiança e inovador.
 

*Por Virginia Planet, sócia da House of Feelings, primeira escola de sentimentos do mundo. Mais informações em: site

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