Sábado, 23 de setembro de 2023 - 12h06
Até o momento, nem um esclarecimento público foi dado sobre as
investigações do paradeiro de duas ampolas contendo perigoso urânio enriquecido - usado na
fabricação do combustível para as duas usinas nucleares de Angra dos Reis (RJ)
- que se escafederam na Fábrica de Combustível Nuclear da Indústrias Nucleares
do Brasil (INB), em Resende (RJ). Noticiou-se apenas que a Polícia Federal
arrolou 20 empregados da INB, onde foram inúteis as buscas, incluindo nas áreas
supervisionadas e controladas. A sociedade brasileira, que não tem sido
informada sobre o esquisito caso, continua aguardando explicação para o fato e
a divulgação pública do andamento das apurações.
Cada uma
das ampolas possui 8 gramas de gás hexafluoreto de urânio enriquecido
(UF6), pertencentes ao lote testemunho de uma recarga de Angra 2. Assim
que a notícia do sumiço veio a público (17.8.23), a INB apressou-se a minimizar
o potencial do perigo. Tratando dos riscos radiológicos, em nota oficial,
afirmou que “a liberação parcial ou total do conteúdo dos dois tubos não
acarreta danos à saúde de um indivíduo do público em geral ou de um indivíduo
ocupacionalmente exposto.”
No mesmo dia 17, em nota oficial a Comissão Nacional de Energia
Nuclear (CNEN), fiscal da INB, ratificou que uma possível liberação do conteúdo
"não acarreta danos radiológicos à saúde de um indivíduo". Mas
ressaltou a possibilidade de haver “risco químico associado à natureza tóxica
dos compostos presentes, que podem provocar danos físicos localizados”. https://www.gov.br/cnen/pt-br/assunto/ultimas-noticias/sobre-as-ampolas-com-amostras-de-uf6-extraviadas-na-inb
INSEGURANÇA
EM RADIOPROTEÇÃO
Se o perigo do manuseio do urânio é tão mínimo,
porque já no dia seguinte a CNEN fez um bizarro apelo aos brasileiros em seu site?
Em lugar de fazer ampla e continuada divulgação, com os esclarecimentos devidos
à sociedade, divulgou fotos de uma ampola similar às extraviadas, pedindo a
quem achar as peças que faça imediato contato pelos números (21) 98368-0763
e (21) 98368-0734 (a postos 24horas, incluindo fins de semana e feriados) https://www.gov.br/cnen/pt-br/assunto/ultimas-noticias/cnen-solicita-plano-de-acoes-imediatas-para-melhorias-nas-instalacoes-da-empresa-inb
Esta não é a primeira grave confusão registrada em instalações da
INB. A irresponsabilidade com a proteção física, vigilância e gerenciamento das
suas atividades, ocorre em constância temerária. A ausência
de câmeras e sistema de segurança para monitorar o ambiente, prova a
falta de controle das fontes radioativas no Brasil, denunciada nacionalmente
desde 2006, pelo Relatório sobre Fiscalização e Segurança Nuclear da Câmara dos Deputados. https://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/3743 Desde então, pouco mudou no cenário de erros
técnico-operacionais, administrativo-gerenciais e acidentes, incluindo o eterno
bate-cabeça entre INB e CNEN, parte das célebres atrapalhadas do Programa
Nuclear Brasileiro.
Preocupada com a conhecida inconsistência da comunicação do setor
nuclear e atenta à elucidação do fato, a Articulação Antinuclear Brasileira
(AAB) divulgou nota pública responsabilizando a INB por mais esta falha crítica
na manipulação e
proteção de material radioativo. https://racismoambiental.net.br/2023/08/18/desaparecimento-de-uranio-e-flagrante-irresponsabilidade-da-inb/ Sobre o assunto, o
engenheiro em física nuclear Bruno Chareyron, da Comissão de Pesquisa e
Informação Independente sobre a Radioatividade (CRIIRAD) da França, nos enviou
o esclarecedor comunicado, abaixo transcrito. Que todos os esforços
sejam realizados para a recuperação deste gás tão nefasto à saúde.
TAMANHO DO RISCO
“A empresa
INB afirma que dois tubos, cada um contendo 8 gramas de UF6 enriquecido, foram
perdidos em julho de 2023. Se esses tubos forem abertos sem controle, o UF6
poderá escapar para o meio ambiente, podendo, em seguida, ser ingerido ou
inalado.
O UF6 é um
material radioativo que contém urânio 238, urânio 234 e urânio 235. Quando o
urânio 234 e o urânio 238 decaem, eles emitem partículas alfa, particularmente
perigosas se ingeridas, e mais ainda se inaladas.
Pode-se
calcular que 8 gramas de UF6 enriquecido representam uma radioatividade bem
superior a 100.000 Becquerels, ou seja, 100.000 desintegrações radioativas por
segundo. A inalação de uma pequena fração do conteúdo dos tubos pode resultar
em uma dose superior à dose anual máxima admissível para o público (1
miliSievert).
Em caso de
contaminação interna, o urânio pode se difundir no corpo. Como tóxico químico e
emissor de radiação, ele terá um impacto sobre os pulmões e outros órgãos
(rins, ossos etc.) e aumentará o risco de leucemia e outros tipos de câncer a
longo prazo (câncer de pulmão, sistema digestivo, rins, linfomas, mieloma
múltiplo etc.).
Uma fração de
urânio também pode atravessar a barreira hematoencefálica e se difundir no
cérebro. Ele também afeta as funções reprodutivas e pode ser uma fonte de
anormalidades genéticas. Em geral, muitas funções vitais podem ser afetadas
pela contaminação por urânio.
Além disso,
dependendo da temperatura e da umidade do ar, o UF6 (que se torna gasoso a 56
graus Celsius) se decompõe e forma ácido fluorídrico, causando queimaduras na
pele e nos pulmões. O resultado final é que o UF6 é uma substância que
apresenta riscos radiológicos e químicos significativos. Tudo deve ser feito
para encontrar esses tubos.”
Em recente pronunciamento, na véspera da reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em 10/12/2024, onde se decidiria pela conclusão,
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