Sexta-feira, 1 de maio de 2015 - 05h48
Luiz Carlos Albuquerque (*)
Dependendo de onde se vive, cada povo tem seu ritmo de trabalho. Enquanto nos países mais desenvolvidos o primeiro milhão de dólares é objetivo pessoal perseguido cada vez mais precocemente, em nosso país os jovens se contentam com bem menos, talvez um carro, um pequeno apartamento e uma renda razoável. Isto se morar em alguma capital, pois, se for criado em algumas distantes localidades do interior, certamente terá objetivos muito mais simples. E estes são fatos normais, ou seja, cada comunidade tem sua visão diferenciada de valores.
Na Amazônia, na beira de rio, distante das cidades, o caboclo não sonha com riqueza. Suas necessidades são saúde, moradia e alimento. Pesca alguns peixes para o consumo do dia, planta mandioca e faz farinha, além de extrair da mata a castanha, a sorva, o látex ou o sumo do pau-rosa para comercializar quando os regatões por lá passarem. Seu dia está completo e suas obrigações, cumpridas. Precisa do sal e açucar, produtos industrializados. Já feijão, banha, arroz, colorau, pimenta de cheiro e farinha são de lá do terreiro. O peixe, farto, é consumido em todas as refeições do dia, inclusive no café da manhã e lanche noturno. Mais que isso eles não precisam. Nem querem.
Por isto tudo é comum que o caboclo, de barriga farta, deite numa rede à sombra, refrescando-se do calor úmido que, geralmente, passa dos 40 graus.
E assim estava, no meio da tarde, Zé Galego, na rede, quando chegou o “cumpade” Tonho da Rainha. Vale explicar que, como naquelas localidades não existem muitas variedades de nomes próprios, até os apelidos se repetem. Para identificá-los, é comum que o nome ou apelido da pessoa seja seguido de um outro nome, de pessoa ou de lugar, o que determina sobre quem se está falando. Por exemplo: Existindo muitos “Raimundos”, para diferenciá-los, chama-se a um de “Raimundo (que é filho) de Quiroca”, a outro é “Raimundo da (morador da localidade da) Pedra Lisa, e um terceiro de “Raimundo (que é marido) da Pretinha”.
Como eu dizia, o Tonho da Rainha chegou. Cumprimentos, lembranças e novidades. Tonho pergunta: “E trabalho, cumpade? Muito”.
No que Zé Galego responde, lento: “Como Deus manda!”. Tonho, fazendo graça, diz “Mas é que Deus manda é que se trabalhe muito, cumpade”.
Pausa! Zé pensa. E responde, perguntando: “Mas será que é, cumpade?” Outra pausa. Tonho fala “E não é? E o senhor não viu que é que o padre contou da ultima vez que veio nestas bandas batizar os meninos e casar os ajuntados?”
Zé pergunta, depois de matutar “E o que foi mesmo que o “seu” padre disse?” No que o Tonho, sabido como ele só, diz, orgulhoso: “E o senhor esqueceu da História de que Deus fez o mundo duma vez, em seis dias, e depois descansou?”
Zé, lento de raciocínio, passou mais de um minuto pra falar “E foi? E não é que foi mesmo? Que história mais bonita. E Deus falava que ‘faça o homem’, e o homem tava feito. E dizia que ‘faça as árvores’ e tava feito tudo, árvore, mato e bicho”.
Silêncio. Tonho, então, falou “Pois é! E olhe que ele fez tudo em seis dias”
E o Zé “E depois descansou?”.
O Tonho respondeu: “Pois foi!”.
Zé, não satisfeito, perguntou “E depois não precisou de fazer mais nada?” Tonho disse “Precisou não. Pois não é que tava tudo feito, certinho?”
Zé, então, soltou o raciocínio: “Que beleza. Ah!, eu com um emprego assim!. Trabalha só seis dias e descansa pra sempre. Se aposenta! Assim, até eu queria trabalhar”
Tonho teve que concordar “Pois é”
(*) Luiz Carlos Albuquerque - consultor comercial, escritor, editou o projeto “Leitura no Ônibus”
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