Quinta-feira, 10 de outubro de 2024 - 15h49
Eu tinha de
10 para 11 anos quando meu pai, Paulo Nascimento, militar da Companhia de
Fronteira Acre Rondônia- CEFAR, chegou em casa dizendo que o Coronel Carlos
Augusto Godoy, do Exército no Estado, havia conseguido uma vaga para eu estudar
no Colégio Militar, em Manaus. Foi uma alegria danada. Essa euforia durou
pouco. Dona Aurea, minha avó, jogou água na fervura: Manaus é muito
longe, não vou deixar meu neto ir. Esse foi a ultima oportunidade que
tive de servir as forças armadas, mas minha família é de militares e serviram
com bravura e orgulho à Pátria. Hoje, porém, uma instituição que já foi exemplo
para os brasileiros, se deteriora envolvida em politicagem, o que faz os
antigos da caserna se revoltarem, mas de mãos amarradas.
Mais uma
vez o Exército brasileiro dá uma clara demonstração de que, dentro de suas
fileiras, os conceitos ideológicos do governo atual estão sendo usados para a
tomada de decisão. A recente tentativa
de do ministro da defesa José Mucio e
outras autoridades, como Celso Amorim e
membros do Partido dos Trabalhadores (PT), de tantarem barrar uma
licitação, já vencida por uma empresa Israelense, para a compra de material
bélico destinado ao exército brasileiro, alegando, entre outras coisas, que não se pode fazer a compra dos equipamentos
de um país envolvido em conflitos militares mostra, claramente, que os
militares perderam a autonomia administrativa e atuam defendendo interesses políticos-
partidários. A Jogada, não deu certo!
A
licitação, vencida pela empresa Elbit Systems, foi interrompida pelo exército devido
a preocupações dentro do governo, principalmente ligadas às operações militares
de Israel na Faixa de Gaza, Libado e Irã. Esse contexto revela como as relações
externas do Brasil, especialmente sob o governo de Lula, estão sendo moldadas
por uma visão mais crítica às ações militares de certos países, como Israel. A
preocupação do governo em alinhar suas decisões militares e comerciais com suas
diretrizes políticas e diplomáticas reflete uma abordagem que prioriza o
posicionamento internacional do Brasil em questões de direitos humanos e
política externa.
O ministro
da Defesa, José Múcio Monteiro, sob pressão, havia consultado a Corte de Contas
da União – TCU, para verificar se é possível “restringir ou impedir”
a participação de companhias “com vínculos com país em situação de conflito
armado” em licitações. Não há citações a Israel na consulta nem no acórdão do
TCU. No entanto, usou-se o argumento de que não se pode comprar armas de países em
guerra, mas o objetivo era para barrar a
Elbit Systems, israelense, o que foi negado.
O
Tribunal de Contas da União (TCU), embora tenha negado, ainda está envolvido na
análise dessa questão, mas até o momento não foram identificadas restrições
formais que impeçam a participação de empresas de países em conflito. A
situação mostra que, enquanto o governo tenta manter uma postura crítica em
relação a Israel, também enfrenta a pressão interna para modernizar suas forças
armadas, o que pode ter repercussões tanto nas relações comerciais com Israel
quanto no cenário militar brasileiro. O material a ser adquirido será destinado
a substituir equipamentos que estão no exercito desde a segunda guerra mundial.
Essa
tensão entre política externa e necessidades militares coloca o governo
brasileiro em uma posição complexa, tentando equilibrar sua ideologia com a
realidade operacional e estratégica de seu Exército.
Nos
últimos anos, a diplomacia brasileira tem passado por mudanças significativas
sob o governo de Lula, que se distanciou de parceiros tradicionais, como
Estados Unidos e União Europeia, e se aproximou de regimes autoritários e
nações envolvidas em controvérsias internacionais. O alinhamento com ditaduras
como a de Nicolás Maduro, na Venezuela, e o apoio explícito a regimes e grupos
que enfrentam sanções internacionais, como o Irã, Hamas e Hezbollah, refletem
uma guinada ideológica clara em favor de uma agenda política de esquerda.
Esse
movimento faz parte de uma tentativa de reposicionar o Brasil no cenário
global, buscando uma postura contrária ao que o governo vê como imperialismo
ocidental, especialmente representado por Washington e Bruxelas. O apoio ao
governo Maduro, por exemplo, é evidente tanto no discurso como nas ações
diplomáticas, com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sendo um
dos expoentes dessa solidariedade ao regime venezuelano, com viagens à
Venezuela para oferecer apoio explícito ao chavismo. Barão de Rio Branco, um dos
maiores diplomatas brasileiros, com certeza, está se revirando no túmulo com
tudo isso.
Da mesma
forma, o governo Lula tem demonstrado conivência, ou ao menos complacência, com
ações de grupos considerados terroristas por boa parte da comunidade
internacional, como Hamas e Hezbollah. O alinhamento com esses grupos e com o
Irã, ambos alvos de sanções internacionais, é visto como uma clara manifestação
de uma política externa que busca se distanciar das democracias ocidentais e se
aproximar de regimes e entidades que compartilham uma retórica
anti-imperialista.
Esse
realinhamento tem gerado tensões com parceiros comerciais e históricos do
Brasil, como Estados Unidos e União Europeia, e desperta críticas internas. O
governo Lula enfrenta a acusação de estar promovendo uma agenda de
"esquerda radical", colocando os interesses ideológicos à frente de
pragmatismos econômicos e diplomáticos.
Em
questões comerciais, por exemplo, há preocupações sobre como essas mudanças
podem afetar a confiança de investidores estrangeiros, particularmente daqueles
que dependem de uma governança baseada em valores democráticos.
Essa nova
direção da política externa brasileira marca um contraste com os governos
anteriores, que mantinham uma relação mais equilibrada com os blocos ocidentais
e evitavam envolvimento com regimes autoritários e grupos armados que
desestabilizam regiões inteiras. A
pressão para a saída da Venezuela do Mercosul, foi iniciativa brasileira, mas o
governo atual já tentou várias vezes traze-la de volta. No entanto, essa
mudança reflete o atual esforço do governo em construir uma imagem de
resistência ao que considera o domínio global de potências ocidentais, mesmo
que isso signifique perder credibilidade em fóruns internacionais, como as
Nações Unidas e outras organizações multilaterais. Ficou bem claro tudo isso, quando
Lula, o primeiro a falar na conferencia da ONU, não viu o mundo reverbera suas
palavras. Ainda assim, como um zé ninguém, na mesma época, foi barrado por
seguranças americanos numa conferencia onde estava o ex-presidente Bil Clinton.
Lula saiu de lá com um sorriso amarelo na cara. Uma vergonha para o Brasil.
A crítica central a essa postura do Governo, é que ela não
apenas isola o Brasil de seus principais aliados democráticos, mas também o põem
no mesmo buraco de regimes e grupos que
violam direitos humanos e atuam de forma contrária aos interesses globais de paz
e segurança. Prova disso é que, aqui dentro, centenas de pessoas ainda estão
presas, sem direito a recursos, simplesmente por que se manifestaram como
democratas. Como dizia o Legião Urbana: que país é esse?
Rubens
Nascimento
é jornalista, Bel. Direito, M.M. Maçom e ativista do Desenvolvimento.
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