Sábado, 9 de novembro de 2013 - 08h01
Por Marli Gonçalves
Até você aí, leitor, sei que já me conhece um pouco. Quem me conhece pessoalmente também sabe que sempre primei pela espontaneidade e por escrever justamente o que me passa pela cabeça, muitas vezes até pondo em discussão um tema, conversando com quem me contata, o que me dá imenso prazer. Mas ultimamente está tão esquisito tudo que, muitas vezes, em determinados assuntos e acontecimentos, tenho falado o que penso, mas não escrevo, e só declaro a real para quem é de extrema confiança. Coisas que não dá para dizer do lado de fora da porta. Entendem? Tem acontecido muito e isso chamou minha própria atenção.
Preguiça. Não quero e não tô querendo arrumar briga, ou perder tempo discutindo com quem não quer pensar. Opinião própria e fora do lugar comum. Alguma amoralidade mais explícita.Não quero perder o amigo, nem faria diferença realmente o que digo ou deixo de dizer. Não ganho nada com isso. Que vantagem Maria levaria? Ou: está tão forte o cerco, principalmente sobre assuntos da Política, que pode até ser muito perigoso expressar algumas opiniões aqui do lado de fora. E isso é muito grave, atentem bem. Autocensura às vezes é mais grave do que a censura imposta. Acendeu meu alarme. A luzinha amarela.
Claro que por causa desse meu silêncio a Terra não vai deixar de girar. Mas faz um mal danado engolir certas coisas, porque estas podem virar sapos coaxantes e grilos falantes na nossa cabeça. É o famoso "se eu não fui, acho que deveria ter ido". Ou "eu devia ter falado". Repetindo: nada tão grave ou que faça que eu não cumpra o juramento feito como jornalista, de denunciar desmandos, apontar e reagir à injustiça, não calar diante de poderosos. Falo de algo mais sutil, o pensamento, a opinião pessoal - esse nosso único espaço pessoal e livre até que alguém invente um aparelho ou "aplicativo" que leia o que se passa na nossa cabeça. Até agora não existe, mas não vai demorar alguém criar.
Há no momento, visivelmente, uma epidemia de pensamento manada. Aonde a vaca vai, o boi vai atrás, diria meu pai. Todo mundo deve pensar naquela direção, se for "vermelho"; e, na outra, se for "azul". Temo que as tais redes sociais estejam por trás dessa epidemia. Você quase se vê obrigado a "curtir" umas sandices que os amigos escrevem, para não perdê-los. Também tem de estar up-to-date dos assuntos eleitos do momento, mesmo achando bobagens inacreditáveis. Não pode chamar de burro quem acredita em cada uma muito pior que lobisomem e mula sem cabeça. Tô fora!
Sabe um campo em que estou vendo as coisas degringolarem? O de Direitos Humanos. Para mim, inalienáveis. Mas tem por aí um pessoal louco para, digamos, abrir determinadas exceções. O outro é o das manifestações - tem quem esteja adorando a atuação da polícia, que vem praticamente cercando e cerceando qualquer grupo de mais de quatro pessoas que se junte com uma bandeirinha, além de estarem gostando de dar uns cascudos em jornalistas. Acho tão temerário apoiar o que pode te apunhalar lá na frente...
Escreveu não leu, o pau comeu. Boca fechada não entra mosquito.
Até acredito que vai ter quem entenda sobre o que falo aqui. Minha antena captou que não sou só eu que estou preocupada e observando esse comportamento. A indústria do entretenimento já sacou isso e vem produzindo muita coisa a partir dessas quatro paredes que podem até ter ouvidos, mas não podem falar. Repare.
Só que aí entra um personagem: o analista, o psiquiatra, o psicanalista, ou o psicólogo. O número de programas que está no ar usando esse recurso é maior do que os textos de ficção odiosos, ou aqueles roteiros mal amanhados e pobres, que costumam usar sonhos. Uma série de coisas acontece, e no fim - rárá!- o personagem estava só dormindo. Era um sonho. Agora não: é "análise".
Observe. Até programas de humor - o de Natalia Klein, e o da Tatá Werneck, entre eles - vem usando o recurso "divã". Há ainda uma série bem densa no ar, e que faz o maior sucesso, a Sessão de Terapia.
Será que é preciso mesmo um divã para que possamos falar o que pensamos realmente, os nossos problemas, o que temos de mais individual?
Sempre quis ter um divã. Mas para me deitar nele, como uma Cleópatra. Para pensar, mesmo, prefiro o chuveiro, já que não tenho uma linda banheira.
Marli Gonçalves é jornalista - Cansada de ver o mundo se fechando em copas. E de prefeito poste e ministros malas. #prontofalei
E-mails:
marli@brickmann.com.br
marligo@uol.com.br
Tenho um blog, Marli Gonçalves, divertido e informante ao mesmo tempo, no http://marligo.wordpress.com.
Estou no Facebook. E no Twitter @Marligo
25 de novembro - a pequena correção ao 25 de abril
A narrativa do 25 de Abril tem sido, intencionalmente, uma história não só mal contada, mas sobretudo falsificada e por isso também não tem havido
Tive acesso, sábado, dia 16 de novembro, a uma cópia do relatório da Polícia Federal, enviado pela Diretoria de Inteligência Policial da Coordenaçã
Pensar grande, pensar no Brasil
É uma sensação muito difícil de expressar o que vem acontecendo no Brasil de hoje. Imagino que essa seja, também, a opinião de parcela expressiva da
A linguagem corporal e o medo de falar em público
Para a pessoa falar ou gesticular sozinha num palco para o público é um dos maiores desafios que a consome por dentro. É inevitável expressar insegu