Terça-feira, 9 de dezembro de 2014 - 15h25
Roberto Gutierrez – Nesta terça-feira, 9/12, é comemorado o Dia Mundial de Combate à Corrupção. Seria tão bom se existisse também o dia nacional de combate ao nepotismo cruzado – uma prática quase comum entre os poderes. Mas isso é como tentar descobrir a intimidade de alguém, complicado demais.
O nosso País avançou muito nesse campo, pelo menos no estardalhaço que causa criando mocinhos e bandidos. Acho que existe certo cinismo no que tange à corrupção do meio político brasileiro. De repente, um partido ou candidato gasta milhões de reais para se eleger. Se computarmos o que esse candidato ganharia em quatro ou oito anos de mandato, dificilmente cobriria 10% do que foi gasto pela conquista do cargo. Estamos então diante de um fenômeno de abdicação coletiva – o desapego ao dinheiro. Nosso sistema eleitoral permite a doação para financiar campanhas, que o candidato invista dinheiro próprio e, ainda, doação individual do cidadão. No submundo do sistema investimento de risco é o nome dado a toda doação para campanha política por parte de uma empresa. É um jogo. Muitas empresas investem em dois ou três candidatos majoritários como se tivesse apostando no jogo do bicho – o bicho está cercado, o que der, ele ganha.
Apoiadores de campanha e pessoas que se dizem lideranças de bairros, comunidade, ex-candidatos a vereador custam caro. Com raras exceções alguém trabalha de garça, mas existe o compromisso de um emprego caso se eleja. Isso sem contar os pedintes.
Não estão computados aqui cota de mídia, de formadores de opinião, de publicitários ou marqueteiros, matérias paga em veículos noticiosos, material publicitário e mais um monte de coisas que formam a indústria eleitoral. Aliás, eleger um candidato é preciso encarar o processo como se fosse uma empresa, cujo produto a ser vendido é o candidato.
Como em sã consciência alguém pode imaginar que uma empresa não participaria com chances de ganhar de uma concorrência pública num grupo do qual ela investiu para elegê-lo, que o partido terá que fazer caixa dois de campanha e que boa parte vai aproveitar para enriquecimento meteórico?
Investigar isso também custa dinheiro. Só de diárias (o que é justo e de direito) quanto um promotor público que lidera investigações não receberia? Imagine a logística de aviões para transporte de suspeitos nas operações; passagens aéreas para policiais que são enviados para outros estados?
Outra fatia bem gordinha está assegurada ao exercício do Direito – são os honorários dos advogados. Alguns casos, como no ‘Mensalão’, foi muito dinheiro gasto para assegurar o direito de defesa.
E quanto alguns casos de venda de sentença, nepotismo cruzado, segurar o máximo de temo possível um processo? E quanto a veículos de comunicação que usam de seu peso, para de forma conveniente, tentar influenciar o lado da história que lhe interessa? E quanto aos achacadores de plantão que vivem colocando os corruptos do sistema contra a parede para tirar vantagem?
A coisa é muito louca, gente! O Sistema permite que você use meios que a matemática não explica para pode ser eleger e acha estranha quando percebe uma corrupção instituída! Assim, governantes tidos como sérios, se tornam refém de um próprio mecanismo perverso que o ajudou a eleger. Sem contar o Legislativo esfomeado por espaço para se dar bem. Sem contar situações duvidosas de alguns conselheiros de tribunais de contas que criam dificuldades para vender facilidades, afinal, lidar com corrupto, tem dessas vantagens. A piada pronta de tudo é quando algum corrupto vai preso, corre o risco de comer marmitex superfaturado. Rsss. Isso sem contar quando políticos acusados de corrupção são julgados pelos pares que vivem e respiram o dia a dia dessa fábrica de salsicha para chegar ao poder.
Sistema de financiamento público de campanha seria a solução? Isso é relativo por questões partidárias. Não existem partidos. Existem líderes que estão acima de agremiações. Em tese, com financiamento público de campanha, quem chegasse ao poder, não estaria de rabo preso para cobrir compromissos de capital de risco. Mas o sistema é muito mais além do que essa coqueluche de trombadinhas do sistema. Governos de países de primeiro mundo são tão corruptos quanto. A metodologia muda, pois eles fazem guerra, impõe sansões, influenciam a ida de seus tentáculos empresarias para invadir, sugar e corromper nos países de terceiro mundo. Tudo em nome da soberania nacional.
Eu poderia dizer que ética e estômago vivem em conflito. Mas do que ética, precisamos de boa índole e isso é próprio de cada um. Corruptos e corruptores, emanados de uma mesma síndrome – a oportunidade. Sou otimista quando a mudanças para melhor quando vejo uma família estruturada dando ao filho valores inalienáveis à formação. Mas quando vejo alguém prometendo bicicleta para o filho se ele passar de ano na escola, vejo aí, a síntese que poderá mover o desejo de um vereador – se não me der tal coisa, não voto no seu projeto.
Guerra, política e religião têm teor de comércio e fugir a essa condição é um exercício existencial. Viva o dia de combate a hipocrisia!!
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