Quarta-feira, 25 de janeiro de 2017 - 15h13
Professor Nazareno*
A pequenina e medieval cidade de Ali Tremes fica no interior do Afeganistão. Não tem nenhuma importância para aquele país asiático muito menos para o mundo. É um daqueles lugares que poderia ser chamado de “Cu do Mundo”, mas isso seria um total desrespeito a esta parte do corpo humano. Só que o jovem município está sendo palco de muita polêmica ultimamente. Não pela violência desenfreada e quase sem controle, típica do lugarzinho inóspito, mas por questões, digamos assim, de ideologia. Não ideologia política ou partidária, mas de gênero. O prefeito da cidade, Sir Girolamo Savonarola, em conluio com vários membros do Conselho Municipal, decidiu interferir na educação das crianças e jovens do município. Criou um decreto municipal que manda rasgar todas as páginas dos livros escolares que falam sobre ideologia de gênero.
Quase todas as pessoas que moram em Ali Tremes são cidadãos do bem e preocupados com o desenvolvimento do lugar. São indivíduos idôneos, trabalhadores, zelosos, fraternos. Quais deles farão o serviço sujo de rasgar livros didáticos? O problema é que apenas uma meia dúzia deles está muito inconformada com os avanços sociais e com os rumos que a sociedade “alitremense” estaria tomando e por isso insistem em voltar no tempo. Querem a todo custo entrar na Idade Média. Poucos dos que apoiam esta “intifada moralista” percebem que rasgar livros é quase a mesma coisa que queimar livros. E pior: a História diz que “quem queima livros, queima homens”. Os nazistas, por exemplo, começaram sua trajetória fazendo fogueira em livros. Na Alemanha, em maio de 1933, vários autores tiveram suas obras queimadas pelo fogo.
Sir Girolamo Savonarola é um homem inteligente. Jovem e estreante na política, ele tem claras preocupações com as futuras gerações do seu lugar e não pode ser confundido com um simples justiceiro messiânico. “Como pode um livro ensinar ‘coisas do mal’ a indefesos seres humanos?”. Deve ter pensando o ilustre alcaide. “As pessoas que escolheram estes livros deveriam ir para a fogueira junto com estes escritos diabólicos”, devem ter pensado outros moralistas convictos. Se em Ali Tremes existem homossexuais, ninguém deve saber disto, muito menos as crianças. Este é o pensamento de muitos naquela cidade afegã. União estável, direitos humanos, justiça para todos, ausência de violência, principalmente no campo, democracia, pluralidade de opiniões e honestidade são temas proibidos que não devem ser debatidos por ninguém.
Porém não é só a cidade de Ali Tremes que vive dias difíceis. O país inteiro ainda não se encontrou depois do golpe constitucional que foi dado recentemente. Ser “fiscal de furico alheio” é o mínimo no Afeganistão de hoje. Recentemente as redes sociais foram inundadas de comentários festivos e alegres depois que a ex-primeira dama do país sofreu um AVC. Desejar a morte dos outros virou coisa banal num país eminentemente cristão. O sistema carcerário está um caos e para a alegria de muitos afegãos tem matanças quase diariamente nos presídios lotados. Estranhamente, o sangue alheio provoca risos e euforia em muitos “cidadãos do bem”. A carnificina no meio rural, fato em que Ali Tremes é um péssimo exemplo, é uma constante e Sir Girolamo Savonarola e seus seguidores sabem muito bem disto. Tomara que a fogueira de vaidades não queime os defensores do retrocesso e da censura. Só suas velhas ideias.
*É Professor em Porto Velho.
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