Sábado, 15 de outubro de 2016 - 08h02
Sem dúvidas, um problema complexo até para o debate. Envolve tudo o que há de mais sagrado nesse “plano” da vida.
Quando se trata de doador vivo, este abre mão de parte de seu corpo para integrar o corpo de outra pessoa.
Noutra condição, o doador é considerado falecido pela Ciência, mas precisa ter a sua vida prolongada por aparelhos para que a vida de outro siga com mais conforto, ou simplesmente continue.
Essa é a parte física inescapável dessa relação entre receptores e doadores de órgãos. Embora de extrema gravidade, essa talvez seja a etapa menos complicada. A partir daqui, envolve valores éticos, morais, religiosos e principalmente de formação pessoal.
Existem religiões que não permitem a transfusão de sangue a seus seguidores. Não raro o noticiário divulga um conflito entre um médico com o dever de salvar o paciente e uma família que não permite a realização desse processo.
Outros preferem não fazer a doação de órgãos de algum familiar, por entender que a pessoa deve ir para o outro plano sem faltar pedaços, na sua integralidade, como aportou por aqui.
Quem tem um ente querido precisando de um órgão não entende as razões de alguém se negar a dar condições de uma vida melhor a outra pessoa. Essa defesa poderia até ser reforçada com o princípio religioso do “ama ao próximo como a ti mesmo”.
Aqueles situados numa posição oposta, com um parente à beira da morte, podem colocar dúvida na Ciência e acreditar numa possibilidade de cura e consequente sobrevida do ente querido. Essa tese também tem o reforço da fé religiosa. Inclusive, pode reforçar essa posição a tese de que alguém só se torna santo se possuir dois milagres comprovados. Ou seja, quem assim se posiciona tem todo direito de acreditar que seu parente venha a ser merecedor de um milagre.
Apesar de parecer contraditório comprovar milagres, não se pode negar que se trata de um requisito exigido para a beatificação de alguém. E se exatamente aquele parente for o merecedor desse feito?
Apesar de tantos conflitos, o que deve merecer uma análise leve, confortável, segura é que todas as crenças, a fé, os rituais colocam a vida em primeiro lugar. Todos eles são meios de se tornar a vida um pouco melhor.
Não se deve expressar um conceito taxativo, atribuindo a quem doa o atributo de “correto”, nem considerando “errado” aquele que opta por não doar. Mas, quem escreve deve passar algum elemento para fortalecer um dos lados.
Como a vida é o bem mais importante neste plano, a dor da família doadora deve ser reconfortada com o bem gerado à outra parte. Também não há dúvida quanto a se tratar de uma decisão extremamente difícil. Ao doar, a família vai dar vida a quem recebe e aliviar o sofrimento de todos os envolvidos, especialmente dos familiares do receptor.
O bem suplanta qualquer dor. Praticá-lo é defendido por qualquer religião, crença ou filosofia de vida. Doar órgãos só traz o bem para todos e talvez seja a maior demonstração de amor que exista.
Pedro Cardoso da Costa
Bacharel em direito
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