Sexta-feira, 8 de maio de 2015 - 20h04
“Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista”.
Dom Hélder Câmara
Uma figura humana das mais respeitadas no Brasil e reconhecida internacionalmente. Dom Hélder é considerado a personagem política-religiosa mais importante do Brasil do século XX, acima de tudo um obcecado pela justiça social, um humanista da maior grandeza e estatura.
Sua trajetória desde o início, foi forjada na luta incansável em defesa dos mais pobres, por uma igreja mais próxima do povo e uma postura intransigente contra o regime militar, durante o período da sua vigência e, sempre a favor dos direitos humanos.
O documentário “Dom Helder Câmara – O santo rebelde”, de Érika Bauer, resgata a história desse cidadão brasileiro, cujo legado marcou várias gerações, e se tornou exemplo de abnegação e amor aos mais desvalidos.
Costumava dizer que as palavras para serem verdadeiras, deveriam se constituir em ações concretas. Nesta perspectiva o seu legado é uma obra viva.
Uma figura aparentemente frágil, mas por onde passava, calava multidões, tanto no Brasil, como nos países aos quais teve a oportunidade de visitar, e não foram poucos. As suas mensagens e ensinamentos, onde quer que fosse ou em quaisquer circunstâncias, eram carregadas de otimismo, de sabedoria, simplicidade, mas tinha um vigor que arrebatava as pessoas, pela verdade e honestidade com que as transmitia. Um eterno arauto do amor ao próximo e da paz entre os povos.
Pelas suas convicções na defesa inarredável dos direitos humanos e no combate a violência, se tornou um inimigo figadal do regime militar. Durante muito tempo, teve sua voz e escritos, proibidos de serem veiculados em todos os meios de comunicação brasileira, uma agressão abominável pela usurpação aos direitos de um cidadão manifestar-se livremente, em favor da justiça, da liberdade e o respeito aos direitos da pessoa humana.
Dom Hélder marcou sua história no Brasil e no mundo, como apóstolo, arcebispo e cidadão, participando efetivamente de um cem números de realizações. Foi um dos fundadores da CNBB em 1952, esteve à frente de inúmeros projetos, junto a instituições não governamentais, religiosas e oficiais, participando ativamente de atividades e ações, sempre em prol da justiça, da paz, da cidadania e da promoção humana.
A censura que lhe foi imposta, ao invés de calá-lo, o tornou cada vez mais, cidadão do mundo. Proferiu conferências e palestras em universidades e outros espaços, nos EEUU, Japão, Europa e África. Com o seu carisma, fez a sua pregação libertadora, ecoar pelas Nações que o acolheu, sempre na defesa incansável dos pobres, dos oprimidos, numa denuncia permanente contra a exploração dos povos subdesenvolvidos.
Pela sua trajetória religiosa, e seu engajamento na luta social, ganhou notoriedade, respeito, credibilidade e reconhecimento no Brasil e mundialmente. Os prêmios, homenagens e agraciamentos são provas inconteste de tudo isso. Foram mais de 600 honrarias.
O primeiro título foi-lhe concedido em 1969 de doutor honoris causa pela Universidade de Saint Louis, Estados Unidos. Seguiram-se outros, num total de 32, recebidos no Brasil, Bélgica, Suíça, Alemanha, Países Baixos, Itália, Canadá e Estados Unidos.
Foi intitulado Cidadão Honorário em 28 cidades brasileiras. Recebeu a mesma honraria na cidade de São Nicolau na Suíça e Rocamadour, na França. Ainda os Prêmios de Martim Luther King, nos Estados Unidos e Prêmio Popular da Paz na Noruega.
Em 1970, foi indicado pela primeira vez ao Nobel da Paz. O que se sabe, tanto nas hostes brasileiras quanto internacionais, é que o governo brasileiro, sob a égide do regime militar que o tinha como inimigo, não o queria em hipótese nenhuma com essa honraria, pois seria um reforço aos seus ideais de uma Pátria livre, totalmente contrário aos postulados autoritários e ditatoriais do governo militar.
Seguiram-se mais três indicações, 1971 a 1973. Nunca um brasileiro teve a mesma deferência a indicação do Nobel da Paz como Dom Hélder, prova insofismável da sua importância, na luta pela solidariedade, pela paz, em favor dos pobres, da não violência e da fraternidade universal.
A sua indicação ao Nobel de 73, foi o mais gritante. Tinha ampla maioria de aceitação, basicamente um consenso. Há veiculação de informações que o seu nome até foi eleito e que pela interferência da diplomacia brasileira do governo autoritário militar, acabou não recebendo o prêmio que foi parar nas mãos de Henry Kissinger dos Estados Unidos e o norte-vietnamita Li duc Tho.
Mais umas vez, um sistema truculento de uma ditadura militar, prestando um desserviço ao exercício da democracia e do reconhecimento a uma figura humana que só pregou a paz, o amor e se preocupou com a miséria do mundo. Deixamos de ser referência mundial através de uma referência nacional, por puro capricho e vilania de um regime. E ainda existem pessoas com saudades desses tempos, ao ponto de reivindicar o seu retorno.
Para reparar essa tremenda injustiça, em 10 de fevereiro de 1973, em cerimônia realizada com o governo de Oslo, por iniciativa de um abaixo assinado realizado nas nações europeias, em protesto contra a decisão de não nomearem Dom Hélder Câmara ao Nobel da Paz naquele respectivo ano, foi-lhe garantido a metade do Prêmio Alternativo da Paz, no valor de 150 milhões de libras italiana. Um reparo, no mínimo digno, a alguém que dedicou toda sua vida em favor dos mais pobres, dos oprimidos, na valorização dos povos subdesenvolvidos em todo mundo e na construção da paz, da solidariedade e contra todo tipo de violência e ódio.
Uma figura extraordinária sobre todos os ponto de vista. Polêmico pela defesa intransigente dos valores mais universais num regime de exceção. Figura dócil, carismática e humana, “demasiadamente humana”, numa citação nietzschiana, um cidadão cuja obra é reconhecida universalmente. Para finalizar, um dizer de Dom Hélder emblemático:
“Não te irrites se quem te procura,
se quem te vem falar,
não consegue traduzir
o tumulto que traz consigo...
Mais importante
que escutar as palavras
é adivinhar as angustias,
sondar o mistério,
escutar o silêncio...”
Fonte: Prof. Edilson Lôbo - UNIR/RO
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