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Dominados pelo ódio


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Depois de uma campanha áspera, John McCain, o candidato republicano derrotado, cumprimentou o vitorioso Barack Obama e desejou-lhe boa sorte. Depois de tudo o que um havia dito do outro? McCain explicou: “Ele era meu adversário. Agora é meu presidente”. Churchill considerava o rival Attlee uma espécie, digamos, de chuchu. Mas os dois trabalharam juntos, e bem, no comando da Inglaterra, na Segunda Guerra Mundial.

 

Em política, ao menos, o brasileiro nada tem de cordial. Perpetuam-se os ódios e buscar acordos se torna difícil. O adversário é inimigo; não se aceita a divergência de ideias – talvez porque ambos os lados não as tenham. Dois ministros de Bolsonaro, Vélez e Weintraub, ameaçam demitir petistas, não por falta de capacidade e dedicação, mas por serem petistas. Haddad, batido nas urnas, faz insinuações rasteiras sobre amizades do filho de Bolsonaro. Um advogado (que defende os nove militares que deram 80 tiros num músico que deu o azar de passar por perto) deve receber do Ministério da Defesa a Medalha da Vitória. A notícia publicada num grande jornal sobre a medalha trata só das mortes, como se, em vez de advogado, fosse ele um atirador. E menciona a data da entrega, 8 de Maio, como “um mês e um dia após a morte do músico” – esquecendo que 8 de Maio é o Dia da Vitória sobre o nazismo.

 

Há projetos importantes no Congresso a discutir, mudar, aprovar, rejeitar. Que tal analisá-los, em vez de votar pensando só em quem o apresentou?

 

Data boa

 

Hoje seria uma boa data para que nossos políticos repensassem suas atitudes e deixassem de raciocinar com o fígado (como dizia o lendário dr. Ulysses, política não é função hepática). Hoje é Domingo de Ramos, é Páscoa; hoje é aniversário da morte de Tancredo, que levou muito povo às ruas para lamentá-lo, independentemente de divergências políticas; hoje é o Dia de Tiradentes, que morreu para que o Brasil pudesse ser livre. Seria um dia ótimo para que, em vez de trocar insultos, os brasileiros trocassem ideias.

 

Reconhecendo

 

Os ministros Dias Tóffoli e Alexandre de Moraes são, como eles dizem, firmes defensores da livre expressão do pensamento. Verdade: conseguiram transformar uma reportagem enviada a alguns poucos milhares de pessoas num fenômeno de leitura global em todo o país, viralizando-a na Internet.

 

Do lado de lá

 

Ninguém é obrigado a gostar do ministro Alexandre de Moraes (ainda bem!) Mas não é preciso exagerar nas restrições a ele. A imprensa noticia que, no decorrer da Operação Acrônimo, foram encontrados documentos sobre o pagamento de R$ 4 milhões, pela JHFS, ao escritório de advocacia do hoje ministro. E daí? Daí que os pagamentos foram feitos e recebidos na forma da lei, por serviços jurídicos. Seria uma maneira de agradar um futuro ministro? Dificilmente: na época, de 2010 a 2014, os presidentes eram Lula e Dilma, e Moraes era mais próximo da oposição.

 

Alguém pagaria propina a um advogado e professor universitário afastado dos Governos petistas? Mas as reportagens saem enormes, com o objetivo de desgastá-lo. Objetivo, para usar a linguagem dos tribunais, despiciendo: desgastar-se, ele o faz sozinho.

 

Previdência, enfim

 

O acordo parece estar fechado: a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara deve votar a aceitação da reforma da Previdência neste início de semana. Os parlamentares falam em votação na terça-feira. Pode ser, mas a quarta é mais provável, com mais tempo para que os deputados que se esfalfaram no fim de semana para ouvir as bases possam voltar a Brasília. E tudo indica que será aprovada, com pequenas mudanças, ficando pronta para ser submetida ao plenário. O Centrão, grupo parlamentar formado por gente de vários partidos, mas que atua com união invejável, desde que lhe permitam sacrificar-se e participar das tarefas de Governo, é pró-reforma.

 

O que se espera

 

Se aprovada, preveem economistas (e não apenas os do Governo), é possível que a economia brasileira retome rapidamente o crescimento e receba ainda neste ano muitos investimentos estrangeiros.

 

Cem bi

 

A primeira grande rodada de investimentos pode ocorrer no final de outubro, com o grande leilão de petróleo do pré-sal. Será fácil verificar se houve ou não alta dos investimentos: hoje, antes da reforma da Previdência, espera-se obter pouco mais de R$ 102 bilhões. Pequenas baixas ou altas não importam, fazem parte do jogo. Mas se o valor superar em muito os R$ 102,5 bilhões, será sinal de que a economia já prepara o período de reaquecimento.

 

Segurança?

 

São Paulo, o Estado mais rico do país, tem mais de 13 mil vagas não preenchidas na Polícia Civil – aquela encarregada de investigar crimes. Caso essas vagas não sejam preenchidas (e não há indício de que o Governo pense nisso) não há condições de Polícia alguma trabalhar direito.

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