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DUELO DE TITÃS


DUELO DE TITÃS - Gente de Opinião

Por: Altair Santos (Tatá)

Essa é pra não dizerem que só falo dos outros. Ou seja, nem eu mesmo escapo da minha comprida e envenenada língua. Acontece que esse amigo de vocês está em luta ferrenha, com uma gripe daquelas de fazer gemer e chorar os trilhos de histórica EFMM. Pensem numa gripe maluca, dói o as juntas, os músculos, os olhos, os ossos da face e até os dentes, deixando o camarada jogado na lona. A gripe é tão forte que é arriscado alguém passar a dez metros de mim e seus ossos logo começarem a doer e a pessoa cair estatelada, dando apenas como sinais vitais de sobrevivência, sessões incontidas de espirros e gemidos quase inaudíveis. Pense na gripe braba!

Pra me acudir nessa agonia dona Luzia, minha dedicada, carinhosa e amável mãezinha, do alto dos seus 80 anos de idade, entrou em cena e, sem pestanejar, tratou de convocar o seu poderoso exército anti-gripe pra agir em defesa de seu avariado e indefeso rapaz. De imediato, lá da pequena horta no fundo do quintal foi chamado um numeroso pelotão cujos soldados atendem pelos nomes de alfavaca, manjericão, folha de eucalipto, capim santo, erva cidreira, cabacinha, mucuracaá, limão galego, pião jalapa, galhos de melão são caetano e até raiz de corageira, a planta da coragem (existe essa planta?) Pena que por lá não tinha um pé de cana!

Esse valente efetivo da flora medicinal brasileira uniu-se a dentes de alho, rodelas de cebola, lascas de preciosa e pau tenente, além de ganhar o reforço e poderio dos mais afamados fármacos que habitam a ciência e conhecimento interiorano da dona Luzia e que, segundo ela, são tiro e queda nesses casos. Botando fé na variedade curativa, tomei goles e mais goles da receita, me besuntei com óleos e ungüentos, fiz gargarejos e até simpatias mas... não rolou! O resultado não veio e a noite avançou rumo à madrugada. O pobre e avariado Tatá não dormiu, estava à mercê da força e domínio da então implacável gripe. Com o amanhecer, eu, a vítima, me vi com cara de zumbi anêmico e com aquele bafo de tirador de espírito, causado pela ingestão da mistura que além do alho, associa outros tantos ingredientes daquele menu medicamentoso.

A tal gripe, dura na queda, forte e resistente como um lutador de MMA, se fez bravia, feroz. Heroicamente, resistiu ao pesado bombardeio e a artilharia do coquetel que tinha chá de alho com limão, aspirina, folha disso e raiz daquilo, infusão de não sei o quê, casinha de besouro misturada com mel, num melaço até gostosinho, vick vaporub pra passar no peito, na testa e nas costas, além de outras gororobas.  As sete da manhã eu estava ali na mesa do café, leso, tonto, zonzo, guenzo e quase jogando a toalha. Placar do jogo, por enquanto: Gripe 1X 0 Tatá.

Mas a coisa não podia ficar assim! Após um demorado banho e uma xícara de café e pão com ovo, levantei a moral! Chamei a gripe num canto, fiz cara feia e disse a ela em conversa e tom nada familiar: olha aqui sua sem vergonha, hoje é tudo ou nada, vamos tirar isso a limpo e encerrar essa peleja de vez, esteja pronta sua vagabunda, sua égua, sua vadia e infeliz transeunte urbana. Isso mesmo, a tratei com ofensas em plano rasteiro, em nível baixo, sacaneei verbalmente sem dó, a gripe indesejável.

E já me preparando pro grande pega de logo mais, me pus a planejar uma ação, uma saída eficiente, funcional, infalível, o golpe certeiro e fatal, o tiro de misericórdia no quengo da maldita gripe. Mas como seria essa minha reação? O que faria eu para o combate derradeiro e decisivo já que as armaduras medicinais e naturais, dadas por minha mãe não surtiram o efeito desejado? E me pus a pensar! No calor e dúvida do pré-combate, quando já não esperava por uma luz, uma bússola norteadora, eis que se me veio um estalo à mente! Já sei, vou levá-la a um bar, lá é território onde esse amigo de vocês conhece, passeia e trafega como poucos. Lá ela será encurralada e terá o seu destino selado numa mesa de bar, tipo como na música ronda, de Paulo Vanzolini.

Pra não estragar a surpresa e pra que ela não nos ouça, em silêncio vamos confidenciar: hoje no final do dia, sairei de casa com uns trocados no bolso e rumarei pra Avenida Calama, rumo ao Bar do Pernambuco. No local, outra vez a gripe será chamada a sentar-se á mesa, como fosse uma convidada ilustre, desejada. E quando ela nem bem esperar, como cartão de visita, só pra assustá-la, mandarei pros peitos uma considerada dose conhaque, precedida de uma caipirinha caprichada no limão. Sem dar refresco, pedirei pitu e velho barreiro, tatuzinho, januária e katira, algumas afamadas cachaças pra estufar o peito. Aí sim é um esquadrão de peso, de gabarito.

Depois, pra sacramentar a conquista, já a bordo de umas tantas cervejas na idéia, é só ficar de olhos grudados na TV e assistir a reviravolta do Botafogo no brasileirão, pra cima do perigosíssimo Náutico Capibaribe, de Recife. Duro haverá de ser, se a gripe insistir em ficar e o time pernambucano achar de tirar o meu glorioso fogão pra brincadeira. Saúde!

tatadeportovelho@gmail.com   

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