Sábado, 18 de abril de 2015 - 07h55
Professor Nazareno*
Adoro viajar, mas como não tenho dinheiro, tempo e nem boa saúde, quase não saio do Brasil. Há pouco mais de dois anos, no entanto, estive na Alemanha visitando algumas de suas belas e encantadoras cidades. Estava em Munique na Baviera e decidi visitar Duisburg, cidade industrial e portuária de aproximadamente 500 mil habitantes, localizada no Estado alemão da Renânia do Norte, no vale do Ruhr. Maior porto seco da Europa, esta encantadora metrópole germânica tem, portanto, quase a mesma população de Porto Velho, nossa feia, suja e desorganizada capital. Situa-se na confluência dos rios Ruhr e Reno a poucos quilômetros da fronteira com a Holanda e a apenas 20 minutos de trem de Dusseldorf e de Dortmund, as maiores cidades da região. Esse mesmo número de habitantes é a única coincidência de Duisburg com a nossa fedorenta Porto Velho.
Como sofro da “Síndrome de Vira-Latas”, fiquei encantado e de boca aberta quando cheguei à Estação Central (Bahnhof Apotheke) desta linda cidade. Tudo limpo, organizado, pontual e funcionando no melhor estilo germânico. O trem devia chegar exatamente às 4 horas e 52 minutos da tarde. E para o meu espanto, chegou às 4h52. Recebi ali mesmo informações em Alemão, Inglês e Português de como me deslocar pela cidade e visitar os principais pontos turísticos. Meu Deus! Quanta diferença quando se chega a Porto Velho. Na nossa imunda, sem nenhuma limpeza e pouco cheirosa rodoviária, devemos agradecer aos céus se não formos roubados ou importunados com pedintes que não nos deixam em paz. Em Duisburg, o cheiro das flores em duas praças próximas dali contamina o ar com a fragrância dos mais nobres e caros perfumes.
A charmosa Avenida Friedrich Wilhelm, que liga a estação de trem ao centro da cidade, é um deslumbre só. Motoristas super educados que respeitam os pedestres é uma rotina normal de se ver. Bem diferente da nossa desarrumada e suja Avenida Carlos Gomes, por exemplo. Nunca vi tanta gente limpa, cheirosa, inteligente e educada convivendo juntas. Naquela charmosa avenida, e em outras ruas da cidade, é impossível encontrar uma única garrafa Pet, pedaços de papel ou qualquer outro entulho de lixo jogado ao chão, enquanto por aqui... Como pode esta gente sisuda e disciplinada ter criado o Nazismo em tempos passados? Raciocinei intrigado. Em Duisburg tem metrô, o Stadtbahn, com pelo menos 13 estações. Pense num lugar limpo e asseado. Em cada estação, a composição para no horário previsto e a pontualidade chega a ser enfadonha.
Tudo funciona naquela cidade. O porto fluvial é uma loucura de tanta eficiência. Nunca vi tanta limpeza e organização em toda a minha vida. Nos dois rios que cortam a cidade é impossível ver qualquer coisa boiando em suas quase transparentes e limpíssimas águas. Nem um absorvente feminino usado se vê ali. O aeroporto que serve à cidade é “internacional de verdade” e recebe voos de várias outras cidades da Europa e do mundo. Duisburg tem um prefeito. É Sören Link, do SPD, o Partido Social Democrata Alemão. De ideias arrojadas e dinâmicas, é um jovem de apenas 38 anos. Porto Velho também tem um prefeito. É o médico Mauro Nazif, que dispensa quaisquer comentários. A pérola do Reno faz jus ao nome enquanto aqui somos o monturo, o lixo. Os índices de corrupção e violência naquela cidade estão muito próximos de zero e não vi nenhuma obra inacabada por lá. Será que já sucumbimos ao caos e à barbárie?
*É Professor em Porto Velho.
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