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Em busca de uma nação



Bruno Peron

O Brasil testemunha um momento de agitação cidadã que se deve ao furor eleitoral e às circunstâncias instáveis e incertas que afligem o país, principalmente a inflação e a insegurança. Levanto, neste texto, o argumento de que nossa busca de uma nação justifica tal energia.

Resultamos de uma imposição institucional que busca a concretização íntima de uma nação. Desse modo, acima da necessidade de encontrar um culpado de nossas mazelas, não deveríamos olhar-nos no espelho como indivíduos senão como comunidades em busca de uma nação.

Por isso, há tantas desavenças entre os discursos programáticos de candidatos a cargos importantes de governo que ora veem o Brasil como credor de participação maior do Estado, ora como de envolvimento maior do mercado. Assim se sintetizam os programas de governo dos dois candidatos à Presidência no segundo turno.

No entanto, a necessidade do Brasil é, antes de qualquer medida, encontrar-se como nação em vias de cidadanizar-se. Neste raciocínio, não tenho dúvida de que o país precisa de uma guinada na maneira em que sua população se instrui para que tomemos o gosto pelo desenvolvimento de arte, cultura e educação.

Logo, num cenário ideal em que os brasileiros valorizemos as artes, as culturas e as educações, teríamos um impulso ao desenvolvimento humano que não partiria primeiramente do Estado ou do mercado. Esse impulso teria origem, portanto, no nosso desejo de progredir e ajudar também aqueles que crescem em nosso meio e em nosso país.

Não imagino, com este argumento, que o Brasil esteja preparado ainda para ser uma potência mundial, como muitos estadistas acreditam. Eles falam de “potências emergentes”, de grupos dos tantos países mais influentes no mundo em que o Brasil apareceria com China e Índia. Contudo, a crise de governabilidade no Brasil lhes passa despercebida.

Talvez um dia tenhamos motivo para ser exemplares. Acredito que esse dia virá, embora haja muito trabalho pela frente. Por enquanto, há que resolver mazelas graves de negligência artística, cultural e educativa que atravancam o país num cenário de atraso econômico (aonde produtos tecnológicos chegam tarde e caros) e de atraso cívico (onde a cidadania se confunde com o ato recatado de votar a cada dois anos).

O ser brasileiro tem sede de transformação e não mediria esforços para fazer sua reforma íntima, cultural e educativa. É preciso, para essa finalidade, que os agentes responsáveis pela instrução olhem o poder como uma ferramenta benéfica para o progresso de uma nação, tal como indiquei no início deste texto, e para a formação de cidadãos.

Por enquanto, vemos que os responsáveis pela orientação de todo o Brasil digladiam-se através dos meios de comunicação como se o poder fosse aquele osso de que nenhum cão raivoso abre mão. A população, enquanto isso, assiste atônita e impotente a tantas impurezas de ânimo.

A função instrutiva no Brasil é extremamente importante para a fase de transição do país a uma nação concreta devido ao número elevado de habitantes sedentos de arte, cultura e educação.

Não tenho dúvida de que, cedo ou tarde, o Brasil encontrará seu caminho diante de tanta incúria e tanta desinformação, mas acredito que a instrução será o primeiro grande passo nessa vereda.

Temos que aprender a unir o útil ao agradável. Assim, aproveitaremos os avanços científicos e tecnológicos a favor do nosso crescimento como cidadãos e do progresso do Brasil em sua consolidação como nação.

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