Domingo, 16 de fevereiro de 2014 - 15h08
Por Marli Gonçalves
Vou tentar explicar essas coisas todas que estamos vendo por outro ângulo. O estético. Jovens estão simplesmente criando caricaturas de si mesmos, clones, como os das histórias e games, para assim, creio, viverem suas aventuras. O problema é quando caem em si e sentem na pele a trombada. A prova disso tem desfilado na nossa frente nesses dias de arrancar máscaras por aí. Eles se enfeiam não só para se manifestar livremente pelas ruas quebrando aqui e ali ou postando fotos nas redes sociais, mas também para serem aceitos em seus grupos, serem diferenciados, os "tais". Ouviram cantar o galo em algum lugar e vão atrás, como se não houvesse o amanhã. O resultado é que estão se enfeando de uma forma inacreditável, de assustar pobres criancinhas. E muitos assim ficarão eternamente. Sentimos muito.
Não deixam de ser máscaras. Vejam os dois seres que acenderam o rojão assassino, e que agora parecem mais uns ratos amedrontados por gatos. Um foi reconhecido rapidamente justamente pela tatuagem. O outro, pelo suor e agressividade em protestos. Como as coisas estão novamente - a meu ver - ficando meio, digamos, obscuras, a tia aqui vai lembrar o que fazíamos nos tempos negros. Bobagens preciosas. Jamais usar adesivos, por exemplo, em carros, para não marcá-los, e assim poder despistar os seguidores, sempre em nossos calcanhares. Muito menos tatuagens que naquela época já eram meio caminho andado para a prisão, onde geralmente eram feitas a ferro e fogo.
A tal Cininho, esse fio desencapado que nem escreve certo seu próprio apelido, Sininho, e que é tão metida que é capaz de provocar jornalistas em pleno luto, deveria ser é Narizinho, porque o arrebita de uma forma espetacular, já está manjada com sua argolinha pendurada na napinha. Agora vai ter mesmo de ser blackboc para, mais mascarada do que já é, ir para as ruas fazer bobagens, dizer bobagens. Essa, nem com pó de pirlimpimpim para aturar. A turma dela é composta de gente igual, como fabricados em série, peões descartáveis. Mas se acham.
Gays capricham em trejeitos, vozinhas e expressões entre gritinhos; outros, os "modernos", como chamo, capricham em buracos nas orelhas, alargadores que ainda bem, espero, só usem nas orelhas, porque são rombos quase maiores que os encontrados nas ruas de São Paulo. Especialmente capricham no olhar, uma coisa meio "sou superior". Agregam cabelos, óculos de aros pesados, roupas, mas tudo tem de sempre estar no status do que eles decidem, senão são os primeiros a olhar com certo esgar, cara de enjoo. Outro dia reparei até numa nova onda, mas que raramente fica bem: jovens pintando os cabelos de ...grisalhos! Em brancos, cinzas. Fica todo mundo muito feio. Sabe criança com cara de velho?
As meninas agora fazem tantas tatuagens nas pernas (talvez pensem que se precisarem podem usar calças para cobrir?) que, se você olha meio distraído pensa que se borraram e a coisa escorre pelas pernas. Até porque fazer uma boa tatuagem é caro; colorida, mais caro ainda. Então recorrem ao risco preto, de gente que sabe tatuar tanto quanto acender rojão, e vira tudo um enorme e pavoroso rascunho. Fora a mistura de elementos, do tribal, ao bobinho, às palavras de fé, e por aí vai. Como diz um jornalista amigo, entre os melhores, também totalmente tatuado, e muito bem: quando a polícia parar vai dizer "não sei se te prendo ou se te leio". No caso desses meninos e meninas, eles vão ler e cair na risada!
Ah, tem mais. Pelo outro lado, que horror esses meninos todos carecas ou quase, cortados rente com corte de Exército, do qual antes todos fugiam inventando as mais terríveis doenças, pés chatos e caolhices. Fazem horas de musculação - muitos ficam coxinhas, literalmente, porque as pernas ficam fininhas segurando um troncão. Parecem todos saídos de um ringue de qualquer coisa, bombados por pilulinhas mágicas e proteínas e albuminas que os fazem soltar gases praticamente tóxicos, dos quais riem entre si, amarelinhos. Eles não eram pitboys? Como chamam agora, sem os cachorros que entraram em desgraça pública?
Ninguém pode me acusar de careta. O que me dá o direito de gargalhar a qualquer reles tentativa. Também nem tentem me tachar de conservadora ou qualquer coisa dessa linha. Aproveito e já digo que gosto muito de tatuagens, de vê-las, as bonitas, e um dos meus melhores amigos é tatuado literalmente da cabeça aos pés. Mas ele é lindo, tem a ver com isso, trabalha e vive justamente desse mundo que criou, além de ser uma das pessoas mais dóceis e inteligentes que conheço. A vida inteira se tatuou e é quase a sua própria e autorizada biografia ambulante. Essa semana acrescentou um Brasinha, lembram dele? Para ser gente, tem de saber o que faz, onde pisa. Aguentar o tranco.
Se você que está aí lendo já usou cabelos bem compridos, óculos redondos, fitas e flores nos cabelos, túnicas indianas e calças bocas-de-sino, entre outras alegorias, já estou vendo um leve sorriso de alegria e alívio por lembrar que nada disso ficou grudado em sua pele, e que pode mudar sua vida muitas vezes. Aliás, pode até usar tudo de novo porque está super "na moda".
Temo que os novos feiosinhos e cabulosos se arrependam quando entenderem, mais para frente, que nem todos serão publicitários, artistas ou designers de sucesso. E que não há borracha que apague tantas burradas.
São Paulo, 2014
Marli Gonçalves é jornalista - Pronto, falei. Mas é que tenho encontrado seres verdadeiramente assustadoramente sem sentido e acabo tendo pesadelos depois.
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