Domingo, 17 de julho de 2016 - 14h02
Jair Queiroz
O conceito de adolescência como conhecemos hoje surgiu apenas no início do século XX, com Stanley Hall (1844-1924), considerado o fundador da psicologia do adolescente, porém em todos os períodos da história, o jovem, a pessoa em processo de amadurecimento, sempre foi encarada como uma ameaça aos costumes, à segurança e ao bem estar da coletividade. Esse período da vida, espremido entre a dependência acolhedora do mundo infantil e a independência assustadora do mundo adulto, é marcado por intensa instabilidade emocional que gera comportamentos destoantes dos padrões sociais e são vistos como atos de rebeldia e irresponsabilidade. Contudo, essa “normal anormalidade”, como alguns autores denominam, é necessária e transitória e quando ocorre em ambiente social ordeiro, acolhedor, protetor e educativo, tende ao amadurecimento e ao equilíbrio, porém perdura quando a desorganização interna é muito intensa. Essa desorganização decorre de vários fatores, com preponderância aos ambientais/familiares, donde concluímos que adolescentes disfuncionais são oriundos de famílias disfuncionais, na mesma medida em que famílias disfuncionais são frutos de sociedades disfuncionais. Filhos de pais que fazem uso abusivo de álcool ou outras drogas, que sofrem de problemas mentais ou psicológicos graves, que se ofendem e se agridem, são extremamente rigorosos e punitivos ou, ao contrário, são demasiadamente relapsos na atenção e na educação, são mais predispostos à prática de atos infracionais. Se ampliarmos essa perspectiva para os fatores de proteção da sociedade, encontraremos paralelo nas questões relativas às políticas públicas, especialmente no que tange à saúde, segurança e educação, levando-nos a concluir que o comportamento dos adolescentes de hoje é reflexo dos descaminhos da nossa sociedade e não o inverso como querem nos convencer. Vitorino Andreoli, psiquiatra italiano, durante a V Conferência Mundial sobre Drogas, em Roma, falando sobre o envolvimento de adolescentes nesse contexto, disse: “Acusam os adolescentes de serem irresponsáveis e ousados, mas vejam em que mundo horrendo eles estão inseridos, mundo gerido por adultos que dão maus exemplos”. Concordo plenamente!
Qualquer pessoa suficientemente saudável do ponto de vista psíquico/emocional/social e moral repudia crime de qualquer natureza e tem razão de ficar indignado com tanta violência, mas defender que adolescentes sejam punidos com prisão nessas pocilgas chamadas cadeias, como uma maioria deseja, é dar um tiro no próprio pé. No sistema prisional falido que dispomos, onde nada de bom entra, pior ainda é o que sai. O dever do estado é reeducar o criminoso, adulto ou adolescente, reinserindo-os na sociedade como pessoas produtivas, o que demanda investimento e competência, coisa que nos falta para lidar com a questão. Mas como está também não pode ficar, então que se aprove uma reformulação no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) aumentando o tempo de internação nos casos de crimes violentos, mas que se mantenha aos menores o direito de acolhimento em ambiente diferenciado, com acesso aos estudos e à assistência psicossocial, além do que se invista na capacitação dos sócios-educadores que atuarão nos cuidados a eles.
É contraditório nos indignarmos com o triunfo do mau-caratismo na política, o esvaziamento do conceito de ética e a imoralidade no trato com a coisa pública, com os quadrilheiros, servidores públicos, que se coadunam para extorquir o fisco e ao mesmo tempo elevarmos a voz pedindo a responsabilização dos menores pelas mazelas sociais.
Se a sociedade adulta cuidasse melhor das suas atitudes egoístas, do egocentrismo doentio, da ganância pelo dinheiro, sanha de sucesso a qualquer preço e o cada vez mais evidente desprezo pela vida e a dignidade humana, sequer cogitaríamos encarcerar osnossos púberes. Afinal, se há um filho mal educado é porque houve um responsável que o educou mal.Quem será ele?
Jair Queiroz– Psicólogo e Pós Graduado em Segurança Pública.
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