Sexta-feira, 14 de junho de 2013 - 23h02
Ernande Segismundo
Rondônia é o estado que possui os mais belos e caudalosos rios do Brasil. Possui um povo valente e heroico que adentrou estas florestas inóspitas para os ocidentais no fogo dos braços, dos ombros e dos dentes para construir dignidade para milhares de famílias que para cá vieram na última leva migratória dos anos 70 do século passado em busca de terra, oportunidades e dignidade.
Muitas dessas famílias erigiram empreendimentos desafiadores nestas terras e grandes fortunas á ferro e fogo de modo que o Estado possui hoje uma elite econômica muito poderosa, encastelada sobretudo no interior do Estado.
Por tudo isto, Rondônia é um caldeirão étnico e cultural impressionante. Cada recanto do Estado apresenta formatação cultural própria originária do Sul, do Sudeste, Centro Oeste e Nordeste brasileiro.
Porto Velho, apesar da intensa presença de migrantes, conserva intactos aspectos culturais herdados das primeiras levas humanas que aqui desembarcaram no início do século XX como nordestinos e barbadianos que receberam de bom grado os libaneses e posteriormente, nos 70 e 80 do século passado, gente de toda parte do Brasil.
No olho deste caldeirão cultural é inegável a dificuldade de formulação de políticas e agendas culturais para a capital e para todo o Estado.
O Governo do Estado na verdade nunca conseguiu formular e executar políticas públicas de cultura, até porque este é um assunto que nunca interessou àqueles que geriram o Estado desde a sua criação.
O único Governo genuinamente portovelhense e rondoniense, que foi o Governo Piana nos 90, não tinha noção alguma do tema até porque os tripulantes daquela nave errante, apesar de representarem a elite econômica e política da capital e do Estado na época era eminentemente ignorante em matéria de cultura. O progresso e a sofisticação cultural, para boa parte deles, era ter um apartamento em Miami, de preferência adquirido com dinheiro público pilhado da viúva beradeira.
Faço esta reflexão a propósito das recentes notícias sobre as dificuldades da realização do maior evento cultural do Estado que é o Festival Cultural ‘Flor do Maracujá’ no momento em que acompanho diariamente o monumental Festival Cultural de Curitiba em abril passado que atraiu artistas dos quatro cantos do mundo e possui um orçamento de muitíssimos milhões de dólares.
Observe-se que digo Festival ‘Flor do Maracujá’ ao invés de ‘Arraial’ porque este evento já ultrapassou há muito uma quermesse de bairro para se tornar a maior atração cultural do Estado de Rondônia graças ao abnegado empenho de figuras respeitáveis no âmbito cultural da Capital como José Monteiro, João Zoghbi, Nazaré, o saudoso Flávio Carneiro e mais recentemente nosso abnegado Sílvio Santos Zé Katraca, dentre outros.
A administração do Estado, tal qual as mais atrasadas repúblicas africanas, não consegue formular um planejamento mínimo de um ano para o outro em matéria cultural ou em qualquer assunto de gestão pública.
O Estado rondoniense caminha sempre como um cachorro correndo atrás da linguiça presa ao próprio corpo à qual não alcança jamais, não logrando jamais pensar um só minuto à frente do tempo.
Não há humilhação maior para o Setor Cultural que correr atrás de emendas parlamentares para implementar eventos culturais. Emendas estas que se são de R$ 500 mil, R$ 300 mil certamente retornarão de um modo ou outro para os bolsos dos próprios parlamentares que bancaram as emendas, isto às vistas cegas do Ministério Público e do Tribunal de Contas do Estado. Todos, rigorosamente todos, sabem como funciona o ‘esquema’. Depois da saúde e da educação, o setor cultural é o maior canal de sangria criminosa do erário.
Venhamos e convenhamos, para sermos dignos com a história, a melhor gestão de cultura que se teve notícia no Estado, foi a do Governo Municipal de Roberto Sobrinho na Capital, que com todos os problemas de gestão deu certo apoio às iniciativas culturais da Capital, ressuscitando, inclusive, o carnaval popular de Rua de Porto Velho.
Depois de Piana, tivermos os governos Raupp, Bianco e Cassol e seguimos agora com o Governo Confúcio, todos rigorosamente brutos em matéria cultural.
O nó da questão é que não há na esfera burocrática estadual uma única cabeça premiada que consiga compreender que os gastos com a cultura não são despesas, mas sim investimento em cidadania.
Porto Velho vem sofrendo seguidamente com o aniquilamento de grandes eventos de massa por obra e graça do próprio Poder Público como o ‘Carnaval Fora de Época’, a ‘Expovel’ e, agora, com o firme propósito estatal de riscar do mapa o Festival Cultural ‘Flor do Maracujá’.
Há no seio da sociedade, é claro, quem celebre e comemore esta seguida destruição dos grandes eventos de entretenimento e de cultura da nossa Capital, mas este comportamento é fruto da perversa ignorância, permeada por mentalidade religiosa obscura e mesquinha.
O Ministério Público do Estado, órgão essencial ao Estado Democrático de Direito, ultrapassa em muito suas prerrogativas quando se intromete na gestão do Estado e do Município, atrapalhando o quanto pode esses grandes eventos. Alguns promotores não agem nestes casos sob o primado da lei, mas sob a égide da denominação religiosa que professam e via de consequência encaram a ‘Expovel’, o ‘Carnaval’ e o ‘Flor do Maracujá’ como inimigos capitais que precisam ser dizimados.
Há quem brade que é um absurdo o Estado subsidiar eventos públicos culturais como o ‘Flor do Maracujá’ e o ‘Carnaval’ por exemplo, enquanto falta verba para a saúde, estradas e educação. Sucede que a cultura é um direito fundamental tanto quanto os demais direitos básicos e essenciais da cidadania brasileira.
Rifar a realização do ‘Flor do Maracujá’ constitui inimaginável desrespeito e afronta do Governo do Estado para com toda uma comunidade dos bairros da nossa Capital que se esmera e ensaia o ano inteiro para celebrar os folguedos juninos com suas belíssimas fantasias e apresentações, envolvendo um sem número de jovens que por meio da cultura são inseridos no contexto da cidadania e resgatados consequentemente da marginalidade delinquente e da influência funesta dos grandes cartéis de drogas instalados na Capital.
Importante salientar que em nenhuma parte do mundo conhecido há eventos culturais de grande porte sem apoio e subsídio do Estado.
Fato é que o Setor Cultural da nossa sociedade precisa seguir se organizando para propor políticas públicas na área cultural tanto para o Governo do Estado quanto para a Prefeitura Municipal de sorte que os eventos culturais não sejam tratados a ‘toque de caixa’ sempre em cima da hora e passem a fazer parte de uma política pública de cultura e de uma Agenda Cultural séria tal qual ocorre em outras unidades da Federação como o Festival do Boi de Parintins, o Maior São João do Mundo de Campina Grande e os outros grandes eventos juninos do Nordeste como Caruaru, Recife e Aracaju.
(*) Ernande Segismundo é advogado portovelhense.
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