Domingo, 2 de fevereiro de 2014 - 07h05
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
A fraternidade na economia é uma premissa determinante na construção da paz. Lamentavelmente, a idolatria do dinheiro tem estreitado mentes e corações, negociações e pactos, em razão da hegemonia exercida sobre o desejo e sobre as razões de viver das pessoas, de povos, grupos e culturas.
Entre as dinâmicas da idolatria do dinheiro, além da mesquinhez que limita as oportunidades de partilhas, apoios e desenvolvimento de projetos básicos para o crescimento das populações, inscreve-se a devoradora compulsão pelo consumo. Conduta que está na base da crise de valores, experimentada em todo o mundo, por reduzir a pessoa ao seu poder aquisitivo.
O desarvoro do consumo gera voracidade e tiranias incontroláveis no íntimo das pessoas, determinando dinâmicas perversas para a sociedade contemporânea. Como enfrentar adequadamente as graves crises financeiras e econômicas deste tempo? O lucro é determinante e deve ser sempre maior. Impõe o esvaziamento antropológico de entendimentos sobre o que é essencial na vida das pessoas, impedindo investimentos, partilhas e apoios. Torna-se meta principal, sacrificando projetos e programas que poderiam fazer a diferença em cenários de pobreza. A lógica do lucro que expulsa a fraternidade das dinâmicas da economia gera outras consequências igualmente preocupantes, tecendo uma rede de violências, perversidades e corrupção. Destrói o que poderia se traduzir em exercícios ricos de fraternidade. O Papa Francisco, na convicção que rege o serviço evangelizador da Igreja, constata e chama à reflexão sobre o afastamento do homem, de Deus e do próximo e sobre o empobrecimento das relações interpessoais e comunitárias como causas fatais dessa realidade contemporânea.
As pessoas são consequentemente empurradas na direção do consumo, na busca do lucro a todo custo e fora da lógica de uma economia saudável. O cenário é de desgoverno e de descontrole, realidade que pesa sobre todos os ombros. Não se pode continuar crescendo e avançando, comprometendo aspectos essenciais, gerando prejuízos irreversíveis, como a perda do sentido fundamental de humanidade que sustenta cada pessoa. O sistema de produção e os meios de comunicação, já dizia o Bem Aventurado Joao Paulo II, têm enorme responsabilidade pela forte influência no dia a dia das pessoas e na formação de conceitos que não priorizam o que, de fato, é importante.
É clara a convicção de que as crises econômicas e suas injunções devem levar os construtores da sociedade pluralista, dirigentes governamentais e cidadãos a repensar os modelos de desenvolvimento e os estilos de vida. Transformações que têm sido claramente indicadas como possibilidades de proteger cada pessoa da agressividade dos mecanismos da sociedade do lucro e do consumo. A mudança de estilo de vida - frisa o Papa Francisco, em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, não pode abrir mão do cultivo das virtudes da prudência, temperança, justiça e fortaleza.
A mudança da sociedade não virá, nem se sustentará, simplesmente pelas dinâmicas próprias da economia, que não possui arcabouço suficiente em si mesma para promover as transformações que a cultura contemporânea necessita. Apostar em outro modelo econômico como solução para as sociedades faria, apenas, aumentar a lista dos fracassos na busca da paz e adiaria a possibilidade de uma justiça social mais abrangente e mais significativa.
A fraternidade sim, tem a energia necessária para mudar a economia. Vivida e cultivada pela força motriz das virtudes tem propriedades singulares e únicas para extinguir a guerra, humanizar as relações econômicas e promover o entrelaçamento de pessoas. A Fraternidade tem o poder de iluminar a inteligência gerando entendimentos que arquitetam pactos sociais e políticos. A fraternidade, como via para a paz, é o caminho novo para a economia.
Fonte: CNBB
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