Domingo, 17 de fevereiro de 2013 - 06h44
O chamado jeitinho brasileiro tornou-se sinônimo de expertise do nosso povo ao longo do tempo. Já foi muito enaltecido, cantado em verso e prosa. É universal entre as camadas sociais. Seu significado é ser contrário à forma correta de praticar algum ato.
Têm algumas condutas tanto mais reiteradas quanto negadas. Quem quer passar no primeiro exame para tirar uma habilitação para dirigir sabe muito bem do que se está falando. Isso vem de muito longe. Em agosto de 1995 a revista Veja São Paulo trouxe na capa a compra de uma carta por 200 reais. A reportagem apontava que a repórter não sabia dirigir. Ela cometera faltas propositais que seriam suficientes para reprovação de quatro candidatos, mas foi aprovada, além de o instrutor ter feito praticamente tudo por ela para evitar mais erros. Assim funciona o Brasil oficial. Quando se paga por fora, vale tudo, mas acontece; quando não, busca-se pelo em ovo e a coisa não anda.
“Limpar” pontos da carteira de habilitação era um negócio tão explícito que faixas tomavam conta de toda a cidade de São Paulo. A lei Cidade Limpa ajudou a diminuir, mas vez outra aparece alguns anúncios. Cada lugar tem o modo próprio dos seus golpes oficializados.
No desfile das escolas de samba no Anhembi é de doer a omissão dos órgãos oficiais. Primeiro, se proíbe entrar com comida e água. Lá dentro, um cachorro quente, apenas com pão, salsicha e alguns grãos de milho custa 7,00 reais. Quando permitem entrar com uma garrafa d’água, que custa 1,50 fora, os controladores da entrada retiram a tampinha “para evitar que atirem na pista”. Lá dentro se consegue as garrafas lacradas com as mesmas tampinhas ao custo de 5,00 reais.
Outro exemplo de golpe corriqueiro é a proibição de tirar fotos com as máquinas próprias em festa de formatura. Nem mesmo contratar um fotógrafo do seu gosto é permitido. É o verdadeiro golpe casado.
No caso dos desfiles, o espaço é público, jorra dinheiro público para as escolas e o evento se torna uma mistura que ninguém sabe onde termina o público nem onde começa o privado.Isso serve para não identificar responsáveis com clareza quando precisar, como no caso da boate Kiss, em Santa Maria/RS.
Fiscalizar talvez seja a função mais essencial da administração pública. Nela, a omissão é a regra e a corrupção grassa país afora. Os preços deveriam ser tabelados dentro dos sambódromos ou de quaisquer eventos públicos para evitar os abusos, que começa com o preço dos ingressos. Em São Paulo custou de 80 a 120 reais nas arquibancadas, mesmo com a derrama de dinheiro público para as escolas.
Com relação às formaturas, cada pessoa poderia ser livre para levar sua máquina ou seu fotógrafo. O argumento de que o espaço não poderia comportar tanta gente não passa de desculpa, afinal, a maioria iria apenas levar suas máquinas e “revelar”quando quisesse ou pudesse. De novo, caberia uma fiscalização sobre o preço abusivo das fotos mais valiosas do mundo.
Esse funcionamento “casado”, formando uma verdadeira teia de aranha, com abuso nos preços, ocorre também nas casas de shows, buffet, prestação de serviços de TV, internet e outros. Muitos são verdadeiras cadeias particulares, mas todas deveriam ser fiscalizadas, além de muitos emaranhados desses pertencerem ao próprio poder público. E o pior, nesses eventos um questionamento é rechaçado com ameaças e não se tem a quem recorrer. Como sempre, o cidadão fica apeado no meio deste misto de ganância particular e negligência pública.
Fonte: Pedro Cardoso da Costa
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