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Greve e negociação salarial, pra quê ?


Rosildo Barcellos

Tenho por convicção que prevaleça em todos os casos o interesse da maioria com insegmentável amplitude e não o de fragmentos de grupos que cobrem de opróbio a nossa história. Ademais, a legitimidade da labuta do cidadão, trabalhador de categoria tanto pública como privada não pode ser questionada. Mormente, o direito de greve é um avanço democrático que foi objeto de longas e árduas lutas. Ser contrário ao seu exercício legítimo demonstraria um verdadeiro retrocesso na história, a ponto de não vislumbrarmos poder ser posto em dúvida, sem que isto se traduza em risco para a democracia.

Evidentemente a negociação, como parte dessa luta dos trabalhadores, é o caminho para transpormos os impasses implícitos na situação de tudo ou nada. Entretanto ressalto o entendimento de que reposição de inflação não é reajuste e também não acredito na tese de que os servidores estejam pleiteando pura e simplesmente a ascensão social. Adiante ao introito,fiquei surpreso, após tomar conhecimentos dos estudos da Secretaria de Assuntos Estratégicos, que auxilia o governo brasileiro no direcionamento de suas ações assistenciais, aonde chegou-se a conclusão que no Brasil os extremamente pobres são aqueles que possuem renda familiar de até R$ 81,00. Esta faixa tem benefícios do governo para combater a miséria e recebem como ajuda, por exemplo o Bolsa Família . Já a classificação de pobre é aquele que tem a renda familiar de até R$162,00. Uma terceira classificação coloca as famílias com renda de R162,00 até R$291,00 no que chamaram de classe vulnerável. Estas 3 faixas salariais citadas fazem parte da classe pobre e corresponde a 15% da população do nosso país.

A Classe média alta possui renda familiar per capita de R$291 até R$1.019,00 correspondendo a 54% da população brasileira. E para minha alegria descobri que depois deste estudo governamental eu faço parte da classe média alta brasileira. Ou seja, estou praticamente na aristocracia, estando comigo apenas 18% da população nacional. E acima de mim está a classe alta cuja renda familiar excede a R$2480,00 e que corresponde a 13% do povo brasileiro. A alta classe alta fica na faixa de acima de R$ 9.920,00.

Saber desse estudo me garantiu uma “imensa alegria” pois até ontem eu me achava “pobre” . Além disso fiquei com uma tremenda dúvida: ou o Brasil tem mais pobres do que eu imaginava ou eu sou muito mais rico do que eu pensava. Urge ressaltar que na mesma pesquisa são considerados como "supérfluos" itens de despesa como plano de saúde, seguro de vida, cursos superiores, consulta e tratamentos médicos, hospitalização, serviços de cirurgia, artigos escolares e telefone fixo. Classificados em "essenciais" estão itens como roupas, remédios, aluguel, transporte urbano, artigos de limpeza, energia, alimentação, água e esgoto; além dos eletrodomésticos.

Agora que eu sei que o conforto que eu buscava durante a minha vida é supérfluo e que sou praticamente rico, poderei viver feliz. Greve e negociação salarial; pra quê?

*Articulista

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