Quarta-feira, 25 de setembro de 2024 - 13h11
O
sertanista Pedro Teixeira, quando partiu de Cametá, no Pará, em 1637, para
conquistar a Amazônia, numa expedição integrada por mil e duzentos índios de
remo, 70 soldados portugueses, 47 canoas mais algumas mulheres e curumins,
totalizando mais de duas mil pessoas, nunca saberia que ao denominar o rio que
banha Porto Velho de Rio Madeira e descrever
importância dele para sua
conquista, jamais saberia que este mesmo rio se tornaria uma das rotas
hidroviárias mais importantes do país. Faço esse relato porque estou embebecido,
depois de tantos anos falando a mesma coisa, agora parece que minhas suplicas
aos deuses serão atendidas.
O governo
federal, nesta segunda-feira, 23, por meio da Agência Nacional de
Transportes Aquaviários (ANTAQ), publicou o Decreto 12.193, de 20 de setembro,
e avançou com a concessão da Hidrovia do Rio Madeira, um projeto estratégico que
faz parte do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Esse passo é
fundamental para consolidar o transporte fluvial como uma alternativa eficiente
e sustentável para o escoamento de produtos e insumos no coração da Amazônia,
conectando os estados de Rondônia e Amazonas. Com uma extensão de 1.075 km,
entre Porto Velho (RO) e Itacoatiara (AM), a concessão tem o potencial de
transformar a logística da região, ampliando a competitividade local e gerando
oportunidades para o crescimento econômico sustentável.
A
Hidrovia do Rio Madeira é uma rota vital para o transporte de grãos,
fertilizantes, combustíveis e outras mercadorias, não apenas para Rondônia e
Amazonas, mas também para os estados vizinhos, como Mato Grosso. Em 2023, as
hidrovias brasileiras transportaram mais de 157 milhões de toneladas de carga,
cerca de 10% de todo o transporte aquaviário. A relevância do modal aquaviário
se torna ainda mais evidente quando se considera a sua sustentabilidade: é 4 a
5 vezes menos poluente do que o transporte rodoviário e emite 1,5 vezes menos
carbono se comparado com outros modais. A concessão do Rio Madeira reforça esse
compromisso com um modelo logístico eficiente e ambientalmente responsável.
Além de
ser uma rota estratégica para o escoamento de grãos e combustíveis, a hidrovia
também é crucial para o abastecimento de insumos e a manutenção da Zona Franca
de Manaus, uma das mais importantes áreas industriais do Brasil. O transporte
fluvial facilita a chegada de componentes eletrônicos e outros materiais essenciais
para a produção industrial, enquanto a saída de produtos acabados segue pelo
mesmo caminho.
Lembro-me
bem, em assessoria a Luiz Tourinho, homem visionário, então presidente do
Sebrae, trabalhamos para a criação da Agencia de Desenvolvimento da Hidrovia
Madeira-Amazônas, - ADHIMA-entidade que passou a fazer parte do Conselho de
Administração da entidade e, foi através dela, ainda em 1995, que se começou a
desenhar os primeiros esboços para transformar o rio Madeira numa verdadeira
hidrovia. Aquilo, parecia sonho de maluco e nossa voz não encontrava eco nem
perante nossos parlamentares, como o Senador Odacir Soares que navegava bem
pelo Congresso. Mas esse sonho do qual
fiz parte, nunca morreu em mim.
Hoje,
após me debruçar sobre a farta documentação disponibilizada pela ANTAQ,
observei que projeto prevê investimentos significativos em dragagem,
balizamento e sinalização da hidrovia, garantindo que as embarcações possam
trafegar durante todo o ano, inclusive na época de seca, quando o nível do Rio
Madeira tradicionalmente cai. A profundidade mínima será mantida em 3,5 metros,
com um calado de 3 metros, permitindo que as embarcações carreguem mais carga e
naveguem de forma segura, inclusive à noite.
A tarifa
inicial prevista é de R$ 0,80 por tonelada de carga transportada, mas o
critério de licitação será a menor tarifa. O modelo de concessão exclui a
cobrança para o transporte de passageiros e pequenas embarcações, incentivando
o uso da via por comunidades locais e pelo turismo. A manutenção contínua da
hidrovia, garantida pela concessionária, vai reduzir o custo de transporte em
até 24%, um ganho significativo de eficiência para as empresas de navegação.
Outro
ponto importante da concessão é a possibilidade de geração de emprego e renda
na região. O projeto envolve a operação de seis Instalações Portuárias Públicas
de Pequeno Porte (IP4s), o que trará mais segurança e confiabilidade ao
transporte na hidrovia, além de gerar oportunidades de trabalho nas comunidades
locais.
A
sustentabilidade é um pilar central da concessão da Hidrovia do Rio Madeira. A
implementação do “Programa Carbono Sustentável” visa não apenas reduzir as
emissões de carbono, mas também promover a conservação dos recursos naturais do
Rio Madeira. A dragagem, balizamento e sinalização serão realizados de maneira
a minimizar o impacto ambiental, preservando o ecossistema local e fortalecendo
as relações com as comunidades ribeirinhas. A concessão busca harmonizar o
desenvolvimento econômico com a preservação ambiental, uma preocupação central
na Amazônia, uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta. Meu Deus,
sempre quis isso!
Minha
empolgação, no entanto, não me afasta de outro sonho: a Ferrovia entre Porto
Velho e Manaus. Embora a hidrovia seja essencial para a integração logística da
Amazônia, é importante reforçar que a construção dessa ferrovia se soma a esse
modal, em vez de competir com ele. A ferrovia, como defendo, aproveita traçado
da BR-319, e surge como uma solução estratégica de longo prazo para o
transporte de cargas e passageiros, especialmente em momentos de dificuldade de
navegação no Rio Madeira, como em períodos de seca extrema ou assoreamento.
Esse
projeto ferroviário, que poderia ser incluído no Programa Pró-Trilhos, em
andamento no governo, complementa a hidrovia ao oferecer uma alternativa de
transporte eficiente, com menor impacto ambiental que as rodovias. A ferrovia
também tem potencial para reduzir significativamente os custos de transporte de
cargas, além de permitir a conexão de Rondônia e Amazonas ao restante do Brasil
de maneira mais integrada e sustentável.
A
concessão da hidrovia e o projeto ferroviário têm relevância não apenas
econômica, mas também estratégica para a região amazônica e para o Brasil como
um todo. A Amazônia, com sua vasta extensão e localização isolada, necessita de
uma infraestrutura robusta para garantir a soberania e o desenvolvimento
regional. A Hidrovia do Rio Madeira e a possível ferrovia Porto Velho-Manaus se
apresentam como alternativas eficazes para assegurar o abastecimento da região
e permitir uma presença militar e logística mais sólida em uma área de grande
importância geopolítica.
Além
disso, essas vias de transporte podem servir como importantes corredores
turísticos, promovendo o ecoturismo na Amazônia e contribuindo para o
desenvolvimento das comunidades locais de forma sustentável.
Agora, já
com os músculos meio cansados, a notícia da concessão da Hidrovia do Rio
Madeira me faz revigorar e sonhar novamente em ver nossa Rondônia se
transformando a cada dia. Essa hidrovia, somando-se a ferrovia, será um marco
no desenvolvimento da infraestrutura de transporte da região amazônica,
contribuindo diretamente para o crescimento econômico de Rondônia, Amazonas e
estados vizinhos. O modal fluvial é, sem dúvida, uma solução sustentável e
eficiente para o escoamento de produtos e insumos na região. No entanto, o
projeto ferroviário entre Porto Velho e Manaus deve ser encarado como uma
iniciativa complementar que, em conjunto com a hidrovia, formará um sistema
logístico robusto, garantindo o desenvolvimento sustentável e a integração da
Amazônia ao restante do país.
Quando
falo desses projetos, uma luz brilha na minha cabeça e tudo parece bem claro
quando visualizo Porto Velho como um grande centro logístico integrado com
portos, hidrovia, rodovia, ferrovia e aeroportos. Interligando com o Oceano
Pacífico quando, futuro, assim como vem sendo anunciado pela China, que
pretende construir a Ferrovia Transcontinental, que ligará os portos do Rio de
Janeiro ao Peru, passando por Rondônia, deslocando para essa região os maiores
investimentos industriais. Rondônia, por sua localização estratégica, possui
todas as condicionantes para fazer valer esse sonho.
Juntas, essas
rotas irão transformar a logística amazônica, abrindo novas oportunidades de
crescimento econômico, preservação ambiental e fortalecimento da presença
estratégica do Brasil no mundo. Hoje estou feliz. Depois de tantas críticas,
uma luz se acende na escuridão, enquanto a ansiedade toma conta desses meus
momentos. Vai dar certo! Eu espero...
Rubens
Nascimento
é Jornalista, Bel. Direito, M.M Maçom e ativista do Desenvolvimento.
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