Terça-feira, 8 de abril de 2014 - 11h55
Professor Nazareno*
As águas do rio Madeira finalmente neste início de abril de 2014 já dão claros sinais de baixada. Depois de alcançar a incrível marca de 19,72 metros em Porto Velho, a histórica enchente ficará para sempre marcada nos corações e mentes de todos os ribeirinhos que pacificamente sempre habitaram durante décadas e até séculos as margens deste caudaloso, imprevisível e indomável rio. Da capital do Estado até a divisa com o Amazonas no rio Maici, dentro dos limites de Rondônia, o único cenário que se vislumbra é o de terra arrasada. Excetuando-se os poucos lugares mais altos como Nova Esperança, Aliança, Tira Fogo e Cavalcante, não restará em pé uma única casa, vila, povoado e até distritos inteiros. Incontrolável em sua fúria, o Madeira continua a sua saga adentrando em quilômetros a mata de igapó que lhe margeia.
Sem nenhuma culpa pelo Armagedon atual, o “rio das madeiras” apenas segue o seu roteiro já traçado pela mãe natureza. Atiçado e provocado pela ambição humana, culpá-lo por esta catástrofe é o mesmo que dizer que os responsáveis pelo extermínio em Auschwitz-Birkenau, Sobibor e Treblinka durante a Segunda Guerra seriam somente os gases ou as armas usadas nas execuções e não o maldito “bicho homem”. A simpática vilazinha de São Carlos, por exemplo, foi simplesmente varrida do mapa. Não sobrará uma única casa em pé. Cenário de um bombardeio aterrorizante, seus habitantes talvez sejam transferidos para outro lugar ainda incerto. Tudo perdido, destruído, levado pelas águas ou aterrado pela lama inclemente. Só restarão destroços e dor. Muita dor. Poucos quilômetros mais abaixo, Nazaré, a terra das melancias e da alegria, terá idêntico fim.
Em todo o Baixo Madeira, depois da hecatombe, não restará pedra sobre pedra. Cujubim, Brasileira, Volta do Capitari, Santa Catarina, Pombal, Boa Hora, São José da Praia, Conceição do Galera, Firmeza, Santa Rosa, Espírito Santo, Papagaios, Ilha de Assunção, dentre outras localidades, serão simplesmente extintas e desaparecerão para sempre. Todos estão alagados e submergidos e só se vê a cumeeira de suas humildes casas. Plantações inteiras estão devastadas e nada mais se aproveita. Impossível segurar a dor e o pranto quando se depara com aquela, agora, terra de ninguém. Pior do que os campos de extermínio, essas localidades nem para a História entrarão: seus pobres, humildes e esquecidos habitantes não têm e nunca tiveram importância nenhuma que justifique qualquer espetáculo televisivo. Para o mundo dito civilizado, sequer existem.
Em Calama a situação não é muito diferente. Beneficiada pela natureza, que lhe presenteou com alguns pedaços de terras gerais, os bravos moradores de lá se organizam e se ajudam como podem. Solidariedade é a palavra de ordem entre quase todos os habitantes da aconchegante vilazinha que teve setenta por cento de suas terras alagadas. Ali é consenso entre os moradores “que estamos diante de um dos maiores desastres ambientais da História da Humanidade”. Nem os animais silvestres escaparam do horror. Por isso, muitas pessoas evitam comer carne de caça, já que “aqueles animais encurralados pelas águas estavam pedindo a Deus que lhes salvassem do afogamento certo”, é o comentário que mais se ouve. Enquanto o Holocausto teve responsáveis que foram punidos, essa enchente não tem culpados. Dois santos apenas podem responder futuramente pelo desastre: São Pedro ou Santo Antônio. A briga agora é saber com qual deles ficará a culpa pela devastação, prejuízos e mortandade jamais vistos por aqui.
* É Professor em Porto Velho.
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