Segunda-feira, 4 de maio de 2015 - 06h17
Por Humberto Pinho da Silva
A história que vou contar ocorreu nos anos cinquenta, sendo Presidente de Conselho o Prof. Doutor Oliveira Salazar.
Nessa recuada época a polícia tinha autoridade e era respeitada.
Recordo, que certa manhã, ao atravessar fora da passadeira, quando ia para o liceu Alexandre Herculano, ouvi estridente assobio do guarda que permanecia no passeio fronteiro. Gesticulava o polícia avisando que não era local de passagem.
Imediatamente dirigi-me para a zebra, para não ter que pagar a multa. Na ocasião era de dois escudos e cinquenta centavos.
Era, também, nesse tempo, expressamente proibido sacudir: panos, tapetes ou cobertores, para a via publica.
Todos sabiam. Havia o cuidado, quando se sacudia o pano de pó, de verificar se existia guarda ou se passava alguém sob a janela.
Em casa de meu pai existia empregada – então criada, – que não se dava ao cuidado de verificar. Sacudia o pano de pó, mesmo sobre os transeuntes.
Tantas vezes prevaricou, que o guarda de serviço – nessa época havia em cada rua, um ou dois, que passeavam ao longo da via, – resolveu intervir.
Antes de autuar, consultou na mercearia, para se inteirar quem morava no prédio.
Informaram-no que era o senhor Mariozinho - homem de peso.
O guarda coçou a cabeça, engoliu em seco, reflectiu, e pigarreando, afastou-se vagarosamente.
Ria-se perdidamente, mais tarde, meu pai, ao contar a caricata cena, depois que soube o modo como o polícia se portou, ao saber que na casa vivia “homem de peso”.
- “Oitenta e seis quilos, que é quanto peso, valeu-me de multa. Como é bom ser homem de peso! …”
Mas não deixou de recomendar à cachopa, para não sacudir panos, sem olhar para a direita e esquerda, verificando se havia policia e se alguém passava por baixo.
-“É que desta vez valeu-me o peso…Mas como ando a fazer dieta, é melhor ter cuidado…”
Bom tempo em que se andava pela via publica sem medo. Os Cafés encerravam às duas da madrugada, e regressava-se a casa depois da última sessão de cinema, pachorrentamente…a pé.
As crianças, nas noites quentes de Verão, brincavam descontraidamente na rua, e nas noites de sábado, as famílias desciam à baixa para verem as montras. Era o passeio dos tristes.
Bom tempo em que havia respeito, sossego e paz.
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