Sexta-feira, 12 de julho de 2013 - 11h34
Por David Nogueira
Essa luta corporativista insana dos doutos médicos (não todos) ultrapassa a fronteira da racionalidade e fere o respeito à dignidade humana. De forma descabida, falácias perigosas são usadas na tentativa de convencer o sofrido povo deste país da premissa de que saúde só pode ser feita com farta estrutura. As carências são muitas, porém, a primeira delas, sem dúvida alguma, é a de médicos. Saúde não se faz apenas com médicos (até os idiotas mais vesgos sabem disso), mas sem eles... não há saúde possível. A presença física deles, em quaisquer circunstâncias, faz a diferença ou não?
A cada dificuldade fomentada pelas entidades de classe, vidas se perdem, sonhos e sorrisos desaparecem.
Não consigo ver isso com naturalidade.
Vamos ao texto:
O JURAMENTO DOS HIPÓCRITAS
Chico Cavalcante
"Estamos passando longe dos problemas da saúde. O problema básico do SUS é financiamento. Não bastam só médicos". A tergiversação é do governador de São Paulo, médico de formação, Geraldo Alckmin, repetindo mecanicamente o mantra midiático que a corporação médica vem cantando, no afã de garantir a reserva de mercado dos aventais brancos, que hoje impede que a população mais carente tenha acesso aos serviços que só médicos podem prestar.
Ao olhar apenas para si e ignorar o que acontece à sua volta, ao pensar no seu conforto material e ao ignorar o desconforto dos enfermos que superlotam os hospitais do país, as entidades médicas demonstram estar se lixando para a carência das periferias das cidades, em especial no Norte e Nordeste do país. Seria redundante se não fosse necessário dizer que as corporações respondem apenas aos próprios interesses corporativos, menores que o interesse público que deveria sensibilizar aqueles que fizeram o juramento de "exercer a arte de curar", mostrando-se "sempre fiéis aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência".
O Juramento de Hipócrates é uma declaração solene feita por médicos por ocasião de sua formatura. O texto seria de autoria de Hipócrates, médico notável que viveu na Grécia antiga. Na versão atualizada em 1948, estão as afirmações de princípios da profissão cujo foco é garantir a vida e evitar a morte de modo ético: "Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário".
Ao recusar o chamamento das ruas para cerrar fileiras e garantir presença onde reina a desassistência, as entidades médicas trocaram o Juramento de Hipócrates pelo pré-julgamento dos hipócritas, falseando a realidade para permanecer na zona de conforto enquanto a população carente pede ajuda e espera.
As ruas pediram saúde nas Jornadas de Junho. O Governo Federal ouviu e agiu, não apenas ampliando o investimento pesado em equipamentos, em Unidades de Pronto Atendimento, em Serviços de Assistência Médica de Emergência e no deslocamento de generosa massa de recursos para estados e municípios, mas também buscando solução para a crônica falta de médicos nas localidades mais remotas e nas periferias dos grandes centros.
O Programa "Mais Médicos" foi essa resposta rotunda e corajosa, mostrando que o Governo Federal não estava surdo ao rumor das ruas. O programa prevê uma espécie de residência para os estudantes de medicina, além da vinda dos médicos estrangeiros como força auxiliar para vagas que brasileiros não queiram ocupar.
O salário base para os médicos contratados será de R$ 10 mil, ampliado pelo auxílio alimentação e pelo auxílio moradia, garantidos pelas prefeituras.
De acordo com o programa, a partir de 2015, quem entrar no curso de Medicina terá de atuar por dois anos no SUS para garantir o diploma. A medida garantirá ao SUS cerca de 20 mil médicos a mais em 2021 (ano inaugural do segundo ciclo) e mais 20 mil no seguinte.
Os municípios do interior e da periferia das grandes cidades já receberão em setembro deste ano, os primeiros médicos brasileiros e estrangeiros que aderirem ao novo programa.
A medida, efetiva e necessária, vem recebendo pesadas e impensadas críticas das entidades médicas e da grande mídia, que consideram "autoritária" a obrigatoriedade de médicos em formação dedicarem rasos 24 meses para atuar junto aos pobres e necessitados, colocando em prática o Juramento solene que, para não se tornar letra morta, precisa passar pela prova prática.
A primeira questão que Alckmin, as entidades médicas e a imprensa golpista deveriam responder é: isto é ou não é necessário para salvar vidas no Brasil? Se a resposta for negativa, posicionam-se contra. Se for positiva, posicionam-se a favor. Mas essa pergunta não é feita nem é respondida, porque a posição à priori é de ser contra o governo, independente do que ele está propondo. Se a ideologia cega a razão, o oportunismo cala o coração. Do conforto do ar condicionado de seus gabinetes, os dirigentes das entidades médicas e os barões da mídia tratam a saúde do povo com a hipocrisia dos cínicos. Nada importa, quando só importa antecipar 2014 e decretar agora, a derrota antecipada de Dilma e do PT.
Enquanto no mundo inteiro organizações como a "Médicos Sem Fronteiras", que reúne profissionais de saúde de diferentes nacionalidades, são recebidas com gratidão, no Brasil a luta cega pela reserva de mercado para médicos nativos apequena a vida humana e introduz um viés xenófobo para impedir que profissionais estrangeiros atuem no país, mesmo nos lugares onde brasileiros se recuam a ir.
A organização "Médicos Sem Fronteiras" foi criada em 1971 na França por jovens médicos e jornalistas, que atuaram como voluntários no fim dos anos 60 em Biafra, na Nigéria. Enquanto a equipe médica – que não precisou ter seu diploma validado – socorria vítimas em uma brutal guerra civil e das epidemias viralizadas na miséria, o grupo percebeu suas limitações: a dificuldade de acesso ao local e os entraves burocráticos e políticos, que faziam com que muitos se calassem frente aos fatos observados. E travavam a ajuda humanitária.
As circunstâncias que levaram à criação da ação internacionalista do MSF se repetem agora no Brasil. Uma imensa população carente precisa de ajuda urgente, os políticos de direita, os concessionários de veículos de comunicação e as entidades médicas estão criando entraves burocráticos, impedindo que a ajuda humanitária chegue às pessoas que precisam – muitas das quais nunca viram um médico na vida.
As fronteiras que aqui precisam ser rompidas é a do egoísmo e do conformismo, que quer que primeiro se construam hospitais de excelência nos sertões e rincões brasileiros para depois se estender o tapete vermelho para os médicos, esses aprendizes de Deus, possam chegar e sair sem sujar seus pés divinos na lama da hipocrisia onde hoje afundam o juramento que os deveria guiar.
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