Quinta-feira, 12 de março de 2015 - 08h57
Por Humberto Pinho da Silva
Acaba de falecer no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo - 8/03/2015 - a genial Inezita Barroso, a maior intérprete da música popular brasileira.
A cantora, que tinha voz inconfundível, conheceu na juventude a genuína música caipira, que nasceu no Brasil rural, e foi, e ainda é, cantada pela gente simples do campo.
No video que gravou em 1991, a cantora, que pertencia a família de abastados cafeicultores, conta a infância feliz, que a seu parecer, foi linda:
“ Aliais a minha infância se prolonga até aos 16 anos. Naquele tempo brincava-se na rua aquelas cantigas de roda, jogos infantis. Brincava como moleque, porque meus amigos, na maioria eram meninos; já que tenho um único irmão. Então era bicicleta, era pião, futebol. Brinquei de tudo, até bem tarde. Meu pai era super alegre, muito culto e de família do litoral. Minha mãe pertencia a gente de fazenda, do interior de São Paulo.”
E mais adiante acrescenta: “Tenho várias lembranças, muito doces. Minha mãe levando-me para cantar com sete anos. Vestidinho cor-de-rosa, cabelinho com fita, que nunca parava.”
“ Quando chegávamos ao lugar onde devia cantar, sentava-me no chão, porque era muito inquieta. E ela com carinho, arrumava a fita no cabelo. Dava-me, então, beliscões no rosto, para ficar corada; eu tinha ódio disso. Ainda não existia blush. Meu pai afinava-me o violão. Não tocava, mas afinava perfeitamente.”
“ A primeira vez que cantei com violão, foi ele que afinou. É uma doçura isso. Ele sempre se interessou por mim, e pela minha carreira, até ao dia que morreu.”
Inezita Barroso, cujo nome de baptismo é: Inez Magdalena Aranha de Lima, nasceu em São Paulo, a 4 de Março de 1925.
Muito cedo, quando ia de ferias para as fazendas da família, conviveu com os trabalhadores rurais, e coligia, cuidadosamente, todas as letras, que estes entoavam na roça e aos serões, após o dia de trabalho.
Foi com essa gente simples, na maioria analfabeta, que em menina, cantava as tradicionais coplas sertanejas, ao som da viola portuguesa, violão e sanfona.
Nessa recuada época, a maioria dos brasileiros viviam no campo e a má influência da música comercial ainda não se fazia sentir.
Hoje a música sertaneja sofre graves influências, que começam apartá-la das raízes, e se ainda há cantores que conservam a tradição, deve-se muito ao aturado trabalho de Inezita Barroso.
O seu programa “Viola, Minha Viola”,que era gravado no Teatro Franco Zampar, todas as quartas-feiras, em São Paulo, foi o de maior audiência da TV Cultura. Além de interpretar belas canções do folclore brasileiro, Inezita apresentou o melhor que há de música caipira.
Inezita Barroso, era também notável atriz de teatro e cinema, foi condecorada, em 2003, com a Medalha Ipiranga, pelo governador de São Paulo, Ackmin, e deu o nome ao Hospital do Câncer de Bernabé.
A cantora é formada em Biblioteconomia na Universidade de São Paulo (USP), e doutorada Honoris Causa, em Folclore brasileiro pela Unicapital, e em Folclore e Arte digital, pela Universidade de Lisboa. Lecionou, até 2009, nas Faculdades Unifai e Unicapital.
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