Domingo, 7 de agosto de 2016 - 19h21
Por Luiz Leite de Oliveira (*)
Não sinto em condições emocionais para falar de José Augusto de Oliveira, entretanto, alinho algumas palavras a respeito da contribuição que ele nos deixou para a compreensão da história amazônica à qual sempre esteve unido.
O comovente cortejo popular que o levou ao cair da tarde de seis de agosto para sua última morada no Cemitério dos Inocentes teve fogos de artifícios. Passou pela Madeira-Mamoré e ali ele recebeu o último adeus, numa homenagem à população de Porto Velho.
Seus relatos, ora sublimes, ora ásperos, serão eternizados, farão tremer e ranger os dentes dos omissos e de quem permitiu a destruição de nossas raízes, do meio ambiente e, em especial, da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Deus lhe abençoe pela bela missão cumprida, grande brasileiro José Augusto de Oliveira. Você chegou à última morada quase no mesmo momento em que fogos de artifícios abriam os jogos das Olimpíadas no Rio de Janeiro, fato que impressionou o mundo.
Um dos oito filhos de Raimunda Leite de Oliveira,Mundica, dentista na EFMM nos anos de 1950, Zé Augusto nasceu em janeiro de 1940 e no mesmo parto veio também Maria da Paz Oliveira, professora, diretora, incentivadora das artes, fraterna senhora que se foi também deste mundo exatamente três meses antes dele.
E aí, as cidades amazônicas de Manicoré e São Carlos do Jamari também se perpetuam na história de nossa família.
Meu irmão, intelectual, pesquisador, pensador, por último um grande comunicador, fundador da TV Comunitária de Porto Velho em 2002, surpreendia ao levar para o grande público, pelo sinal dessa emissora, a verdade numa e crua. Num excepcional trabalho televisivo, ele caminhou corajosamente pelos porões onde arquitetaram a destruição definitiva da nossa maior referência histórica e cultural, o meio ambiente e a ferrovia Madeira-Mamoré.
Zé Augusto se pautava pela imprensa livre e independente, no que deixou como legado aos seus sucessores preciosas gravações, nas quais registrou corajosamente todas as ocorrências criminosas ao largo do rio Madeira.
Ao contrário dos holofotes seletivos da mídia que poupa criminosos ambientais, meu irmão atento fez o que esteve ao seu alcance para expor o mundo cão da política estadual e assim foi um baluarte no combate à destruição da EFMM pelas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau.
Fez isso conscientemente, dando voz ao inconformismo e à indignação contra crimes praticados por aves de rapina.
Zé Augusto incorporou a luta popular pelo resgate da identidade cultural, mesmo sob o manto da indiferença e do desmazelo da turma da malandragem política corrupta a partir dos anos de 1980.
Pessoalmente, dizia-me que repassaria esses registros para compor o acervo do Museu Internacional Trilhos e Sonhos que a Associação dos Amigos da Madeira-Mamoré (Amma) aos poucos vem organizando na Capital.
Não perdeu nenhum lance da destruição ambiental. E relutou em não ter qualquer apoio para o seu canal de TV, o que na visão dele comprometeria sua independência. Colocava sua vida, suas emoções a serviço dessa causa, por isso foi reconhecido por fiéis telespectadores da TV Comunitária Porto Velho.
Quase sempre meu irmão teve que lutar à exaustão pelas raízes rondonienses, e assim não poupava a conivência dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário quando essas foram gritantes.
Incansavelmente, Zé Augusto contestou o banditismo político no Estado, principalmente quando estenderam tentáculos a instituições que têm o dever de lutar pela cidadania.
Em determinado momento a partir de 2003, durante o governo do PT, algumas autoridades foram coniventes ou se omitiram ao permitirem o aparelhamento das instituições defensoras, cujo silêncio truculento nos esbofeteava.
Foi a trupe de funcionários previamente escalados em cada um desses poderes quem permitiu a agentes criminosos corrompidos a blindagem dos agressores de nossa história.
Inconformado com o plano maquiavélico imposto pelo banditismo político, ardilosamente e cinicamente, Zé Augusto não se conformava em ver o golpe perpetrado para que o trem nunca mais voltasse aos trilhos. Reagiu bravamente ao presenciar a expulsão dos Amigos da Madeira-Mamoré do pátio ferroviário e, mais recentemente, ao pedido de prisão de dois membros da entidade, acatado pela Justiça a pedido de um integrante do Ministério Público Federal.
Meu irmão costumava protestar assim: “Está tudo dominado”. Desse jeito aconteceu com a força dos monstros elétricos que fizeram submergiram a ferrovia e o ecossistema.
Recentemente Zé Augusto concluía denúncia a respeito dessa página infeliz de nossa história, no que diz respeito ao capítulo do pedido de prisão contra membros da Amma, como forma de silenciar voz e resistência da entidade. Mas deu tempo, pois antes de apresentar a falsa testemunha que humilhou a honrada instituição, ele se foi.
Meu irmão, um leão, um bravo, não se amedrontava e não silenciava diante de ameaças e abusos de autoridade. Dizia curto e grosso: “Não estou nem aí. Falo a verdade, e se isso for pecado que me mandem prender”.
Diante da perda irreparável desse insubstituível grande comunicador rondoniense, resta-nos contentar com o seu legado maior.
Um beijo meu querido mano Zé Augusto, Zeca. Você foi apenas um grande brasileiro.
(*) Arquiteto e urbanista, pensador, presidente da Associação de Amigos da Madeira Mamoré.
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