Em sua Mensagem para 28ª Jornada Mundial da Juventude, que será realizada no Rio de Janeiro em julho de 2013, com o tema “Ide e fazei discípulos entre as nações!” (Mt 28,19), o papa Bento XVI renova o convite aos jovens do mundo inteiro para que participem deste importante evento.
A Mensagem ressalta que o ano de preparação para o encontro do Rio coincide com o Ano da fé, no início do qual o Sínodo dos Bispos dedicou os seus trabalhos à “nova evangelização para a transmissão da fé cristã”.
“Queridos jovens, escreve o Papa, sejais envolvidos neste impulso missionário de toda a Igreja: fazer conhecer Cristo é o dom mais precioso que podeis fazer aos outros”.
No Brasil a Jornada dos Jovens coincide com o Ano da Juventude. No dia 13 de fevereiro, quarta-feira de Cinzas, acontece mais uma edição da Campanha da Fraternidade (CF), com o tema será “Fraternidade e Juventude” e o lema “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8).
Após 21 anos da Campanha da Fraternidade de 1992, que abordou como tema central a juventude, a CF 2013, na sua 50ª edição, terá a mesma temática. A acolhida da temática “juventude” tem como objetivo ter mais um elemento além da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) para fortalecer o desejo de evangelização dos jovens.
O objetivo geral da CF é acolher os jovens no contexto de mudança de época, propiciando caminhos para seu protagonismo no seguimento de Jesus Cristo, na vivência eclesial e na construção de uma sociedade fraterna, fundamentada na cultura da vida, da justiça e da paz.
Para a Igreja, dentro do sentido da palavra “acolher” está o valorizar, o respeitar o jovem que vive nesta situação de mudança de época e isso não pode ser esquecido.
“A juventude mora no coração da Igreja”, reafirma o Texto-Base da CF 2013 (TB 188-198). Em diversos momentos de sua história, os pastores da Igreja, amparados pela ação do Espírito Santo, ocuparam-se de maneira intensa com a evangelização da juventude e sobre ela se pronunciaram.
“A juventude mora no coração da Igreja”: essa afirmação nos faz pensar que jamais poderíamos deixar passar um jovem sem dizer-lhe o quanto Jesus Cristo o ama.
A Igreja, Povo de Deus, existe fundamentalmente para evangelizar, dar continuidade à obra de Jesus Cristo, ser canal da graça, proporcionar espaço de comunhão e de participação, iluminar os projetos de vida individuais e coletivos, promover uma nova civilização, a Civilização do Amor.
Na mesma linha, o Documento de Aparecida convoca toda a juventude ao compromisso com a renovação da vida e do mundo à luz do projeto de Deus, pois “os jovens têm capacidade para se opor às falsas ilusões e a todas as formas de violência”.
Encontramos na Bíblia um Deus apaixonado pelo ser humano, em diferentes imagens. Entre elas, contemplamos um Deus criador, que gera pessoas criativas; um Deus comunicador, que se revela na história humana; um Deus salvador, que atua a favor da vida, contra todo o mal; um Deus sempre presente e amigo, que não se cansa de dar o primeiro passo a nosso favor. Ele cria o ser humano inventivo, curioso, que está sempre aberto ao projeto de criação e é capaz de descobrir, nas realidades cotidianas, que há algo presente que ainda não se manifestou.
Na dinâmica da criação, cada pessoa é uma mensagem única e profunda de Deus para a história e para a humanidade. Assim, também o jovem é a voz de Deus e, por isso, precisa ser escutado: “um grande desafio é reconhecermos que também no segmento da sociedade chamado juventude se encontram as “sementes ocultas do Verbo”, como fala o Decreto Ad gentes, do Vaticano II. Entrar em contato com o ‘divino’ da juventude é entender sua psicologia, sua biologia, sua sociologia e sua antropologia com o olhar da ciência de Deus”.
A Igreja entende que o jovem se constitui em um “lugar teológico” privilegiado. O que isso significa? Pois bem, considerar o jovem como lugar teológico é acolher a voz de Deus que fala por ele.
A novidade que a cultura juvenil nos apresenta neste momento, portanto, é a sua teologia, isto é, o discurso que Deus nos faz através da juventude. De fato, Deus nos fala pelo jovem. O jovem, nesta perspectiva, é uma realidade teológica, que precisamos aprender a ler e a desvelar.
Não se trata de sacralizar o jovem, imaginando-o como alguém que não erra; trata-se de ver o sagrado que se manifesta de muitas formas, também na realidade juvenil. Trata-se de fazer uma leitura teológica do que, de forma ampla, chamamos de culturas juvenis.
Assim, inaugura-se uma nova perspectiva pastoral, capaz de absorver a autenticidade da mensagem de Deus que emana das diferentes expressões juvenis.
Dizer que, para a Igreja, a juventude é uma prioridade em sua missão evangelizadora é afirmar que se quer uma Igreja aberta ao novo, é afirmar que amamos o jovem não só porque ele representa a revitalização de qualquer sociedade, mas também porque amamos, nele, uma realidade teológica em sua dimensão de mistério inesgotável e de perene novidade.
Não se pode negar que, apesar de algumas falhas e lacunas, uma herança evangelizadora muito profícua foi sendo tecida na relação da Igreja com a juventude ao longo da história.
Na Igreja do Brasil, há tempos, muitas pastorais, movimentos, organismos, congregações religiosas e novas comunidades têm atuado junto aos jovens com resultados importantes.
Mensagens dos papas, encíclicas, documentos das conferências episcopais, especialmente de Puebla quando a Igreja Latino-americana ressaltou sua opção pelos jovens, eventos mundiais e continentais sistematicamente ressaltaram a importância da evangelização junto aos jovens.
Embora a caminhada pastoral não esteja começando do zero, sente-se ainda o clamor por uma mais corajosa “opção afetiva e efetiva de toda a Igreja pela juventude”, sobretudo por parte dos presbíteros, das lideranças comunitárias e dos consagrados.
Acolher os jovens, como Jesus Cristo, e proporcionar-lhes condições de vida e amadurecimento são atitudes fundamentais para auxiliá-los nesta complexa mudança de época.
João Paulo II, em sua mensagem por ocasião da Campanha da Fraternidade de 1992, fez questão de frisar que “a Igreja fez a opção preferencial pelos jovens de todas as condições sociais, mas especialmente pelos que sofrem porque desconhecem a verdade e caminham desorientados pelas estradas da vida; pelos abandonados e os que padecem diante das injustiças humanas; pelos doentes... o Senhor está mais perto dos que sofrem com santa resignação”.
É preciso, em tempos atuais, que nos aproximemos mais daqueles jovens que sofrem e perceber até que ponto nosso trabalho responde às suas reais expectativas e necessidades. Num exercício de alteridade, é preciso olhar o mundo com os olhos dos jovens sofredores.
Nesse sentido, o Documento de Aparecida nos aponta para os jovens que se encontram em situação de risco.
Somos todos responsáveis pela Igreja e, portanto, pela sua missão, cada qual segundo a própria vocação. Na Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, a Igreja, novo Povo de Deus, é descrita como Corpo de Cristo uno, com variedade dos membros, em que todos têm igual dignidade. Desde então, “muitos documentos do Magistério pontifício e episcopal apontam para a renovação da vida da Igreja através do caminho do serviço, no qual todos os fiéis, começando dos ministros ordenados, buscam superar a tentação do autoritarismo e assumir o modelo do lava-pés”.
Todas as estruturas eclesiais são, portanto, convocadas a assumir como sua a tarefa de expressar afetiva e efetivamente a opção preferencial pelos jovens, especialmente pelos mais empobrecidos, num contexto de grandes contrastes e de emergência da cultura midiática.