Sábado, 9 de dezembro de 2017 - 14h28
Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho
“Não vai ter golpe, vai ter voto”.
Quem chegasse desavisado à convenção do PSDB em Brasília para entronizar Geraldo Alckmin como novo presidente do partido não deve ter entendido nada.
Os gritos de guerra não eram de manifestantes petistas, mas vinham de militantes da Juventude do PSDB que brigavam por causa de um impasse sobre as regras eleitorais.
Foi neste clima que começou o grande encontro nacional dos tucanos com o objetivo de selar a união em torno do governador paulista como candidato à sucessão de Michel Temer.
Nos bastidores agitados, ainda rolavam os últimos acertos para evitar atritos em público num partido que nunca esteve tão rachado e sem rumo.
Dividiram a nova Executiva nacional entre representantes dos grupos de Aécio e Tasso, a favor e contra o governo Temer, respectivamente, mas surgiu um fato imponderável: Arthur Virgílio, prefeito de Manaus, queria porque queria disputar prévias com Alckmin, que esperava ser aclamado na convenção.
O PSDB era, até recentemente, ao lado do PT e do PMDB, um dos três grandes partidos nacionais que ocuparam o poder desde a redemocratização em 1985 e afundaram juntos na Lava Jato.
Nascido de uma dissidência do antigo MDB de Orestes Quércia, o PSDB logo chegou ao Palácio do Planalto nos anos 1990, no embalo do Plano Real que elegeu Fernando Henrique Cardoso duas vezes em primeiro turno.
De lá para cá, perdeu quatro eleições presidenciais seguidas para o PT e só voltou ao poder no ano passado, na carona do PMDB de Temer, após o impeachment de Dilma Rousseff.
Primeiro e último grande líder nacional do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, 86, deu mais uma longa entrevista à Folha na véspera da convenção, que pode ser resumida em poucas linhas, mostrando que ele também não tem mais nada de novo a dizer.
FHC recomendou que o partido deve defender valores como o reformismo, ainda que seja para perder.
“Em política, é preciso ter valores. Você pode ganhar ou perder, mas não pode perder a cara. No caso das reformas, tem de ter sensibilidade, mas não se omitir”.
Beleza. O problema é que o PSDB, como os outros grandes partidos, perdeu os valores e a cara, virou tudo uma geleia geral na falência do sistema político brasileiro.
O discurso de FHC envelheceu, não surgiram novos líderes à sua altura e, ao defender a indicação de Alckmin, conseguiu destacar apenas uma qualidade no candidato:
“Precisamos ter uma liderança mais simples, de gente mais normal, sem fanfarronice e pose. O Geraldo tem essa certa simplicidade”.
Convenhamos que é muito pouco para empolgar o eleitorado, o que explica sua posição empacada em um dígito nas pesquisas, enquanto Lula e Bolsonaro abrem folgada vantagem.
Para romper esta barreira, nas últimas horas Alckmin resolveu partir com tudo para cima de Lula, única estratégia à mão capaz unir o partido: escalar um inimigo comum.
No melhor estilo anti-Lula adotado por seu afilhado João Doria, antes de desistir do voo presidencial, Alckmin desistiu de “jogar parado” e subiu o tom:
“Os brasileiros não são tolos. Sabem, hoje, do método lulo-petista de confundir para dividir, iludir para reinar. Mas vejam a audácia dessa turma. Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder, ou seja, meus amigos: ele quer voltar à cena do crime”.
Alguém deveria lembrar ao governador paulista que ele adotou esta mesma tática quando estava atrás de Lula nas pesquisas em 2006, e acabou tendo menos votos no segundo turno do que no primeiro.
Bater no adversário costuma ser o último recurso quando não se tem nada de novo a oferecer ao eleitorado _ não o primeiro, quando a campanha ainda nem começou.
Desta vez, sem seus aliados históricos, a começar pelo PMDB, e os tradicionais coadjuvantes DEM, PPS e agregados, num país hoje dominado pelo Centrão de Eduardo Cunha, Alckmin e o PSDB correm o risco de ficar falando sozinhos. Já não conseguem unir nem a Juventude do PSDB.
Vida que segue.
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