Terça-feira, 26 de dezembro de 2017 - 11h19
Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho
“Aqui se faz, aqui se paga”, comemoraram os adversários mais antigos, que acompanharam as roubalheiras de Paulo Maluf nas últimas décadas.
Faltou acrescentar: desde que não seja tucano nem amigo do Gilmar.
Embora o tenha combatido e sido por ele processado, e o vencido na Justiça, quando ele era governador de São Paulo, no século passado, não vejo sentido em mandar Maluf para a Papuda a esta altura do campeonato.
Para quê? Certamente não será para regenerar e reeducar o condenado, além de puni-lo pelo conjunto da obra.
Aos 86 anos, arrastando-se de um lado para outro apoiado numa bengala e com a ajuda de policiais, o ex-governador paulista tornou-se um símbolo da velha corrupção do patrimonialismo brasileiro em que o público e o privado se encontram nas mesmas contas bancárias.
Todo mundo sabe que, mais dia menos dia, com perícias e laudos médicos, Maluf estará de volta à sua mansão da rua Cuba, nos Jardins paulistanos, acompanhado da melhor adega da cidade _ se possível, a tempo de estourar champanhe neste Ano Novo que está custando tanto a chegar.
Disposta a não sair das manchetes nesta entressafra de notícias, para mostrar quem manda aqui, a Justiça continua ocupando as manchetes com a extemporânea prisão do octogenário.
Bom ator, Maluf tem colaborado na encenação do martírio natalino na prisão, com a ajuda do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que se tornou seu porta-voz nas visitas diárias que faz a ele no presídio.
“A vida de Maluf na cadeia é um suplício”, disse Kakay no dia de Natal, ao lembrar diariamente todas as doenças do seu cliente, que precisa da ajuda dos companheiros de cela para se levantar da cama.
O advogado também relata como Maluf dormiu, o que lhe serviram de comida, o seu inconformismo com a inesperada ida para a Papuda e todas as mazelas comuns aos presos.
Em termos políticos, a prisão do inspirador do verbo “malufar” não muda nada, a não ser a volta aos jornais daquela fatídica foto de Lula se abraçando com ele nos jardins da famosa mansão para pedir apoio a Fernando Haddad na eleição municipal de 2012.
Com algum atraso, o ex-presidente diz agora que se arrependeu de posar para a foto, mas isso também não muda nada.
Preso só agora por crimes que cometeu há mais de 20 anos, graças ao foro privilegiado de deputado federal e uma plêiade de bons advogados, Maluf deve estar pensando na coincidência de ter ido em cana no mesmo dia que seu parceiro José Maria Marin, que o substituiu no governo do Estado, ambos filhotes da ditadura militar, que alguns ainda querem de volta justamente para combater a corrupção.
De um jeito ou de outro, o Brasil antigo está saindo de cena, sem que se possa saber o que virá em seu lugar.
Poderá ser até muito pior, se Lula for impedido pela Justiça de disputar a eleição e Jair Bolsonaro continuar pontificando como o único anti-Lula viável nas urnas até aqui.
E assim, melancolicamente, com as imagens da decrepitude de Paulo Maluf, vamos chegando ao final de 2017, mais voltados ao passado do que para o futuro.
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