Terça-feira, 10 de outubro de 2017 - 15h20
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, depois de permanecer algum tempo submerso para distanciar-se do seu pupilo Aécio Neves que enfrenta problemas com a Justiça, reapareceu expondo toda a sua enorme dor-de-cotovelo com a liderança de Lula que, apesar do massacre midiático e da perseguição da Lava-Jato, cresce na preferência do eleitorado para voltar à Presidência da República em 2018, conforme atestam as pesquisas de intenção de votos. FHC, na verdade, que deve ter tido insônia com o sucesso do governo Lula – que tornou o Brasil respeitado internacionalmente, colocando-o entre as grandes potências mundiais como a Russia e a China – nunca conseguiu, a exemplo da elite, digerir o ex-torneiro mecânico como Presidente e, por isso, parecia ter orgasmos cada vez que o juiz Sergio Moro transformava o ex-presidente operário em réu nos diversos inquéritos abertos sem provas. E acusava o que chama de “lulopetismo” como responsável pela corrupção no país, até que começaram a aparecer as traquinagens de Aécio, hoje praticamente em prisão domiciliar, o que o obrigou a morder a língua e silenciar.
Em artigo publicado no domingo, sob o título de “Quais os rumos do país?”, FHC começa afirmando que “quando ainda estava na Presidência, eu dizia que o Brasil precisava ter rumos e tratava de apontá-los”. Apenas apontá-los? Ora, com oito anos à frente dos destinos do país ele teve tempo e poderes suficientes não apenas para apontar rumos, mas para conduzir a Nação na direção que entendia ser a melhor. E o fez: levou o Brasil para os braços do Tio Sam, a quem entregou algumas das nossas mais importantes estatais, como a Vale do Rio Doce, além de nossas riquezas minerais. E só não entregou a Petrobrás e o pré-sal porque não conseguiu, apesar das tentativas que incluíram até a mudança do nome da nossa estatal do petróleo. O guru tucano, na verdade, foi uma espécie de marionete do governo dos Estados Unidos, que era quem realmente governava o nosso país através do secretário do Tesouro, Robert Rubin, e do Fundo Monetário Internacional. Esse foi o rumo que ele apontou e imprimiu ao Brasil.
Mais adiante diz FHC em seu artigo que “a confusão política, o descrédito de lideranças e partidos, se expressa na falta de rumos”. Parece piada de quem foi um dos principais responsáveis pelo golpe que destituiu a Presidenta Dilma Roussef e colocou Michel Temer no poder. A confusão política e o descrédito de lideranças (inclusive a sua) e de partidos (inclusive o seu, o PSDB) são frutos desse golpe, que vem destruindo o país e levando o que sobra de volta para os braços de Tio Sam, de onde havia sido retirado por Lula.
Referindo-se à política internacional, o ex-presidente tucano afirma em seu artigo que “há oportunidades para exercermos um papel político e há caminhos econômicos que se abrem”. Isso é verdade, mas as oportunidades, aproveitadas por Lula em seu governo, estreitando as relações com a Russia, a China, a India e a África do Sul, através do BRICS, além de abrir caminhos para a expansão dos negócios brasileiros no Continente Africano, foram abandonadas pelo governo Temer, que ele, FHC, apoia. Ainda sobre o mesmo tema, ele diz mais adiante que “podemos pesar no mundo sem arrogância, reforçando as relações políticas e econômicas com nossos vizinhos e demais parceiros latino-americanos”. Lula também fez isso, mas os chanceleres tucanos do governo golpista, José Serra e Aloysio Nunes, com a nova “diplomacia do porrete”, conseguiram distanciar o Brasil dos seus vizinhos sul-americanos e, inclusive, abrir mão da liderança natural que o nosso país sempre exerceu no Continente. Ou seja, os correligionários de FHC fizeram exatamente o contrário do que ele agora prega.
Ao examinar o atual panorama eleitoral do país, o tucano-mor diz, em seu artigo, que “a crer nas pesquisas de opinião, os políticos mais cotados para vencer as eleições em 2018 mais parecem um repeteco do que inovação, embora haja entre alguns que estão na rabeira das pesquisas quem possa ter posições mais condizentes com o momento”. A sua dor-de-cotovelo é tão grande que ele, insinuando dúvidas quanto à lisura das pesquisas, prefere não citar o nome de Lula como líder na preferência do eleitorado, dizendo que o ex-torneiro mecânico parece mais um “repeteco” do que uma inovação. É óbvio que Lula pretende repetir o sucesso do seu governo, que melhorou todos os índices e fez com que o povo o escolhesse como o melhor Presidente que este país já teve, conforme as pesquisas. FHC, porém, com o cotovelo latejando, diz que “alguns dos que estão à frente ainda insistem em suas glórias passadas para que nos esqueçamos de seus tormentos recentes”. O “alguns dos que estão à frente”, segundo a sua expressão, é Lula e os “tormentos recentes” certamente são os processos contra ele na Lava-Jato, que todo mundo, dentro e fora do Brasil, sabe ser uma armação para torná-lo inelegível.
O mais surpreendente é o fecho do artigo. Nele o ex-presidente tucano diz que “se não organizarmos rapidamente um polo democrático (contra a direita política, que mostra suas garras), que não insista em “utopias regressivas” (como faz boa parte das esquerdas), que entenda que o mundo contemporâneo tem base técnico-científica em crescimento exponencial e exige, portanto, educação de qualidade, que seja popular, e não populista, que fale de forma simples e direta dos assuntos da vida cotidiana das pessoas, corremos o risco de ver no poder quem dele não sabe fazer uso ou o faz para proveito próprio”. Dá pena ver o desespero de FHC diante do possível retorno de Lula ao Palácio do Planalto. Falar em direita, que “mostra as suas garras”, é falar dele próprio, que fez parte da conspiração contra Dilma e embarcou na canoa de Temer. Ao lembrar de quem “fale de forma simples e direta dos assuntos da vida cotidiana” ele está justamente se referindo a Lula, que é o líder que fala a linguagem do povo. Finalmente, ao alertar para “o risco de ver no poder quem dele não sabe fazer uso ou o faz para proveito próprio”, FHC debocha da inteligência do povo, que sabe exatamente o que ele fez e, também, o que Lula fez, o que facilita a comparação. O povo, afinal, sabe que Lula não tem fazenda, nem apartamentos em Paris, Nova York e na capital paulista.
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