Mara Paraguassu
Para quem duvida do envolvimento do prefeito afastado Roberto Sobrinho acerca da lambança criminosa que se praticava dentro da prefeitura de Porto Velho, seria bom se debruçar sobre a leitura das 108 páginas do relato do desembargador Gilberto Barbosa Batista dos Santos, da 2ª Câmara Especial do Tribunal de Justiça de Rondônia.
Emprestado do arrazoado por ele feito para atender em quase 100% as medidas cautelares penais solicitadas pelo Ministério Público Estadual, que segundo o juiz atuou com “esmero insuplantável”, e pela Polícia Federal, o título da coluna remete a Roberto, flagrado em poucas escutas que, dissociadas do conjunto de interceptações telefônicas feitas e indícios colhidos em provas e testemunhos obtidos, não levaria o juiz a afirmar do seu “papel preponderante no esquema” e dos “fortes indícios de que a tudo anuiu.”
É o conjunto de diálogos dos expoentes das Secretarias de Obras, de Serviços Básicos e da Administração, respectivamente Mirian Saldaña, Jair Ramires e Joelcimar Sampaio, e de funcionários menores, encarregados da fiscalização de obras e contratação das empresas, o indicador de que seria impossível o prefeito não ter envolvimento com a patifaria que envolveu a contratação de horas-máquina para limpeza de ruas e manutenção de vicinais, e outras licitações feitas.
Modo petista de governar
Há um nexo funcional entre todos os envolvidos e uma hierarquia do crime, com elevado comprometimento dos servidores nas atividades criminosas, não restando dúvida para o MPE e para a Polícia Federal de que o prefeito tinha conhecimento das ações fraudulentas nos contratos, havendo indícios de sua participação no direcionamento de licitação para compra de máquinas e carros no valor superior a R$ 6 milhões.
O outrora abjeto Jair Ramires, gostosamente instalado no modo petista de governar, seguiu secretário por tanto tempo, e fez negócios com a prefeitura, usando empresa em que o laranja seria seu próprio filho.
Nas contratações apuradas há de tudo: favorecimento em licitações de empresas; pagamento a empresas por serviços não realizados; propinas a servidores; confecção de planilhas superfaturadas; medição ou lançamento incorreto de horas máquinas trabalhadas; elaboração de pareceres encomendados e confecção de documentos a posterior para dar ares de legalidade.
Pobres moradores esquecidos pelo poder público: nunca viram máquina nas comunidades de Marco Azul, Flona Bom Futuro e Rio Pardo. O processo administrativo 11.0086/2011, aberto para manutenção das vicinais naquelas localidades, em caráter emergencial, no valor superior a R$ 4 milhões, não foi executado. Somente quando bateu na mesa do prefeito, em outubro deste ano, pedido de informações sobre a contratação, é que a prefeitura fez manutenção parcial.
Serviço não executado
Roberto Sobrinho já tinha feito inclusive rescisão contratual com a RR Serviços e Terceirização, uma das mais ativas do esquema, sob o argumento de preservar os interesses da administração pública! Acabou a emergência, mesmo não sido feito o serviço, mas a empresa foi paga, em julho de 2011!
É tragédia de proporções inenarráveis a gestão moribunda de Roberto Sobrinho. Todos os aspectos da falta de conduta republicana estão realçados na leitura atenta da peça do juiz e do que o MPE e o MPF divulgaram até agora. E a expectativa é a de que apenas emergiu a cabeça do monstro. Há mais por vir.
Os servidores da Semob, muito especialmente os de lá, mas também da Semad e da Semusb, estavam a serviço das empresas, e com elas mantinham relacionamento pernicioso ao erário, sem limites na fronteira do que é publico e privado. Livremente agiam porque tinham a cumplicidade dos chefes, o que inclui Emanuel Neri.
Manipulavam planilhas de medição, fraudavam contratos e se omitiam na fiscalização das obras, deixando de penalizar como previsto em lei a não execução de serviços, para favorecer as empresas, chefes e eles mesmos – beneficiados com presentes, propinas, gasolina para abastecer seus carros e por aí vai.
Sermão aos Peixes
O compromisso com Mirian Saldana faz com que Emanuel Neri, já aboletado na Secretaria de Estado da Cultura e Esportes, continuasse zelando pelos interesses da RR Serviços e Terceirização. É a corrupção engajada, praticada por grupo, até as últimas consequências.
No capítulo V, do Sermão de Santo Antônio aos Peixes, do Padre Antônio Vieira, de 1654, está escrito: “Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer, e o que tem. Quem pode nadar, e quer voar, tempo virá em que não voe nem nade.” É texto mais atual do que nunca.
Padre Antonio Vieira, através de alegorias, usando os peixes, critica os vícios e vaidades dos homens, critica a prepotência dos grandes, que sacrificam os pequenos e humildes.Censura os soberbos, os ambiciosos, hipócritas e traidores.
Tudo isso habitou Roberto Sobrinho e sua alegre e deslumbrada corte municipal. Que paguem duramente por ter espoliado e abandonado Porto Velho e seu povo.