Dom Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
Quantas vezes ouvimos, no Advento e no Natal, o convite à alegria! “Alegrai-vos e exultai”, convida o profeta Isaías a um povo que tinha experimentado a prostração e o fracasso (cf Is 52,9). E convida toda a natureza a participar da experiência de salvação prometida por Deus: “alegre-se a terra que era deserta, exulte a solidão da floresta, germine e exulte de alegria e louvores” (Is 35,1). O anúncio da salvação refere-se à ação de Deus, que resgata o homem e o mundo de sua tristeza e de sua insignificância.
Quando o anjo Gabriel anunciou a Maria, que Deus a escolhera para ser a mãe do Salvador, mais uma vez aparece o convite à alegria: “alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo! (Lc 2,28). Ao visitar sua prima Isabel, esta vai-lhe ao encontro com um grito de alegre surpresa: “bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” E revela um segredo sabido somente por ela: “logo que ouvi a tua voz, o menino pulou de alegria no meu ventre!” (cf. Lc 1,42-45).
Maria, por sua vez, não poupa em manifestações de alegria e júbilo, ao proclamar as grandes coisas que Deus estava fazendo por meio dela: “a minha alma engrandece o Senhor e exulta de alegria meu espírito em Deus, meu Salvador!” (Cf. Lc 1,46-47). Depois, o nascimento de João Batista é comemorado com alegria pela vizinhança e pelo próprio pai, Zacarias (Cf. Lc 1,57-68).
No nascimento de Jesus, mais uma vez entra em cena o anjo, que convida os pastores a se alegrarem com a “boa nova”, destinada a ser notícia boa também para todo povo! (Cf. Lc 2,10). Os pastores são inundados de alegria e saem a contar a todos os que viram e ouviram...
O Natal traz alegria e não é sem motivo. É Deus que conforta a humanidade, vindo ao seu encontro, fazendo-se próximo de cada homem. Ninguém mais precisa viver nas trevas da desorientação, na angústia e na solidão. O Natal nos lembra que Deus olha para nós com imenso amor.
O papa Francisco, na sua recente Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, ajudou-nos a ter uma consciência renovada de que o anúncio cristão é uma “boa notícia”, um motivo de alegria profunda. Deus entrou na nossa história; por meio do Filho, Jesus de Nazaré, viveu na nossa condição humana, santificou-a e elevou-a a uma dignidade luminosa! E convida-nos a viver na comunhão com ele!
Por isso, o Natal precisa ser celebrado com intensa alegria: em família, porque se refere a um acontecimento de família; na paróquia e nas várias comunidades de fé, porque é um acontecimento de fé; na comunidade humana inteira, porque o nascimento do Salvador não foi somente para os cristãos, mas para todas as pessoas “de boa vontade”, ou “a quem Deus quer bem”!
E sejamos nós, os cristãos, os primeiros a dar sentido à festa do Natal, para que ela não se perca em exterioridades e no consumo de bens. Demos graças a Deus pela obra da redenção realizada por meio de Jesus Cristo em nosso favor. Alegrai-vos, alegremo-nos! O Senhor está perto! Ele se fez “Emanuel”, que significa: Deus no meio de nós!
Desejo feliz e abençoado Natal de Jesus para todos os leitores. Deus esteja sempre em sua vida e lhe dê muita paz e alegria!