Quarta-feira, 21 de dezembro de 2016 - 18h13
É Natal, novamente. Crianças e idosos, jovens e adultos, ricos e pobres, patrões e trabalhadores, empregados e desempregados, intelectuais e analfabetos, governantes e cidadãos comuns, todos se saúdam com belas palavras e mensagens de amor, paz, esperança e solidariedade. Tudo parece mágico, belo, luminoso, até que a vida retorne ao seu ritmo de sempre.
Algo mudou ou mudará? Sim, para aqueles que entendem que o Natal é muito mais do que um dia, mensagens, presentes, presépio, amigos secretos, comilanças, fogos de artifício, árvores enfeitadas e pisca-piscas. Os que creem, verdadeiramente, em Cristo, celebram esta festa acolhendo-o em suas vidas, deixando-se transformar por ele, engajando-se na transformação do mundo.
Os símbolos do Natal, mesmo não religiosos, apontam para novos modos de ser e conviver. O pinheiro iluminado, por exemplo, com bolas brilhantes, mostra que devemos ser uma árvore que dá bons frutos, cujo brilho depende de nossas virtudes, de nossos corações generosos, de nossas mentes sábias, de nossos projetos audaciosos e de nossas ações corajosas.
Se não brilhamos tanto ao longo do ano, deixemo-nos, agora, iluminar pelo Menino Deus. Não vale a pena ter árvores brilhantes, mas rostos apagados pelos desentendimentos que geraram mágoas, pelo desprezo que sofremos ou cometemos, pela arrogância naquela discussão sem sentido, pela vaidade que esvaziou nossos corações e pela omissão que fez nosso mundo ser menos fraterno.
Por isso, celebremos, hoje e sempre, o Natal da fé, do coração aberto a Deus, da mão estendida, da irmandade e de quem planta justiça. Com nossos joelhos dobrados em prece, lembremo-nos dos que não se falam e dos que vivem em guerra. Façamos por eles uma prece de paz. Lembremo-nos dos que se odeiam, dos tristes, solitários, sem-terra, sem emprego, sem saúde, sem casa, sem família, sem afeto, sem amigos, sem esperança, sem liberdade e sem alegria.
Lembremo-nos, também, dos que nos ofenderam e de quem ofendemos. Façamos por todos uma prece de perdão e reconciliação, afinal a vida recomeça com o Menino Deus que renasce hoje e sempre, especialmente entre os pequenos. Hoje é Natal, como deve ser todos os dias, sobretudo das crianças que os gestores públicos sempre esquecem. Jesus Menino está e continuará em nossos projetos socioeducativos, aguardando os recursos públicos negados pelos governantes.
Hoje é Natal e amanhã será também, dos jovens que procuram trabalho, com poucas chances de encontrá-lo. É Natal e sempre será das pessoas idosas que não merecem chorar por recordações amargas, afinal são pessoas que deram vida; a tantos carregaram nos braços, ajudaram a caminhar e, nas quedas, os levantaram; ensinaram a responsabilidade, o valor da família, do “ganha-pão” honesto e justo. O Natal delas não pode ser de trabalho sem descanso e sem aposentadoria digna.
O Natal de todos não pode ser de desprezo e abandono; e, se assim o for, que não tenhamos medo de agir, pois “hoje nasceu para nós um Salvador que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). Encontremos nesse pobre, recém-nascido, o motivo de nossa alegria, de nossa esperança e de nossa ação. Ele se rebaixou, assumindo em tudo nossa condição humana, menos o pecado, para elevar-nos à dignidade de filhos e filhas de Deus, dignidade esta pela qual lutamos hoje e lutaremos sempre.
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