Sexta-feira, 22 de março de 2013 - 12h38
Professor Nazareno*
O Brasil, embora apresente uma produção de riquezas que o deixa entre as maiores economias do planeta, tem paradoxalmente uma das sociedades mais violentas do mundo. Cai por terra qualquer propaganda no sentido de se dizer ou fazer acreditar que somos o país da paz e da fraternidade. Aqui, anualmente, morrem mais pessoas do que a soma de todas as guerras que estão sendo travadas na atualidade. Pelo menos 50 mil cidadãos são assassinados todos os anos em nosso país numa incrível marca de 136 mortes diárias. São mais de 60 mil mortos no trânsito, fora os casos de violência mais explícitos como roubos, assaltos, estupros, arrombamentos, agressões, xingamentos, intolerância, racismo, preconceito e o uso desnecessário da força. Por isso, somos lamentavelmente uma potência pontilhada de grotões que lembram um país em guerra. Além de carnaval e futebol, aqui também se mata muito e de forma cruel e desumana.
Infelizmente esta loucura é o resultado da sociedade que nós próprios forjamos nestes 513 anos de existência. Da ditadura colonialista de Portugal passando pelo inferno da escravidão e da implantação de uma das piores formas de capitalismo do mundo, praticamente a única coisa que fizemos durante este período foi aumentar cada vez mais a exploração contra nossos irmãos brasileiros. Aliada a esta aberração histórica, desenvolvemos a alienação e a estupidez coletivas e viramos reféns de nossos próprios atos. Protestamos contra a morte de nossos jovens, principalmente, como os casos em Porto Velho das jovens Naiara Karine e Raíssa Lopes e de tantas outras indefesas vítimas, mas nos esquecemos de que os verdadeiros culpados continuam livres e impunes, pois a verdadeira “máquina que mata” parece que nunca é afetada com a nossa dor e os nossos protestos. A violência nos cerca e se aproxima de nós.
Enquanto sociedade organizada, somos muitas vezes abjetos, cretinos e hipócritas. Em fevereiro, colocamos 150 mil pessoas nas ruas de Porto Velho numa ridícula banda de carnaval que só incentiva o consumo de álcool, drogas e mais alienação e não exigimos de nossas autoridades maiores e melhores investimentos em segurança pública por exemplo. Na Marcha para Jesus, Carnaval Fora de Época ou Passeata do Orgulho Gay mobilizamos igual número de participantes somente para mostrar a nossa orientação sexual, religiosa ou cultural e parece que nos esquecemos de que a sociedade necessita de boa Saúde com hospitais públicos decentes, Educação pública de qualidade, saneamento básico e segurança, principalmente segurança. Todas estas manifestações devem existir, é pluralidade, mas por que não outras? Quantos de nós nos mobilizamos para exigir dos nossos governantes melhoras nestes últimos itens?
A violência está dentro de cada um de nós quando de forma intolerante, racista e preconceituosa discriminamos o nosso irmão que é homossexual, quando queremos que o Poder Público adote sem discussões a pena de morte, quando incentivamos numa absurda volta ao passado medieval o “olho por olho e o dente por dente”, quando não cobramos os nossos mais elementares direitos, quando nas eleições votamos em canalhas corruptos e ladrões e nada cobramos deles depois de eleitos, quando, por comodismo e alienação, não exigimos mudanças na nossa frágil legislação, quando aceitamos a impunidade só dos ricos e abastados, quando damos audiência a programas cada vez mais alienantes da nossa mídia, quando discriminamos o outro por causa de sua religião, time de futebol e até modo de vida, quando não valorizamos a Educação e a Política, quando, enfim, fazemos chacota com a política de Direitos Humanos em nosso país e não participamos de passeatas e protestos contra a violência. Por isso, somos muitas vezes os causadores dessa mesma violência absurda que tanto abominamos.
*É Professor em Porto Velho.
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