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O capital e os valores


O conceituado professor canadense Kevin Kaiser, da badalada escola de negócios Insead, disse a uma revista brasileira que o capitalismo está apena começando e que sua implantação melhorou a humanidade. Ele traça um perfil generoso do sistema sócio/econômico que teve início com a revolução industrial no século 18 e vive seu esplendor após vencer a queda de braço com o socialismo/comunismo. Na visão do professor o capitalismo garante aos pobres acesso à educação, comida, assistência médica, entre outros.

Confesso que minha opinião sobre esse aspecto do capitalismo é bastante lacônica. Não consigo enxergar se o capitalismo tem mesmo ajudado a transformar o mundo em algo melhor de se viver e se ele de fato possibilita aos mais pobres acesso a bens e serviços. Dias desses relembrava entre amigos como era a relação humana há quatro décadas quando boa parte das famílias vivia nas áreas rurais em pequenas propriedades, hoje transformadas em extensos campos de produção de grãos ou de gado. A vida parecia menos competitiva e as relações entre as pessoas eram mais fraternais, diferente da competitividade e o individualismo de hoje, uma imposição das relações capitalistas. Naquela época quando uma família abatia um animal para consumo uma parte era reservada para os vizinhos mais próximos. Eles se reuniam coletivamente para a tarefa do abate. Todos os membros da comunidade agiam assim. Também era praxe os vizinhos se reunirem em mutirão para arar a terra, fazer uma roçada, o plantio e a colheita. Todos colaboravam entre si. Era uma coletivização convencional que não estava escrita em nenhum contrato social. Esse comportamento não está mais presente nem mesmo nas comunidades rurais que não sucumbiram à invasão das máquinas e colheitadeiras.

O capitalismo mudou essa relação. As pessoas estão cada vez mais frias e individualistas. Mal conheço de vista o meu vizinho ao lado. Também nunca o convidei para uma conversa ou um jantar em minha casa. Não conheço os pais dos coleguinhas de escola do meu filho. O tempo presente nos cobra pressa e nos obriga a imprimir um ritmo cada vez mais célere em nossas relações pessoas e profissionais.

O capitalismo enriqueceu pessoas e nações. Facilitou as tarefas domésticas e no trabalho com a definitiva implantação da tecnologia. É fato que a vida moderna foi favorecida com as mudanças provocadas pelas transformações oriundas das políticas implementadas pela liberalidade econômica, embora nem todos tenham acesso a tudo o que a revolução industrial e tecnológica proporcionou. Por outro lado mutilou valores, sufocou relações, às vezes coisas comezinhas, que dinheiro nenhum pode comprar ou restituir.

Fonte: Vitor Paniágua

 

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