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O PT, enfim, chafurdou oficialmente na lama


O PT, enfim, chafurdou oficialmente na lama - Gente de Opinião

  Ernande Segismundo

 

            O auditório do terceiro andar do Hotel Ágape de Ji-Paraná testemunhou emudecido durante todo o sábado passado o tiro de misericórdia que o Diretório Estadual desferiu contra o insipiente patrimônio moral do PT rondoniense. Escrevo estas linhas por respeito a muitíssimos amigos e companheiros, à opinião pública que me conhece e para prestar contas do honroso trabalho desempenhado à frente da Comissão de Ética do Diretório Regional do Partido dos Trabalhados de Rondônia.

            Não sou vigarista ou desleal ao ponto de expor aqui tudo o que ocorreu naquele evento fechado, de modo que não revelarei os embates de ordem pessoal e as matérias eminentemente reservadas havidas naquele conclave, pois minha lealdade vai para além da morte.

            O Diretório Estadual foi convocado especialmente para julgar nove representações ético-disciplinares propostas por militantes contra figuras como o ex-prefeito de Porto Velho Roberto Sobrinho, a deputada estadual Epifania Barbosa, o ex-secretário municipal de administração Joelcimar Sampaio, a ex-chefe de gabinete de Sobrinho, Miriam Saldaña e o deputado estadual Ribamar Araújo por acusações de quebra da ética partidária.

            A Comissão de Ética do Diretório Regional, por mim presidida, aprovou os relatórios dos nove processos por unanimidade, com sugestão de improcedência de quatro representações, de expulsão de Roberto Sobrinho em três situações. A expulsão de Joelcimar Sampaio, Mirim Saldaña e Epifânia Barbosa foi sugerida uma vez para cada um, além de sanções ao deputado estadual Ribamar Araújo.

            Ao apreciar os casos, o Diretório Estadual julgou procedentes todos os relatórios da Comissão de Ética, ora por maioria ora por unanimidade, porém na hora de aplicar as sanções lançou mão dos poderes estatutários e afastou todas as sanções de expulsão preferindo aplicar censura publica.

            Evidente que tais decisões não refletem o pensamento médio da militância petista em Rondônia, formada por muitas figuras heroicas e bravas e de reputações ilibadíssimas, assim como não refletiu o pensamento médio da sociedade rondoniense, ávida por construir uma sociedade local mais civilizada.

            Em 31 anos de ativa militância petista nunca vi um fórum votando de modo tão constringido, chegando ao absurdo de autor de representação contra Sobrinho votar a seu favor.

            Fato é que Sobrinho é o maior e mais qualificado quadro politico já preparado pelo petismo rondoniense, à altura de Jorge Streit, Daniel Pereira e Eduardo Valverde, forjado nas lutas sindicais e embates internos. É de longe o melhor discurso, a melhor retórica e a melhor articulação política, operada hoje a ferro e fogo na base do toma–lá-dá-cá. Pena que tudo isso esteja hoje a serviço do mal visto que a genialidade de Sobrinho opera contra tudo de positivo que o PT representou algum dia. Sobrinho mapeou a composição do Diretório e investiu pesado sobre cada membro, cobrando na jugular cada favor político prestado e o resultado é que diversos membros do Diretório com valorosos históricos de lutas éticas, civis, sociais e humanitárias se renderam ao despudorado poder intimidatório do ex-alcaide da capital.

            Figuras proeminentes do Partido sufragaram constrangidos à defesa de Sobrinho e com isto, creio que sepultaram sua trajetória política, como o Pe. Ton, pelo qual eu nutria certa admiração e respeito, mas a partir daquele evento me parece tão desprezível quanto Sobrinho e seus asseclas.

            Os grupos políticos internos liderados pelo deputado federal Pe. Ton e pelo deputado federal Anselmo de Jesus serviram vergonhosamente de para-choques de Roberto Sobrinho e Epifânia Barbosa, isto à custa de complicadíssimas trocas de favores político-eleitorais, o que demonstra que também na esfera interna do PT não ‘há virgem no bordel’.

            Roberto Sobrinho tentou naquele evento me constranger e me desautorizar pelos duríssimos relatórios produzidos pela Comissão de Ética, mas se deparou com uma gigantesca muralha de titânio que é a minha independência em relação a toda essa camarilha à qual não devo um níquel de favor ou qualquer consideração.

            Das pessoas que participaram do Governo Municipal do PT na Capital, umas são bases conscientes de Sobrinho, outras acham que lhe devem favor pelos cargos ocupados, o que não é verdade, posto que o Governo também era do Partido, de modo que ter participado do governo não significa necessariamente ter o rabo preso com Sobrinho. No meu caso, nunca ocupei cargo político algum, de modo que não tenho que prestar contas a ninguém.

            Essa reunião do Diretório Regional revelou desgraçadamente que o grupo catapultado por Roberto Sobrinho, Epifânia Barbosa e Cláudio Carvalho, com apoio da tendência política do Pe. Ton e a de Anselmo de Jesus e seus asseclas possuem o absoluto controle político do PT rondoniense.

            Esse povo deve morrer junto e abraçado, pois Sobrinho está inelegível por 8 anos em face de condenação pelo TJ/RO por improbidade administrativa. Epifânia está inelegível porque teve decretada contra si a perda temporária do mandato por quebra do decoro parlamentar, Cláudio Carvalho caminha para o cadafalso e quanto a Pe. Ton e Anselmo de Jesus a fatura certamente será cobrada no dia 05 de outubro de 2014 pela soberania popular.

            Quando as reiteradas operações policiais envolvendo sempre alguma figura proeminente do PT começaram a corroer o que restava de dignidade partidária fui pressionado por familiares e amigos a deixar a legenda e relutei, pois era presidente da Comissão de Ética e esperava prestar ainda algum serviço relevante à legenda que embalou minha vida civil por 31 anos e está gravada em minha pele feito tatuagem.

            Não tinha o direito de sair nos primeiros bombardeiros. Precisava honrar a brava memória de impolutos heróis como Eduardo Valverde Araújo, Ely Bezerra, Chico Cesário, Fatinha Aves e, por último, o guerreiro legendário Severino Dias de Jaru.

            Agora nada mais me prende ao PT. Não tenho mais a mínima disposição de participar de qualquer evento partidário ladeado por Roberto Sobrinho, Epifânia Barbosa, Miriam Saldaña, Tácito Pereira ou Cláudio Carvalho o último premiado por uma operação policial pelo alegado envolvimento com o crime organizado.

            A cada envolvimento de figuras públicas do PT com a polícia e o crime organizado o PT sofre sangria pela debandada de seus melhores quadros com desfiliação em massa como foi o caso dos combativos Inácio Azevedo e Marcelo Henrique Borges. Agora é a minha vez.

            Comunico, portanto, a toda a opinião pública rondoniense interessada que após 31 anos de ativa militância e lealdade canina estou finalmente deixando as fileiras do Partido dos Trabalhadores no dia 05.08.2013 e também encerro minha militância partidária, pois não tenho qualquer interesse em integrar qualquer outra agremiação política brasileira.

            Não sou idiota ao ponto de negar a importância da atividade partidária para a democracia representativa. Os partidos são absolutamente fundamentais para a gestão da vida social moderna, mas dei minha contribuição por 31 anos, outros virão para prosseguir na luta em todos os partidos que têm alguma proposta séria e razoável para contribuir com o processo civilizatório do nosso País.

            Também não sou idiota e babaca a ponto de fazer de agora em diante o tipo de antipetista ferrenho e raivoso que flerta contentemente com a direita mais fedorenta como vejo por aí. Sou um homem de esquerda desde quando descobri lá pela adolescência que todo homem é animal político e penso que jamais abandonarei esta minha visão política do mundo.

            Vou canalizar todas as minhas forças, que são muitas e vigorosas, para a militância social a favor da cultura, da promoção social, do combate á corrupção, do meio ambiente e de todas as bandeiras civilizatórias da nossa sociedade.

Ernande Segismundo é advogado portovelhense.

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