Quinta-feira, 21 de julho de 2016 - 05h12
*Cristiano Parente
Legado e oportunidade. Duas palavras com imenso poder transformador quando pensamos no que as Olímpiadas do Rio de Janeiro podem refletir na educação física brasileira. Temos que aproveitar a realização do maior evento mundial esportivo pela primeira vez na América do Sul para almejar, além de algumas dezenas de medalhas, algumas possibilidades de estímulo para uma vida mais ativa, principalmente na infância, sem necessariamente impor o modelo competitivo às crianças.
Ao se falar em legado deixado na realização de acontecimentos mundiais como este que estamos prestes a vivenciar, logo se pensa em obras e melhorias de infraestrutura construídas pelas regiões por onde passam as competições. O que pouco se discute, entretanto, é a amplitude de benefício que eventos esportivos dessa magnitude podem trazer ao país, inclusive no que diz respeito à educação e capacitação profissional.
Infelizmente, o tema ainda não recebeu merecida atenção. A educação física nas escolas e a transformação que ela poderia gerar nos cidadãos do país e também no Brasil como potência saudável e ativa fisicamente é muito pouco difundida.
Em termos esportivos, ainda nos falta um projeto definido para encontrar talentos na base, nas escolas. Aliás, o esporte escolar não entra como parte das aulas de Educação Física, mas num momento extracurricular onde as crianças interessadas pelos jogos e pela competição possam ali expressar sua energia e vontade de disputar. E essas são minoria.
O esporte, enquanto instituição, apresenta diversas faces, que muitas vezes são interpretadas de maneira errada, inclusive por profissionais da área. Há a face do negócio, da profissão, ou melhor, profissões, existe a face do show e do entretenimento, bem como as faces da ciência e pesquisa, da mídia e da política. Ter claro o que o esporte representa em cada uma dessas faces é um passo determinante para poder realmente aproveitar algum possível legado olímpico de maneira inteligente e efetiva.
O legado olímpico deveria vir com a estimulação consciente em cada jovem. As escolas, dentro das aulas de Educação Física curricular, não devem pensar em situações competitivas onde os bons em termos de habilidade e de genética possam se sobressair sobre os menos avantajados. Essa diferença técnica esportiva aparece por mil fatores, que vão muito além do que a disciplina é capaz de ensinar.
Fazer o jovem experimentar dezenas de movimentos e modalidades, de modo que entenda e tente descobrir qual gosta mais, compreender o que é necessário fazer para que se consiga melhorar uma habilidade que goste e quando quiser se desenvolver de maneira inteligente, poder praticá-la sem pensar em comparação com o melhor ou com o pior, mas fazê-la com prazer, em situações de cooperação, de maneira regular, é essencial para que o grande evento esportivo deixe um grande legado para os nossos pequenos. E isso só acontecerá com a transformação, com a atualização dos profissionais de educação física, bem como com a mudança na forma de atuação.
É preciso mudar de vez a cara da educação física no país. É necessário dar mais qualidade, ferramenta e conhecimento para o profissional que atua nesse segmento, para que ele saia da inércia e retome a vontade de evolução na profissão. Um educador físico bem preparado e motivado certamente se transforma em exemplo e incentivo para a sociedade como um todo se mover mais e buscar uma vida mais saudável. A oportunidade está em nossa casa, em nossas mãos. Temos que aproveitá-la.
*Cristiano Parente é professor e coach de educação física, eleito em 2014 o melhor personal trainer do mundo em concurso internacional promovido pela Life Fitness. É CEO da Koatch Academia, do World Top Trainers Certification, primeira certificação mundial para a atividade de educador físico.
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