*Francisca Romana Giacometti Paris
Infelizmente pudemos constatar que metade dos estudantes que estão cursando o último ano do 1º ciclo do Ensino Fundamental no Brasil pode ser considerada analfabeta funcional e quase um quarto dos que concluem o Ensino Médio sai da escola sem ter se apropriado de saberes escolares básicos. Esses dados, já esperados, foram evidenciados recentemente pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Somado o resultado do Saeb à taxa de rendimento escolar que mede aprovação e evasão e ao desempenho dos alunos na Prova Brasil (exame federal que avalia a qualidade da educação pública), obtém-se o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Em 2010, o índice mostrou que, apesar de a distância na qualidade do ensino entre a rede pública e a privada ter diminuído nos últimos anos, o estudante que completa o Ensino Fundamental em uma escola particular sabe, em média, mais do que um aluno formado no Ensino Médio público, apesar dos três anos de estudo que os separam.
Já o Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (Pisa), que monitora o desempenho do ensino em todo o mundo, avaliando alunos com 15 anos de idade, traz dados mais preocupantes. Dos alunos que chegam à 4ª série/5º ano do Ensino Fundamental no Brasil, só 25% aprendem matemática nos níveis mínimos esperados, porcentagem que despenca para 10% no 3º ano do Ensino Médio.
A despeito desses dados alarmantes, foi noticiado pela mídia que 16 estados brasileiros mais o Distrito Federal não têm plano estadual de Educação – mesmo sendo previsto em lei –, segundo recente estudo da ONG Ação Educativa. Isso significa que eles não estabeleceram ou não legalizaram metas consolidadas para direcionar as políticas públicas.
E quais são os caminhos para se reverter esse quadro? Podemos vislumbrar cinco, que se complementam: 1) continuar a melhoria da distribuição de renda; 2) fortalecer políticas de valorização docente; 3) investir na qualidade e ampliação da educação infantil, 4) promover formação continuada para professores e gestores e 5) optar por materiais e recursos didáticos que vão ao encontro de uma aprendizagem significativa, que possibilitem ao aluno do ensino público uma formação adequada às demandas desta época.
Um estudo da Fundação Lemann comprovou, há alguns meses, a eficiência do uso de materiais didáticos estruturados em escolas municipais e estaduais de São Paulo. As escolas que adotaram esse tipo de material em 2005 viram as notas de seus alunos aumentarem consideravelmente em Língua Portuguesa e Matemática, na Prova Brasil, em relação às demais escolas.
Materiais didáticos estruturados (ou “sistemas de ensino”) são cadernos, de uso individual, que organizam o currículo da escola e os conteúdos das disciplinas. Podem ainda orientar os professores e acompanhar o desempenho dos estudantes, o que otimiza o aproveitamento do tempo em sala de aula, favorece o estudo do aluno em casa e incrementa o domínio do conteúdo pelo professor.
Isso porque um sistema estruturado de ensino se configura como um conjunto de soluções que vão além do material didático. Ele inclui, por exemplo, tecnologias educacionais, portal educativo, formação continuada de professores, avaliação e acompanhamento da aprendizagem do aluno, entre outras, que, juntas, resultarão em melhor desempenho escolar.
Em educação, não há uma solução milagrosa para tudo. É preciso combinar diferentes alternativas e esforços. Sem a cooperação do poder público – gerando políticas eficazes –, da iniciativa privada – produzindo conteúdos de qualidade para alunos de todas as classes sociais – e das associações de classe – auxiliando na formação continuada –, permaneceremos chorando sobre o leite derramado. Ou melhor, sobre os tristes índices da nossa educação.
(*)Diretora pedagógica do Agora Sistema de Ensino (www.souagora.com.br) e do Ético Sistema de Ensino (www.sejaetico.com.br), pedagoga, mestre em educação e ex-secretária de Educação de Ribeirão Preto (SP)
Fonte:Ana Carolina Esmeraldo / Ex-Libris Comunicação Integrada
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