Segunda-feira, 27 de dezembro de 2010 - 08h59
É amplamente anunciada e propagada as conquistas sociais e políticas do Brasil nos últimos anos. O país segue crescendo e registrando números favoráveis. É nítida a ascensão das classes mais baixas aos privilégios que era assegurado, até bem pouco tempo, apenas às mais altas.
No entanto, todas essas conquistas caminham sozinhas, apartadas de um comportamento que não acompanha a inércia que eleva as classes brasileiras a novas posições sociais. Não há uma conduta comportamental que nos faça acreditar que algo mudou, que o passado ficou para traz. Não registramos uma nova consciência, uma nova mentalidade de vida comungada amplamente no Brasil, como se todo um povo imaginasse junto viver em uma nova nação, com uma nova postura. Vivemos em um grande país, um generoso país, mas ainda nos falta povo.
Quando foi criada e passou a vigorar a Lei do Ficha Limpa - ainda que da maior importância mas com efetivação duvidosa - imaginamos que o povo brasileiro iria completar a Lei nas urnas, não elegendo os fichas sujas, amplamente apontados por entidades de classe e movimentos sociais no Brasil inteiro.
O que seu viu, para desesperança maior, foi a entronização do voto cacareco, com a eleição do Tiririca e de Paulo Maluf. Isso, no maior estado da Federação, centro político e financeiro do Brasil. Quase uma parodia do medieval pão e circo. Neste caso, um pão superfaturado, como se o povo aprovasse essa conduta, desde que o pão esteja na mesa para saciar a fome de todos. Este é o Brasil real, o Brasil de todo dia.
Agora, vemos as Forças Nacionais libertando vilas e favelas inteiras no Rio de Janeiro. É preciso que a população carioca termine o trabalho iniciado pela força bruta e expulse da política municipal, estadual e nacional, os traficantes de cargos e poder, aqueles que distribuem balas nas favelas e são eleitos vereadores, aqueles que dão festas e brinquedos e são eleitos líderes comunitários, acobertando assim trabalhos de milícias e policiais corruptos.
É preciso que o povo tome as rédeas de seu destino, que tenha a consciência cívica da cidadania. É preciso que de todo esse sofrido processo, vivido em anos e anos de desespero, incertezas e dor, sirva como lição e estimule a busca por um presente e futuro diferentes para as populações carentes do Rio de Janeiro. É tempo de se reciclar, e o Brasil somos nós, os nossos atos.
A ótica não é poder comprar um som mais potente para tocar mais alto o funk de cérebro de melancia. Mas sim, de um som mais potente para ouvir nitidamente o som de todos os instrumentos, daquela canção que fale de uma vida vitoriosa, dos infortúnios do passado e da esperança em um futuro melhor. Essa sim, é a nova trilha de uma vida que cresceu, que amadureceu, e que começa a florescer e dar novos frutos.
Fonte: Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor
www.petroniosouzagoncalves.blogspot.com
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