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Para muito além dos embargos 'afligentes'


Prof. Edilson Lobo do Nascimento
 

Daqui a mais alguns dias, estaremos novamente em voltas com a controversa peleja que será travada no Supremo, sobre o famigerado “mensalão”.

O que mais “aflige” nesses embargos, é saber que para além das retóricas jurídicas, do chamado direito ao contraditório, do apelo ao Estado para não se constituir em bastião autoritário das querelas jurídicas, do respeito a constituição e tantos outros argumentos mais (o exercício do pleno direito numa sociedade democrática, tem por princípio garantir essas prerrogativas) mas, para muito além de tudo isso, o que deve prevalecer é o compromisso, a responsabilidade e sobretudo uma postura absolutamente ética e tomada de decisões corretas e absolutamente transparentes na condução das coisas públicas.

Essas deveriam ser as grandes questões do governo, para alimentar um saudável debate. Ao invés dos seus defensores, do Partido dos Trabalhadores e seus aliados ficarem a ferro e fogo querendo inocentar a turma do mensalão e vê-los, fora das barras dos tribunais,  por “acreditarem” não terem eles cometido nenhum crime, ou de outra, minimizar as possíveis irregularidades que cometeram , deveriam aproveitar esse acontecimento, para se discutir a fundo, a moralidade no serviço público e, a relação promíscua que se estabelece entre os partidos políticos e, os que se apoderam do Estado para daí instrumentalizá-lo em proveito próprio e dos grandes grupos, que através deles (os que estão no bloco de poder) se fazem representar.

O governo petista, que assumiu o poder com o discurso de promover o desenvolvimento do País, prestou um grande desserviço à nação brasileira, ao assumir o planalto central e, utilizar-se das mesmas práticas dos governos corruptos que tomaram de assalto a Nação brasileira, desde os seus tempos imperiais.

Rasgou a cartilha da ética e sem fazer diferença alguma, se igualou aos demais. Com um agravante, passou todo o tempo que se constituiu como oposição, vociferando contra qualquer tipo de ilícito, sendo implacável com os adversários que ousassem infringir minimamente princípios legais. Sempre intolerante com os que  se utilizaram do poder público em causa própria, ou de malversar o erário, atuou sempre como uma espécie de baluarte da moralidade.

Guindado ao posto de governante, a exemplo de FHC, que pediu para que esquecessem o que escreveu, também o PT, pediu  ao povo,  para  esquecer a sua trajetória de luta, pautada na dignidade, na  ética e no jeito sério de se fazer política. Não dá para minimizar agora, os diversos escândalos promovidos pelas suas administrações, ou pelos parlamentares pertencentes aos seus quadros, que exercem suas funções pelas diversas regiões desse país.

Lamentável constatar as contradições do discurso e das ações praticadas antes e após a investidura no poder. Não é descente estabelecer comparações com os que roubaram e os que roubam hoje. O roubo não deve ser em hipótese alguma, uma prática consentida. Não é honesto, valer-se de desculpas conspiratórias,  para justificar ou escamotear uma insofismável realidade. Isso só é reservado aos cínicos e dissimulados. Há algo de muito suspeitável  no governo petista sim.

É certo que ao olhar mais atento, é perceptível o que está em disputa no concerto da política nacional, ou seja, a manutenção da  hegemonia política no comando do grande poder central. E aí, dentro da mediocridade da forma de fazer política no Brasil, o jogo é duro, é implacável. Não existem bons moços e bons modos nessa história, lamentavelmente; e o PT sabia disso. Arriscou-se prematuramente a abandonar um projeto de nação, por um projeto de poder que não ousa abrir mão, mesmo que para isso, tenha que trair a massa que acreditou nos seus ideais e os princípios e valores que inspiraram a sua militância.

Hoje, o governo do PT, se vê emaranhado em seus próprios nós. Compelido pelas circunstâncias da tal “governabilidade”, fez alianças com o que há de pior no parlamento. Assegurou a maioria no Congresso, loteando cargos e comprando votos. Conclusão, teve que usar a mesma chantagem do toma lá dá cá do velho  fisiologismo político, que sempre imperou nos partidos e que tanto combateu. As consequências não poderiam ser outras se não, a de  cair  em desgraças, na própria teia em que se enredou.

Estamos às vésperas de mais um ano eleitoral. Quais seriam as pretensões de um governo - como bem frisou Cesar Benjamin em seu último artigo no Boletim Controvérsia -  que não é capaz de cuidar das grandes questões, que aprofundou o fisiologismo e desmoralizou ainda mais a política?

Edilson Lobo do Nascimento

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Rondônia – UNIR

edilobo@bol.com.br

 

 

 

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