Sexta-feira, 4 de outubro de 2024 - 12h02
Há muitos
anos, quando ainda era estudante de Direito, lembro de uma aula sobre a
Constituição em que o professor nos desafiou: “A Constituição é para todos, mas
será que todos a interpretam da mesma forma? E mais, será que todos estão
sujeitos a ela da mesma maneira?” Na época, essa pergunta parecia abstrata e
teórica, mas hoje, ao ver como a justiça está sendo aplicada no Brasil, percebo
que aquelas palavras carregavam um peso muito maior do que imaginei.
Débora
Rodrigues dos Santos, uma cabeleireira de 38 anos, foi condenada a 16 anos de
prisão por ter rabiscado com batom a frase “Perdeu, Mané” na estátua da Justiça
durante os protestos de 8 de janeiro de 2023. Débora está presa desde março do
ano passado, como parte da oitava fase da Operação Lesa Pátria, conduzida pela
PF. A operação visava investigar a participação e o financiamento dos atos
golpistas em Brasília.
A cabelereira
foi acusada de atos golpistas que incluíam vários crimes, entre eles associação
criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de
Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça, e deterioração do
patrimônio tombado. O ato de Débora foi visto como um ataque direto ao
patrimônio público e à ordem constitucional. Enquanto isso, o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) continua realizando invasões de propriedades privadas e
públicas sem enfrentar sanções de igual rigor. Essa disparidade no tratamento,
não apenas demonstra a seletividade no uso da lei, mas também levanta a
questão: quem realmente está ferindo a Constituição?
Eu, tendo
estudado os livros de Direito Constitucional de Alexandre de Moraes na
faculdade, me sinto revoltado ao ver o abismo entre o que ele escreveu e o que
pratica em sua atuação como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Moraes,
que em suas obras defende o equilíbrio e a proteção constitucional, hoje
acumula funções que jamais deveriam pertencer a um único indivíduo em um Estado
Democrático de Direito: ele investiga, acusa, julga e condena, sem que qualquer
tipo de controle ou contrapeso seja exercido.
O STF,
órgão supremo que deveria ser a última instância de proteção à Constituição,
tornou-se um palco de julgamentos políticos. E, neste cenário, dois ministros
em especial — Nunes Marques e André Mendonça, indicados pelo ex-presidente Jair
Bolsonaro —, parecem ter escolhido o silêncio como forma de atuação. Chamados
de "os mudinhos", esses ministros, que deveriam representar um
contraponto ao crescente ativismo judicial, preferem a passividade. Diante de
tantos abusos cometidos contra a Constituição, suas vozes se tornaram
inaudíveis, contribuindo para a perpetuação do desequilíbrio no tribunal.
Enquanto
Moraes exerce um poder que ultrapassa os limites de sua função, o Congresso
Nacional permanece omisso. O silêncio cúmplice de nossos parlamentares é outro
sintoma da crise institucional que enfrentamos. Diversos pedidos de impeachment
contra o ministro Moraes, apoiados por milhares de assinaturas, foram
protocolados, mas nenhum teve andamento no Congresso. A pergunta que fica é:
até quando a sociedade brasileira permitirá que o Judiciário se sobreponha aos
demais poderes, sem a devida fiscalização?
O caso de
Débora Rodrigues dos Santos é emblemático. Acusada de rabiscar uma frase com
batom em uma estátua de Justiça, foi condenada a uma pena desproporcional para
o crime que cometeu. Além disso, frase
"Perdeu, mané", que Débora escreveu na esfinge, foi originalmente
dita pelo presidente do STF, Luís Roberto Barroso, durante um evento em Nova
Iorque em novembro de 2022, após uma provocação por apoiadores do ex-presidente
Jair Bolsonaro, demonstrando uma clara atuação política. As justificativas para
a sua prisão prolongada baseiam-se na alegada “periculosidade social”, um
argumento frágil e contraditório quando colocado ao lado das ações do MST, o
braço armado e terrorista, criado e
financiado pelo PT, que, ao
longo de décadas, promove invasões de propriedades privadas e públicas,
causando danos patrimoniais significativos e desrespeitando a garantia
constitucional do direito à propriedade privada.
A
Constituição Brasileira, em seu artigo 5º, inciso XXII, é clara ao afirmar que
“é garantido o direito de propriedade”. No entanto, enquanto uma mãe de família
que cometeu um ato simbólico enfrenta a dureza da lei, o MST, responsável por
violar reiteradamente esse direito fundamental, age com relativa impunidade. A
recente invasão da Embrapa em Petrolina é apenas mais um exemplo das muitas
ações promovidas por esse movimento, que raramente sofre as consequências
legais de seus atos.
Muita
gente não sabe ou não quer saber que o governo Lula financia com cargos e
verbas o movimento terrorista. O MST ampliou seus espaços no governo Lula para
garantir verbas para suas campanhas. O ex-coordenador de produção do movimento terrorista,
Milton José Fornazieri, foi nomeado para a Secretaria de Abastecimento,
Cooperativismo e Soberania Alimentar do Ministério do Desenvolvimento Agrário e
Agricultura Familiar (MDA). O deputado federal Valmir Assunção (PT-BA) foi
indicado para a vice-liderança do partido de Lula na Câmara dos Deputados.
Assunção está no seu quarto mandato. Antes disso, participou do trabalho de
base do MST e ocupação de terras no interior da Bahia. Integrou a direção
nacional do MST e se elegeu deputado estadual com a maior votação do estado em
2006. Como vice-líder do PT na Câmara, Assunção participa das reuniões de
liderança, onde são definidas as pautas de votação da Câmara, além de orientar
os votos da bancada.
Já Milton
Fornazieri é responsável por coordenar as ações da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab), que conta com um orçamento de R$ 1,5 bilhão. No MDA, ele
também deverá fiscalizar contratos de crédito fundiário e gerenciar as ações do
governo federal voltadas para a assistência técnica e extensão rural. Aí vem um
argumento dos togados dizer que não se pune ninguém porque não existe uma
personalidade jurídica do movimento. Meu Deus! Nem o barnabé acredita nisso.
A questão
central que se coloca é: quem, de fato, está violando a Constituição? Uma cabeleireira
que escreve com batom em uma estátua ou um movimento organizado que ocupa
propriedades e coloca em risco a segurança jurídica do país? O argumento de que
o MST atua em nome de uma causa social não pode justificar a violação de um
direito fundamental protegido pela Carta Magna. A seletividade com que as leis
são aplicadas não apenas corrói a confiança no sistema de justiça, mas também
coloca em risco a própria noção de igualdade perante a lei.
A
desigualdade de tratamento entre Débora Rodrigues e os integrantes do movimento
terrorista MST é uma afronta aos princípios mais básicos do Direito
Constitucional, aqueles que, ironicamente, estão tão bem expostos nos livros de
Alexandre de Moraes. Ele, que sempre defendeu a isonomia e a legalidade
estrita, hoje aplica a lei de forma seletiva, acumulando funções que vão além
de seu papel constitucional de julgar.
Essa
situação também evidencia a necessidade urgente de reforma no processo de
indicação para o Supremo Tribunal Federal. Atualmente, os ministros do STF são
indicados pelo Presidente da República e ocupam seus cargos até a aposentadoria
compulsória aos 75 anos. Esse modelo tem se mostrado problemático, pois torna o
STF suscetível a influências políticas e promove o acúmulo de poder em uma
única figura por décadas.
O Brasil
precisa de um STF mais técnico, constitucionalista e menos legislador. Uma
reforma que introduza mandatos limitados, de no máximo oito anos, para os
ministros do STF seria uma medida essencial para garantir a rotatividade de
ideias e evitar a criação de "monarcas vitalícios" dentro da mais
alta corte do país. Além disso, a indicação dos ministros deveria ser baseada
em critérios de provas e títulos, priorizando juízes de carreira, que já
possuem uma trajetória de imparcialidade e compromisso com a lei.
A
Constituição deve ser defendida e aplicada de forma equitativa, e o Supremo
Tribunal Federal deve ser um guardião dela, não um órgão que se envolve em
legislações casuísticas ou que se transforma em um superpoder acima dos demais.
A impunidade do MST e a prisão desproporcional de Débora são exemplos de como o
STF, nas mãos de ministros que se afastam de sua função constitucional, tem
falhado em sua missão.
Aqueles
que, como eu, estudaram o Direito Constitucional com base nos ensinamentos de
Alexandre de Moraes, sentem-se profundamente decepcionados ao ver que o autor
dessas obras hoje age como se estivesse acima da Constituição. A revolta é
justificada: o que deveria ser um tribunal constitucionalista está se
transformando em um tribunal legislador, acumulando poderes que jamais deveriam
estar concentrados em uma única instituição.
O
silêncio do Congresso e de ministros indicados para agir como contrapeso, como
Nunes Marques e André Mendonça, é mais um fator que agrava essa situação. Precisamos
de reformas, tanto no STF quanto na forma como o poder é exercido. Precisamos
de um Judiciário que defenda a Constituição, não que a subverta. O Brasil
merece uma justiça verdadeiramente igualitária, onde todos, e não apenas alguns,
sejam tratados de acordo com a lei. Enquanto isso, Debora teve novamente seu
pedido de liberdade negado por Alexandre de Moraes. Na decisão mais recente,
emitida na sexta-feira 27 de setembro, Moraes justificou a manutenção da prisão
alegando a “periculosidade social” de Débora, além de considerar as condutas
atribuídas a ela como “graves” Embora a PGR tenha feito acusações contra a cabeleireira
, até o momento não foram divulgadas evidências de que Débora tenha entrado em
prédios públicos ou participado de outras depredações além da pichação. Não há
também indícios de que ela estivesse armada durante os atos.
Aqui, com
meus botões, me veio a ideia: basta a defesa de Debora alegar, em novo pedido
de liberdade, que a mulher estava apenas reforçando a frase do ministro Barroso,
dando um destaque especial para ele. Quem sabe os togados comprem a ideia e
libertem a acusada. Taí. a dica!
Enquanto
isso, Macaé Evaristo, ministra dos Direitos Humanos corre para se defender das
acusações de desvio de dinheiro publico e esquece de sua função.
Tá difícil! Mas tem saída.
Rubens
Nascimento
é jornalista, formado em Direito, M.M Maçom e ativista do desenvolvimento.
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