Domingo, 1 de setembro de 2013 - 05h55
João Baptista Herkenhoff
Dom Luís Gonzaga Fernandes faleceu no Estado da Paraíba, no dia 4 de abril de 2003. Esta página foi escrita no ano de 2000, quando Dom Luís completou 50 anos de sacerdócio e 35 anos de Bispo. A Comissão do Prêmio Dom Luís entendeu de bom conselho republicar o texto agora, quando mais uma vez o Prêmio está sendo outorgado. Indagou se eu desejaria atualizar o escrito. Não me pareceu que essa atualização seja necessária e conveniente. Creio que a publicação ipsis litteris torna este artigo-testemunho mais autêntico:
Nós tivemos a presença de Dom Luis Gonzaga Fernandes como Bispo Auxiliar de Vitória, durante 15 anos.
Quando foi nomeado para Campina Grande, essa transferência nos desagradou. Lembramo-nos dos primeiros tempos do Cristianismo, quando as comunidades cristãs escolhiam seus Bispos. Sentimo-nos feridos porque fomos despojados de nosso Bispo, sem qualquer consulta a nossas opiniões.
Mas D. Luis foi para Campina Grande e ali ficou. Completa agora seus 50 anos de sacerdócio e 35 de Bispo.
Durante todo esse tempo, desde Vitória, D. Luis compreendeu que o Bispo não é apenas um pastor local. O bispo tem, ao lado de seu compromisso diocesano, um compromisso universal. O Bispo é um peregrino e seu destino é caminhar.
Vejo em Dom Luis uma dupla dimensão: de um lado, é um espírito universal, um homem ligado a seu tempo e preocupado com o destino de sua região, do seu país, da América Latina, do mundo e, dentro do mundo, especialmente preocupado com os países pobres e os pobres dos países pobres.
De outro lado, D. Luis é o nordestino, tem a fibra nordestina, capaz de vencer qualquer barreira, de esperar qualquer espera, fiado não no provérbio popular (Deus tarda mas não falha), porém num outro provérbio ainda mais rico de esperança (Deus nunca tarda, nós é que somos apressados).
A fraternidade, a meu ver, é a linha fundamental do Bispo e do homem Luis. Mas não uma fraternidade estreita (mesmo assim elogiável). Mais que isso: uma fraternidade ampla – fraternidade através do social, fraternidade através do universal, fraternidade através do político.
Sempre vi e continuo vendo em D. Luis a figura do profeta. Aquele que nunca se omite quando deve anunciar a Justiça e denunciar a injustiça, quando deve proclamar a libertação e profligar a opressão.
Outro traço notável em D. Luis é sua capacidade de valorizar as pessoas. Tem a percuciência de identificar os dons de cada um e de fazer com que frutifique toda a potencialidade de seus colaboradores.
Bispo comprometido com o povo, com as grandes multidões marginalizadas. Comprometido com essas multidões para solidarizar-se com o seu sofrimento e buscar a superação desses sofrimentos porque Deus nos criou para sermos felizes. Compromissado com os marginalizados, não para lhes oferecer esmolas que aviltam, mas para convocar os marginalizados e os que lutam pela justiça, ao lado dos oprimidos, no sentido de se fazer uma grande cruzada de transformação social. “Pobres sempre tereis convosco” gostam de dizer os conservadores, citando as palavras de Jesus Cristo, ditas num contexto muito diferente daquele em que se pretende localizá-las. Até que podemos ter pobres, sim, pessoas de poucas posses porque podemos ser felizes com pouco. Mas “miserável” é muito diferente de “pobre”. Miserável é uma blasfêmia, permitimos que haja miseráveis é negarmos o plano de Deus.
A D. Luis agradeço ter sido chamado para integrar a Comissão “Justiça e Paz” da Arquidiocese de Vitória. Foi o fato mais relevante de minha vida. Na Comissão de Justiça e Paz aprendi mais Direito do que na Universidade e nos livros. Se algum fruto daí resultou, se algum livro válido escrevi, se no magistério ensinei “lições de cidadania”, se como juiz pude fazer justiça, e “ouvir os clamores do povo” tudo isso aconteceu porque recebi o “batismo” da Comissão de Justiça e Paz, porque com os companheiros de caminhada e com o povo sofredor vi luzir, na escuridão, a Estrela Matutina.
Saúdo D. Luis Gonzaga Fernandes no seu jubileu sacerdotal. O tempo passou e parece que o Pai nos concedeu a graça da fidelidade aos grandes ideais. Vamos construir agora nossa tenda e, sob a luz da passagem bíblica, sentir como é bom estar junto, partilhar, fazer projetos de mundo.
João Baptista Herkenhoff, Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo, magistrado aposentado e escritor.
E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2197242784380520
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